Do Valor
Com preço menor, UE ganha espaço na importação brasileira
Marta Watanabe | De São Paulo
21/09/2010
A desvalorização do euro em relação ao dólar ajudou a União Europeia (UE) a ganhar competitividade na exportação de produtos ao Brasil. Os países europeus não chegam a ultrapassar o desempenho da China, mas ganham competitividade em relação aos Estados Unidos (EUA) na disputa por um mercado brasileiro que passou a importar volumes maiores que os do período pré-crise.
De janeiro a junho deste ano, o total das importações brasileiras cresceu 9,1% em volume na comparação com o primeiro semestre de 2008, quando o mercado nacional ainda estava aquecido, antes dos efeitos da crise financeira na economia real. No mesmo período, os desembarques originados da UE cresceram mais que a média, 11,1%. A elevação é menor que a da China, de 23,2%, mas maior que os 8,1% dos Estados Unidos.
NoitNo item de bens de capital e na mesma base de comparação, o volume de máquinas importadas da UE teve aumento de 22,1%, acima dos 19,2% da China e dos 18,5% do total de bens de capital importados pelo Brasil. Os EUA tiveram aumento de apenas 1,31% (ver tabela acima). O desempenho da zona do euro também foi melhor que o dos EUA nos bens intermediários e nos de consumo. Os dados são baseados nos índices levantados pela Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex).
A forte importação brasileira, diz Felipe Salto, economista da Tendências Consultoria, deve-se à diferença no ritmo de crescimento do Brasil em relação a outros países. Um mercado interno mais acelerado no Brasil, diz, dá origem a um quadro de competição para exportar ao país.
Júlio Callegari, economista do JP Morgan, lembra que o mercado europeu passou por forte desaceleração no ano passado e experimenta este ano uma recuperação apenas parcial. No ano passado, diz, a economia da zona do euro caiu 4% e a previsão da consultoria para este ano é de crescimento restrito a 1,7%.
Ao mesmo tempo, a desvalorização do euro favorece as vendas ao exterior. “O euro vinha se fortalecendo até 2008, mas essa tendência foi revertida no pós-crise, com uma depreciação muito clara na comparação do primeiro semestre deste ano em relação ao do ano retrasado”, diz Callegari. A desvalorização do euro em relação ao dólar nesse período, lembra, alcançou 13%.
“O elevado grau de ociosidade nos países europeus, em função do baixo crescimento econômico, combinado com a desvalorização da moeda, permite o desconto nos preços de exportação”, diz Callegari. “A desvalorização permite que os preços sejam reduzidos sem que as exportações percam muita margem”, concorda José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).
Callegari lembra que nem sempre há concorrência entre os produtos europeus, chineses e americanos. O quadro atual, contudo, pode dar vantagem à União Europeia para alguns segmentos. “Por exemplo, em bens de capital a Alemanha e a Itália, são fabricantes tradicionais.”
Os preços médios do total de bens de capital importados pelo Brasil caíram 4,1% de janeiro a junho deste ano na comparação com os primeiros seis meses de 2008. No mesmo período, a queda dos preços desses bens originados da UE foi maior, de 10,2%, enquanto a redução da China ficou em 3,4%. Os preços dos bens de capital dos EUA cresceram 3,5%. Nos bens de consumo duráveis, os importados pelo Brasil originados da UE chegaram com preços 9,4% mais baixos enquanto os mesmos tipos de bens da China tiveram aumento de 2,8%. Levando em conta todas as categorias de uso, os bens da zona do euro chegaram ao Brasil com redução de 6,1% nos preços médios enquanto os da China ficaram com queda de 2,5%. Na média, os produtos “made in USA” tiveram redução de preços de 1,63%.
“Mas não há competição entre a Europa e a China em muitos itens”, lembra Castro. Mesmo com o quadro, a importação brasileira de bens duráveis originados da China aumentou em 70,9% em volume no primeiro semestre de 2010 em relação ao mesmo período de 2008. Na mesma comparação, o volume de importação desse tipo de item originado da UE cresceu 42,3%. Um desempenho abaixo da média do volume total de duráveis importados pelo Brasil no período, que cresceu 46,6% (inflado pela China), mas superior aos 5,6% dos EUA.
Além da valorização do dólar frente ao euro, o que facilitou também as importações brasileiras da UE, lembra Castro, é o grande nível de comércio entre empresas do mesmo grupo entre o Brasil e os países europeus. “Estima-se que os negócios intercompany representam cerca de 70% das trocas internacionais e isso é representativo no comércio entre o país e a UE”, acrescenta o executivo da AEB.
Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.
Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.