O déficit recorde das contas externas

Coluna Econômica – 23/04/2010

Há uma visão imprudentemente otimista em relação ao aumento do défcit em transações correntes brasileiro.

O câmbio apreciado gerou um forte aumento no déficit. Nos doze meses terminados em março o déficit ficou em US$ 31,5 bilhões, ou 1,79% do PIB. A previsão é que 2010 fecha com um déficit da ordem de 2,5% do PIB.

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Em qualquer Banco Central responsável acenderia a luz amarela e se trataria de amenizar a apreciação cambial. Com o real forte, aumentam as viagens internacionais, as importações e reduzem-se as exportações.

Em vez de agir com a responsabilidade que se exige da mais alta autoridade monetária, o BC mais uma vez minimizou o problema.

O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, sustentou que o déficit se deve ao fato da economia brasileira estar bombando (o que exige mais importações) e a economia mundial estar em recessão (o que diminui o mercado exportador). À medida que haja recuperação da economia mundial, as contas voltariam ao normal, segundo ele.

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Não é bem assim. Nos próximos anos, em função dos investimentos no pré-sal, aumentarão as pressões sobre as importações. Em outros períodos da história do país, contas externas desequilibradas abortaram condições de crescimento, por conta da dificuldade em financiar exportações. Nos anos 50 houve uma crise continuada por conta desse movimento. No segundo semestre de 1994 foi abortada a melhor oportunidade de crescimento sustentado do país, devido aos rombos provocados pela apreciação cambial.

O pré-sal terá duas etapas. A primeira, de investimento pesado, pressionará substancialmente as importações. Só no segundo tempo a produção de petróleo compensará parte dos desequilíbrios externos.

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O problema maior do BC é não entender que as consequências do câmbio apreciado transcendem a mera questão do financiamento das contas externas. É a mesma coisa que um médico que não se importa que um paciente fique com anemia, porque existem formas de mantê-lo vivo com remédios e vitaminas.

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Hoje em dia, por exemplo, há um enorme desafio para convencer as empresas a investirem em tecnologia própria e inovação. Na hora de decidir pelo investimento, a empresa irá comparar o custo do desenvolvimento com o que ganharia meramente importando máquinas ou produtos finais. Com o real apreciado, o preço do importado derruba as avaliações da companhia para investir em desenvolvimento próprio.

É esse movimento que está levando parte da indústria de máquinas e equipamentos a se transformar em mero revendedor de produtos chineses. As empresas mantém seu lucro, reduzem o emprego e abrem mão de qualquer tentativa de competir com os importados.

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Nenhum país se tornou grande dependendo exclusivamente da produção de primários – produtos agrícolas ou minerais. Esta é apenas a primeira etapa. Na segunda, tem que se buscar a manufatura, o desenvolvimento tecnológico, a inovação, a conquista do mercado externo.

Ano após ano, desde o fatídico julho de 1994, sucessivos presidentes têm impedido esse salto final da economia.

Luis Nassif

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