O desafio de construir um discurso novo

Coluna Econômica 14/04/2010

Ainda não está claro qual será a proposta do candidato José Serra para ser o pós-Lula. Há dois desafios pela frente. O primeiro, apresentar propostas que se diferenciem do modelo Lula de governar. O segundo, explicar as críticas anteriores ao modelo.

O problema maior é que, nos últimos anos, o PSDB deixou de lado propostas e programas e enveredou por um caminho de criticar todos os aspectos da política econômica de Lula.

Nesse período, parte da grande imprensa tornou-se o porta-voz de fato do partido. E o discurso colocado em prática era de defesa do neoliberalismo exacerbado.

Como desdizer, agora, o que já foi dito?

***

Vamos a alguns pontos essenciais de discussão:

1. Papel do Estado.

Em todo esse período, pulularam as críticas contra o ativismo da política industrial, contra o projeto do pré-sal, contra o fortalecimento das empresas públicas – Petrobras, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal -, sem a preocupação de diferenciar aparelhamento de Estado de ação de Estado.

A crise econômica desmontou esses argumentos. As medidas tomadas e o papel conferido aos bancos públicos foi essencial para reduzir o impacto da crise global no Brasil. Hoje em dia, há um retorno do conceito de política industrial mesmo em países que se converteram na meca do neoliberalismo – como Estados Unidos e Inglaterra.

2. Bolsa Família e salário mínimo.

A campanha contra o programa foi intensa. Foi transformado em “Bolsa Esmola”. Aliados próximos a Serra – como o ex-governador de Pernambuco Jarbas Vasconcellos e o atual governador Alberto Goldman (através de sua esposa) – deixaram explícitas as críticas contra o Bolsa Família. For

Hoje em dia, há consenso de que a inclusão social, possibilitada pelos dois programas, permitiu a criação de um novo mercado de consumo popular que está mudando a face de regiões inteiras, além de ter sido elemento fundamental para impedir o aprofundamento da crise. Como desdizer os ataques ao programa?

3. Minha Casa, Minha Vida.

No próprio discurso de lançamento de seu nome, Serra chamou o programa habitacional do governo de “estelionato”. Quando se conversa com grandes construtoras – como a Odebrecht – fica-se sabendo que só não se constroem mais casas por absoluta falta de mão-de-obra. Ou seja, o programa conseguiu ocupar a capacidade instalada da indústria da construção no país.

4. Política cambial.

O grande erro do governo Lula, permitindo a invasão de produtos chineses, asfixiando a indústria de máquinas e equipamentos do país, esmagando as exportações de manufaturados. Mas a posição do Banco Central no período, apoiada por Lula, foi também enaltecida por toda a mídia aliada a Serra. Os principais economistas do PSDBB defenderam com unhas e dentes a autonomia do BC e a idéia errônea de que o câmbio é fixado pelo mercado.

Serra passou a explicitar uma crítica contra a política – que, antes, nunca teve coragem de formular de maneira aberta, a não ser em ocasiões raras. Mas como convencer seus eleitores de que tudo o que o PSDB disse a respeito da “herança bendita” do BC estava errado?

Luis Nassif

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