O espaço da indústria e o crescimento

Do Valor

Para Iedi, perda de espaço da indústria na economia pode ameaçar crescimento

Sergio Lamucci | De São Paulo
14/12/2010 

A indústria de transformação brasileira perde espaço na produção da economia brasileira e mundial, tendência que pode ameaçar a consolidação de ritmo de crescimento mais expressivo nos próximos anos, adverte, em estudo, o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). Enquanto no Brasil a fatia do setor no Produto Interno Bruto (PIB) está em queda, recuando da casa de 30% nos anos 70 para um nivel inferior a 24%, ela mantém trajetória de alta em países asiáticos que há décadas crescem a taxas elevadas. Na Coreia do Sul, está em 38% e na China, próximo de 53%. Os números são da Organização das Nações Unidas (ONU), a preços em dólares de 1990 (ver gráfico).

Para o presidente do Iedi, Pedro Passos, a situação brasileira é reversível, mas exigirá um esforço que passa não só por mudar o quadro de câmbio valorizado, mas também por medidas como a redução do custo financeiro na economia e dos encargos sobre a mão de obra e pela melhora dos sistemas de logística e da inovação empresarial. 

OestO estudo ressalta a importância do bom desempenho da indústria de transformação para a expansão recente da economia brasileira, ao analisar o resultado de uma série de 54 resultados para o crescimento do PIB brasileiro acumulado em quatro trimestres entre o começo de 1997 e junho de 2010. “Nesse período, em apenas 12 trimestres o aumento do PIB superou 5% em bases anuais, e em todos esses trimestres a indústria de transformação cresceu em percentuais próximos ou superiores. Em oito desses trimestres, o crescimento da indústria de transformação situou-se entre 6% e 9%”, destaca o Iedi.

Para o economista-chefe do instituto, Rogério César de Souza, os números indicam que, para promover uma expansão a taxas robustas, é fundamental que a indústria de transformação avance a passos rápidos. Souza diz que países com taxas robustas de crescimento “tiveram na indústria o principal apoio”.

Segundo o estudo, “China, Coreia do Sul, Indonésia, Índia, Malásia, Tailândia e Irlanda, todos com taxas médias anuais de expansão superiores a 5% ao ano entre os anos de 1970 e 2007, tiveram aumentos relevantes na participação de seus setores industriais no PIB. No outro extremo, países já industrializados e várias economias latino-americanas, dentre elas o Brasil, tiveram médias de crescimento abaixo de 5% ao ano e declinantes participações nos respectivos PIBs.”

Na China, a fatia da indústria de transformação no valor adicionado total da economia pulou da casa de 35% no começo dos anos 80 para 52,9% em 2007. Na Coreia, a participação passou de 20% nos anos 80 para 38,4% em 2007. Nesse cenário, a participação do Brasil no valor adicionado da indústria de transformação global caiu da casa de mais de 3% no começo dos anos 80 para os 2,2% de 2007.

Outro sinal que preocupa Passos e Souza é o comportamento da balança da indústria de transformação. Em 2006, havia superávit bastante expressivo, na casa de US$ 30 bilhões. Em 2008, o resultado entrou no vermelho, atingindo déficit de US$ 7,1 bilhões, que se ampliou para US$ 8,3 bilhões em 2009. De janeiro a setembro de 2010, o rombo foi de US$ 25,8 bilhões. “Isso revela um processo intenso e rápido de deterioração da competitividade do setor”, diz Souza, atribuindo à valorização do câmbio a maior responsabilidade por essa piora.

Para o Iedi, o fortalecimento do real tem no diferencial de juros internos e externos uma de suas principais causas. “Não é o saldo comercial do agronegócio e da mineração que vem determinando a valorização da moeda”, afirma Souza, para quem não há oposição entre agricultura e indústria ou entre a economia industrial e a de commodities, tampouco existindo a necessidade de o país optar por uma especialização num desses segmentos. “O êxito simultâneo da indústria e dos demais setores é perfeitamente possível, considerando-se, evidentemente, a obtenção de uma taxa de câmbio competitiva”, destaca o estudo.

Para Passos, o papel do câmbio tem sido relevante para explicar a perda de importância da indústria de transformação. “Em primeiro lugar, a tendência do real tem sido de valorização, exceto em momentos de crise, como em 1999, 2002 e 2008. E há uma grande flutuação do câmbio, o que também atinge a competitividade.” Segundo ele, esses problemas do câmbio afetam especialmente a competitividade da indústria, que não conta com preços internacionais favoráveis na mesma intensidade que os setores que produzem commodities.

Passos diz que não há uma solução única para reverter esse quadro para a indústria. Mexer no câmbio é importante, mas também é fundamental diminuir o custo financeiro e tornar menos pesado os encargos que encarecem a mão de obra, assim como melhorar a logística. Ele destaca ainda a necessidade de “políticas voltadas à indústria, à inovação empresarial e à sustentabilidade”. Outro ponto crucial é o país desenvolver um regime mais avançado de financiamento de longo prazo. “É importante algo que contemple, além do BNDES, mecanismos voluntários de crédito bancário longo e de instrumentos do mercado de capitais.” 

Luis Nassif

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