O futuro da balança comercial brasileira

Do Valor

Bancos projetam déficit na balança comercial brasileira em 2012 

Assis Moreira | De Genebra
08/04/2011 

Projeções de bancos apontam para uma forte redução no superávit da balança comercial do Brasil este ano e possível déficit já no ano que vem. A tendência de diminuição maior do saldo é reforçada por estatísticas da Organização Mundial do Comércio (OMC), mostrando o país como um dos campeões de importações em 2010, em meio ao real valorizado.

No ano passado, a alta de preços das commodities elevou as receitas do Brasil e contribuiu para a explosão das importações, diz a OMC. As compras de produtos estrangeiros aumentaram 38% em volume, ou seja, em termos reais (excluindo variação de preço e câmbio), comparado a 39% da China. Em valor, a alta das importações brasileiras foi de 43%, o dobro da média mundial de 21%. Os preços dos produtos importados pelo Brasil foram 3% mais elevados que no ano anterior.

NaseNas exportações, o país foi também um dos campeões mundiais em valor, com alta de 32% em 2010. Já em termos reais (volume), a expansão das vendas brasileiras de 10,9% foi inferior à alta média das exportações mundiais de 14,5%. Os preços dos exportados brasileiros subiram 19%.

A alta das importações deve continuar este ano em ritmo maior que a das exportações. A entidade que representa os maiores bancos do mundo, o Instituto Internacional de Finanças (IIF), apresenta a projeção mais pessimista. Acha que o saldo comercial do Brasil cairá pela metade este ano e se tornará negativo em 2012.

Ou seja, depois de ter registrado saldo de US$ 46,4 bilhões em 2006, declinando gradualmente para US$ 20,2 bilhões no ano passado, a projeção é de o montante cair para US$ 11,6 bilhões este ano. E ano que vem viraria para o negativo em US$ 4,5 bilhões, quando as importações superariam as exportações pela primeira vez em muito tempo. O IIF projeta crescimento econômico de 4% este ano e de 4,7% ano que vem, e taxa média de câmbio de R$ 1,69 este ano e R$ 1,79 em 2012.

Já o Deutsche Bank é menos pessimista. Projeta saldo de US$ 17 bilhões este ano (0,7% do PIB) e uma queda forte para US$ 8 bilhões em 2012 (0,3% do PIB). Nesse cenário, as importações aumentariam 20% no que vem.

Pascal Lamy, diretor-geral da OMC, minimizou a possibilidade de o Brasil entrar num período de déficit da balança comercial. Estimou que o país precisa importar muitos equipamentos, tem uma demanda de consumo forte e considera que “mais importante que déficit ou superavit é a capacidade de agregar valor às exportações e de criar empregos e nisso acho que o país não está mal”.

Dados da OMC mostram que os emergentes aumentam sua fatia nas exportações, mas seu saldo comercial vem declinando, enquanto a situação é inversa para nações desenvolvidas. Ou seja, na prática, está ocorrendo um reequilíbrio global.

O déficit comercial dos Estados Unidos foi de US$ 690 bilhões em 2010, inferior em 22% aos US$ 882 bilhões de 2008, no começo da crise global. Por sua vez, a União Europeia registrou déficit com o resto do mundo no valor de US$ 190 bilhões, ou 49% a menos do que em 2008. Já a China viu seu saldo comercial ficar em US$ 183 bilhões, ou 39% a menos do que em 2008 quando foi de US$ 300 bilhões.

A OMC constata que “a forte apreciação nominal do real (12%) e do won coreano (10%) em relação ao dólar foi acompanhada de uma forte valorização efetiva real (15% e 9% respectivamente), encarecendo os produtos desses países em relação aos produtos exportados por outros países”, e de outro lado facilitando as importações.

Lamy admite que o Brasil tem um problema com a valorização excessiva do real no curto prazo, mas considera ser normal que no médio e longo prazos os emergentes tenham moeda forte diante da evolução de suas economias.

“No médio e longo prazos, os economistas dizem que essas variações (do câmbio) sobre médio e longo termo não têm impacto notável sobre o fluxo de comércio”, disse Lamy, dando ênfase a aspectos macroeconômicos

Ele ressalvou, porém: “No curto prazo, é verdade que pode haver movimento de moedas que alguns dizem que é demais e não estou longe de pensar que se o sistema monetário internacional fosse mais estável e disciplinado, isso contribuiria para a estabilidade do sistema comercial internacional.” Ele observou que o real é valorizado porque o país “cresce rápido e fortemente, a taxa de juros é elevada e tem efeito de atrair capital em busca de rendimento interessante e pode acentuar a taxa de câmbio” 

Luis Nassif

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador