O grande Mr Link

Por Miguel

Obrigado, Nassif,

Se possível agradeceria um post aprofundando mais esse assunto (Mr. Link). Principalmente, agora, que foi requentado pelo Mainardi. Acho que o desconhecimento é grande.

A Petrobras e o desenvolvimento

LUÍS NASSIF
04 de outubro de 2003

O cinquentenário na Petrobras não é apenas a celebração da empresa que se fez, de seu papel no próprio processo de industrialização brasileira, no aprimoramento da gestão de seus fornecedores, no investimento intensivo em tecnologia.

Mais do que tudo, é motivo para recuperar o espírito desenvolvimentista que se implantou no país a partir do pós-guerra e se manteve até o final dos anos 70.

É impressionante a variedade dos grupos políticos, sindicais, empresariais que se envolveram na campanha do “petróleo é nosso”, mesmo militando em trincheiras diferentes.

Havia os militares, com ampla noção de planejamento estratégico, alicerçados na figura do general Horta Barbosa. O Partido Comunista teve papel central na mobilização da população, por meio de pessoas que estão aí, ainda enriquecendo as associações cariocas, como Henrique Miranda e Maria Tibiriçá Botelho, os velhos positivistas que ainda tinham influência no pensamento militar da época. Os jornalistas tiveram papel essencial por meio da imprensa alternativa, juntando o brilho do texto de Gondim da Fonseca ao de Joel Silveira, Raphael Correa de Oliveira. A políticos nacionalistas de velha cepa, como o ex-presidente Arthur Bernardes, se somaram, depois, os udenistas de Bilac Pinto.

E, acima de tudo, havia os politécnicos, as pessoas com conhecimento amplo, que alicerçaram o debate e permitiram que a mobilização popular se traduzisse em um modelo consistente, ao defender a verticalização da empresa -essencial, naquela quadra da história, para garantir sua sobrevivência.

Do lado administrativo, sobressai a figura do grande Rômulo de Almeida, da assessoria econômica de Vargas, que propunha uma empresa estatal, mas não monopolista. Do lado técnico, papel fundamental foi exercido por Fernando Luiz Lobo Carneiro, do Coppe -que, anos depois, se notabilizaria pelos estudos sobre prospecção em águas profundas. Anos atrás escrevi sobre esse personagem essencial e tive a honra de receber um bilhete assinado por ele, pouco antes de morrer. Foram os trabalhos técnicos de Lobo Carneiro que convenceram Mário Bittencourt Sampaio, que, por sua vez, convenceu o engenheiro e deputado Maurício Joppert -trazendo a UDN para a tese da criação da Petrobras.

Depois, na fase inicial, personagem dos mais relevantes -e injustiçados- foi o famoso mr. Link, geólogo americano aposentado que foi contratado para desenvolver a área de geologia da empresa.

Foi Link quem impediu que a Petrobras se afundasse em uma aventura amazônica que provavelmente iria consumir todos os seus recursos. Foi ele quem primeiro alertou para o fato de que o potencial petrolífero brasileiro estava na costa, não do interior da Amazônia, e que levaria algum tempo para que houvesse tecnologia disponível para a exploração. Link foi praticamente o pai da escola de geólogos da Petrobras, que ganharia excelência técnica reconhecida internacionalmente.

Todos -de udenistas a comunistas, de liberais e intervencionistas- tinham em comum a busca do desenvolvimento brasileiro. Que o cinquentenário da empresa acenda de novo essa chama.

Tributo a mr. Link

LUÍS NASSIF
07 de outubro de 2003

Do geólogo José Coutinho Barbosa, 38 anos de Petrobras, presidente por curto tempo em 1999 e, depois, diretor de Exploração e Produção, recebo o e-mail a seguir:

“Sua coluna da referência representa, de fato, a verdadeira homenagem da imprensa à Petrobras, pois nenhuma outra reportagem teve conteúdo tão preciso e verdadeiro. Sua referência a mr. Walter Link deixou-me sobremaneira feliz. Quantas inverdades, cunhadas em preconceitos e desconhecimento, têm sido divulgadas sobre esse notável personagem.
Link estruturou a Petrobras em moldes tão modernos que seus fundamentos permanecem até o presente. O então distrito é hoje a unidade de negócios; o geólogo do distrito agora é o gerente-geral da UN; orçamentos e programas físicos eram negociados entre sede e os distritos, que tinham bastante autonomia e flexibilidade.
Link assumiu em 1954 e já em 1955 selecionou e enviou técnicos brasileiros para cursos de dois anos nas melhores universidades americanas. Link atuou sem datas a celebrar, pois sua missão era organizar, treinar o pessoal e ao mesmo tempo avaliar todas as nossas áreas sedimentares terrestres, sem preocupação com descobertas fáceis que gerassem manchetes.

A ênfase no treinamento e aperfeiçoamento de pessoal felizmente foi continuada nas administrações subsequentes, notadamente por Carlos Walter Marinho Campos, um dos jovens que Link enviou na década de 50 para o Colorado School of Mines.

O tão falado Relatório Link, contendo a avaliação geológica de nossas bacias sedimentares, foi elaborado pelos geólogos que chefiavam os distritos de exploração, dos quais seis eram brasileiros e oito estrangeiros, todos assessorados pelos respectivos estafes.

Com base nos dados existentes à época (1960), as bacias geológicas foram classificadas em A, B, C e D, sendo A bacias com descobertas comerciais (Recôncavo) e D áreas consideradas sem possibilidades e nas quais as atividades exploratórias deveriam ser encerradas. Como D, foram classificadas as bacias paleozóicas do Amazonas, à exceção do Médio Amazonas, devido às ocorrências de petróleo subcomercial em Autas Mirim e Nova Olinda, bacia paleozóica do Paraná, que se estende pelos Estados do Sul, vindo até São Paulo, bacia cretácea de Barreirinhas (MA), bacia do Maranhão, Acre etc.

Geologia não é ciência exata, porém os acertos das conclusões contidas no Relatório ultrapassam de longe os eventuais enganos, e, acima de tudo, como você mostra em sua coluna, Link salvou a Petrobras de esgotar seus recursos nas bacias de idade paleozóica, tipo D.

Ao final Link, recomendava direcionar recursos para países nos quais concessões poderiam ser obtidas e as chances de encontrar petróleo eram boas. Doze anos depois, em 1972, na administração do general Ernesto Geisel, a Petrobras deu cumprimento àquela recomendação, criando a Braspetro, que logo no primeiro ano de atuação encontrou dois campos gigantes no Iraque.

Está na hora de a Petrobras dar o devido reconhecimento a um grande homem, um brasileiro que criou tantas ligações com o Brasil, que voltou para seu país levando duas crianças brasileiras adotadas”.

Luis Nassif

3 Comentários

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  1. É fato que há problema no
    É fato que há problema no LINK do novo blog Luis Nassif. Não funciona. O Mainardi da Veja Bem está envolvido? Esse Mainardi é terrível. Dantesco.

  2. O “grande Mr. Link” chegou a
    O “grande Mr. Link” chegou a afirmar que não havia petróleo no Brasil, e sugeriu que se investisse em pesquisas fora do país. Ele queria era legitimar um acordo com a Esso!!! Francisco Mangabeira, que foi presidente da Petrobrás logo que Link saiu do departamento de exploração, afirma que se houvéssemos acreditado no Relatório Link, a Petrobrás teria deixado de existir!!!
    Personagem “relevante e injustiçado”! Faz-me rir.

  3. Mr Link foi fundamental para
    Mr Link foi fundamental para tornar a Petrobras o gigante que é hoje. Criou a base de geólogos e impediu que a empresa se afundasse na aventura amazônica.

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