O PIB e o “crescimento chinês”

Coluna Econômica – 09/06/2010

Ontem saíram os dados do PIB (Produto Interno Bruto), divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

O terrorismo foi instantâneo. Defensora intransigente de qualquer argumento em favor dos juros altos, a o IBRE (Instituto Brasileiro de Economia) da Fundação Getúlio Vargas alertou para o “ritmo chinês” de crescimento. 

A nota que saiu de lá alertava: “O resultado do PIB, divulgado hoje, pelo IBGE apontou crescimento recorde da economia brasileira no primeiro trimestre de 2010. Nos três primeiros meses do ano, a soma dos bens e serviços produzidos no país cresceu 9% em relação a igual período de 2009, maior taxa já registrada desde 1995. Segundo o professor de finanças e economia da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas (EBAPE – FGV), Rogério Sobreira, o resultado aponta uma expansão magnífica, porém é preciso estar atento aos riscos relacionados ao crescimento exacerbado. “O resultado mostra que a economia brasileira se recupera com exuberância, porém a questão que se coloca é até que ponto o país suportará um crescimento como esse. Abrimos o debate sobre o nosso potencial de expansão, pois há o risco de bolha e inflação. Manter esse ritmo sem pressionar preços é impossível. A economia brasileira não está preparada para crescer no ritmo chinês.” 

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Não há nenhuma evidência de que esse ritmo se manterá no segundo semestre, por razões óbvias:

No primeiro trimestre, a comparação foi com um período de economia estagnada, que foi o primeiro trimestre do ano passado. 

Parte do aquecimento do primeiro trimestre se deveu ao fim das isenções de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para automóveis e linha branca. Os fabricantes aceleraram as vendas. Com isso houve antecipação do consumo. O que significa que nos próximos meses as vendas estarão inclusive abaixo do seu potencial, até que se dissolva a bolha do primeiro trimestre. 

Além disso, houve recomposição de estoques. A economia andava a, digamos 50. Os estoques eram de 50. Se a economia passa a 80, nos primeiros meses, além da reposição de 80 (para garantir o capital de giro do mês) há uma recomposição dos estoques. Há uma dupla compra. Depois de recompostos os estoques, volta-se ao novo ritmo de compras, maior do que no período anterior, mas menor do que no primeiro trimestre. 

A crise européia reduzirá as perspectivas de crescimento do PIB mundial. Com isso, haverá maior oferta interna de produtos antes exportados e menor pressão sobre as commodities. 
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As consultorias que dispensam trabalho político, cujas análises servem efetivamente para orientar seus clientes, apostam que no final do ano o PIB estará  crescendo (na ponta) a um ritmo de 4 a 4,5% ao ano, dentro de parâmetros plenamente suportáveis.

O alarido em torno do “crescimento chinês” tem um único objetivo: convalidar a nova alta dos juros pelo COPOM (Comitê de Política Monetária do Banco Central). 

Luis Nassif

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