O preço do aço como fator de desindustrialização

Por Sérgio Navas

A SIDERURGIA E A DESINDUSTRIALIZAÇAO BRASILEIRA. 02/06/2011

Os altos preços praticados pelo setor siderúrgico, em comparação à média mundial, é um dos principais fatores da desindustrialização do setor metalúrgico.

A grande maioria dos produtos siderúrgicos são insumos destinados à fabricação de inúmeros manufaturados, tanto na construção civil quanto na mecânica, sejam eles planos ou longos.

Tomando-se como referência o aço laminado a quente, a hierarquia dos produtos considerados pelo Sistema Harmonizado, é a seguinte:

NCM/SH 7213 e NCM/SH 7214 = Fio Máquina e Barras Obtidos pelos processos de deformação plástica a quente.

NCM/SH7215 e NCM/SH 7217 = Fios de Aço e Barras obtidos pelos processos de deformação plástica a frio.

NCM 7300/7320 = Manufaturados diversos, derivados dos códigos acima mencionados.

Para exemplificar, citamos dois produtos: um de construção civil e outro de construção mecânica:

Construção Civil = NCM/SH 7308.40.00 = Material para andaimes, para armações e para escoramentos.

Muitos desses manufaturados derivam de fios e barras de aço, obtidos pelo processo de deformação plástica a frio (NCM/SH 7215/17), que por sua vez, derivam de fio máquina e barras laminados a quente (NCM/SH 7213/14).

As usinas siderúrgicas produtoras do fio máquina apropriado dificultam sua oferta, com o objetivo de dominarem a produção dos principais derivados da cadeia, para, assim, limitarem a concorrência e terem domínio absoluto sobre seus preços, a exemplo do ocorrido com o fio máquina laminado a quente.

Cumpre lembrar que na hierarquia dos produtos siderúrgicos, o ferro ou aço destinado a fabricação de armaduras de concreto armado é um dos produtos de maior consumo e de menor valor agregado, o que o torna referência mundial na formação de preços de toda cadeia.

Construção Mecânica = NCM/SH 7318 – Parafusos, pinos ou pernos, roscados, porcas, tira-fundos, ganchos roscados, rebites, chavetas, cavilhas, contrapinos, arruelas (incluídas as de pressão) e artefatos semelhantes, de ferro fundido, ferro ou aço.

Diversos manufaturados dessa posição também derivam diretamente de fios de aço obtidos pelo processo de deformação plástica a frio, e, estes, do fio máquina e barras laminadas obtidos pelo processo de deformação plástica a quente, porém as dificuldades de abastecimento são causadas pelos altos preços praticados no mercado interno, reflexo da similaridade (composição química) de seus semi-acabados com os da construção civil (barras e fios de aço destinados à armadura de concreto armado).

Como os preços internacionais são formados segundo a lógica da cadeia produtiva e, em média, são 50% mais baratos do que os praticados no Brasil, os fabricantes nacionais dependentes desses insumos diminuem ou param sua produção, passando a importar e revender o manufaturado.

A importação do manufaturado diminui o consumo de semi-acabados, levando o setor siderúrgico a diminuir produção ou exportar para manter os preços elevados.

Para ilustrar transcrevemos abaixo as importações e exportações da cadeia acima mencionada de janeiro a abril de 2011, segundo dados obtidos através do sistema Alice do MDIC.

NCM/SH Importação Preço Médio/kg Exportação Preço Médio/Kg

7213/7214 US$ 70.379.640,00 US$ 0,71 US$ 177.057.809,00 US$ 0,69

7215/7217 US$ 66.256.644,00 US$ 1,41 US$ 38.367.054,00 US$ 1,27

7300/7320 US$ 440.147.404,00 US$ 3,97 US$ 133.258,781,00 US$ 3,40

Importante considerar que a cadeia exemplificada contempla produtos que tem em sua composição 100% de ferro ou aço, e que muitos desses produtos serão partes representativas de muitos outros ainda, onerando seus custos e influindo negativamente no resultado da balança comercial.

Com a crescente organização dos consumidores dependentes de insumos produzidos pelas Usinas Siderúrgicas, aumentam as exigências contra as barreiras técnicas e comerciais aos produtos internacionais contidas nas normas e regulamentos técnicos brasileiros.

Diante do exposto, acreditamos que seja questão de tempo para que os preços praticados no mercado interno estejam alinhados às praticas mundiais, mesmo porque o país é membro da OMC e signatário de diversos acordos bi e multilaterais, o que o impede de atuar contra importações de manufaturados de outros países sem motivos justificáveis.

Com o abastecimento normalizado, os preços alinhados, seguindo a lógica da cadeia produtiva, um semi-acabado deixará de subsidiar o lucro exigido no manufaturado, tornando a concorrência mais justa, fazendo com que as Usinas Siderúrgicas percebam que a integralização economicamente atrativa seja, talvez, até laminação, o que abrirá oportunidades a inúmeros segmentos.

Para um país com a dimensão do Brasil, seguramente seria a solução mais eficaz.

Sergio Navas

ANFAT- Associação Nacional dos Fabricantes de Treliças

Luis Nassif

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