O rating da França

Do Estadão

França pode ser a próxima a perder nota máxima

Preço de um seguro contra suspensão de pagamento indica que a probabilidade de calote do país é maior que a do

Brasil 08 de agosto de 2011 | 23h 00
Fábio Alves, de O Estado de S. Paulo

A França é o país mais vulnerável, entre aqueles com notas de risco soberano classificadas como AAA, e pode ser o próximo a perder o status de melhor qualidade de crédito. É o que indica o preço que os investidores pagam para comprar o seguro contra um possível calote na dívida dos países, conhecido como CDS (Credit Default Swap).

E mais: o custo por seguro pago hoje pelos investidores indica que a probabilidade de o Brasil dar um calote na sua dívida pública nos próximos cinco anos é bem menor -do que a da França, embora o governo francês tenha uma classificação de risco nove níveis acima da brasileira pela Standard & Poor’s (S&P).

AFra”A França é, entre os créditos soberanos classificados como AAA, o país mais provável a ser o próximo a perder essa nota máxima”, afirmou à Agência Estado Michael Woolfolk, diretor-gerente para mercados globais do banco BNY Mellon em Nova York. Além da França, a S&P classifica como AAA outros dez países, incluindo a Alemanha, a Suíça, o Reino Unido, a Suécia e a Holanda. Na sexta-feira, os Estados Unidos foram rebaixados de AAA para AA+ pela S&P, pela primeira vez na sua história desde que recebeu o status triplo A em 1941.

“O possível rebaixamento da França teria como causas a falta de dinâmica de crescimento econômico, o nível de endividamento e a perspectiva de que sua dívida continue crescendo, sem muita convicção do governo francês em conter seu déficit num ambiente de crescimento econômico frágil”, disse Woolfolk. Para ele, a França tem menor capacidade fiscal do que a Alemanha de absorver a dívida de países periféricos da zona do euro, como a Grécia e Portugal.

Custo maior. Um possível rebaixamento da nota de risco soberano da França já está sendo antecipado pelos investidores. O custo para comprar proteção contra um calote da dívida francesa é praticamente o triplo do que os investidores pagam para se proteger de uma suspensão de pagamentos da dívida dos EUA, embora a S&P tenha rebaixado o crédito americano, e também maior do que pagam para se precaver de um default no Brasil.

O contrato de cinco anos de CDS da França estava sendo negociado no fim da manhã ao redor de 161 pontos básicos, enquanto o dos Estados Unidos estava ao redor de 57 pontos básicos. Quanto mais alto o preço do CDS, maior é o valor que os investidores pagam para se protegerem de um default e, portanto, pior é a avaliação sobre a qualidade de crédito do país.

Para efeito de comparação, o CDS de cinco anos do Brasil estava sendo negociado a 139 pontos básicos. Ou seja, o mercado financeiro internacional avalia que o Brasil, com a classificação BBB- pela S&P, tem um crédito mais seguro do que o da França.

Nos cálculos de Otis Casey, diretor de pesquisa de crédito da empresa de informações financeiras Markit, a um preço de 161 pontos básicos, o contrato de cinco anos de CDS da França aponta para uma probabilidade de 13% de um calote francês, comparado com 9,2% de probabilidade de default do Brasil e de 4,8% de calote nos títulos do Tesouro americano.

Sob mira. “A França é o próximo crédito AAA mais fraco”, disse Win Thin, diretor de estratégia para mercados emergentes da Brown Brothers Harriman (BBH) em Nova York. Para ele, os indicadores macroeconômicos franceses já colocam o país na categoria de rating AA+, a mesma dos Estados Unidos.

“O recente rebaixamento da nota de risco dos bancos franceses por causa da grande exposição deles à Grécia é provavelmente um alerta de que essa ação será seguida de uma pressão sobre a nota de risco soberana da França”, afirmou Thin.

Para ele, além da França, o rating soberano do Reino Unido é outro que está sob a mira das agências internacionais de classificação de risco. Os modelos macroeconômicos do estrategista da BBH apontam para uma nota de risco AA para o Reino Unido, especialmente “num ambiente de perspectiva fraca de crescimento econômico”.

Otis Casey, da Markit, disse que já é grande o debate no mercado financeiro internacional se os contratos de CDS são um melhor termômetro ou antecipam melhor um evento negativo de crédito do que as agências de classificação de risco.

“Os contratos de CDS refletem a opinião de investidores que têm o que perder numa situação de default, então é um termômetro mais atual do que os ratings”, disse Casey. “Além disso, as agências vêm recebendo uma publicidade muito negativos nos últimos anos, especialmente após a crise de crédito de 2008.”

http://economia.estadao.com.br/noticias/economia,franca-pode-ser-a-proxi…

Luis Nassif

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