O Senhor Crise pode salvar o Japão

Coluna Econômica

É cedo para uma avaliação rigorosa dos efeitos do tsunami sobre a economia japonesa. Mas é bem possível que a tragédia seja a tábua de salvação do país.

Há anos, o Japão patina em um impasse político que praticamente paralisou a economia. A grande crise bancária de fins dos anos 80 produziu um endividamento recorde no país. A falta de consenso político, a fraqueza de sucessivos governos praticamente amarraram a política econômica, impedindo ações decisivas para a recuperação da economia.

Sem cacife político, os governos deixaram-se conduzir pela inércia, permitindo a apreciação do yen, roubando ainda mais a competitividade da produção nacional.

O endividamento do país e uma infraestrutura pronta e acabada impediram investimentos públicos que ajudassem a alicerçar a economia.

Agora mesmo, enquanto a maioria das grandes economias começa a superar os efeitos da crise e até a enfrentar problemas de inflação, a economia japonesa passa por um processo deflacionário perigoso, fruto da fraqueza política do governo Kan.

Em suma, um nó górdio que apenas uma grande crise poderia romper.

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AparAparentemente o sr. Crise se apresentou.

Primeiro, a possibilidade da tragédia criar solidariedade em torno do governo do primeiro-ministro Naoto Kan. As próprias declarações de Kan – definindo o momento atual como o mais grave desde a Segunda Guerra – visou criar a comoção necessária para promover pactos nacionais.

Depois, a inevitabilidade de investimentos públicos pesadíssimos na reconstrução do país.

Até agora estima-se que o investimento total na reconstrução do país chegue a US$ 180 bilhões, 50% a mais do que o custo total do terremoto de Kobe. Some-se a política de compras de ativos de risco pelo Banco Central japonês, que poderá chegar a US$ 487,2 bilhões de dólares; mais entre US$ 15 bi a US$ 35 bilhões a serem pagos pelas seguradoras.

O Japão terá que reconstruir estradas de ferro, sistemas de energia e portos, no maior processo de reconstrução desde a Segunda Guerra.

Talvez leve à necessidade de uma emissão maior de yens, o que provocará uma desvalorização da moeda, ajudando a escapar da armadilha que amarra o país há mais de duas décadas.

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Muitas empresas serão afetadas individual ou setorialmente.

A crise das usinas nucleares afetou a produção de energia para siderúrgicas. Mas há excesso de capacidade em outras regiões do país, permitindo superar o problema. Há um conjunto de refinarias e portos paralisados por incêndios. Fabricante de reatores nucleares, as ações da Toshiba caíram 13%; as ações das montadoras Toyota, Nissan e Honda outros 6,5%, depois da informação de que milhares de carros novos foram danificados.

Mesmo assim, o terremoto atingiu apenas a região nordeste do país, que representa 1% do PIB japonês. Em 1995, o terremoto de Kobe afetou uma região que pesava em 12,4% do PIB do país.

Haverá um custo inicial, provocado pelos desarranjos na economia. Haverá um período de reconstrução da malha produtiva, que poderá levar dois ou seis meses, não se sabe. Esse prazo é o ponto central de análise.

Depois disso, um provável longo período de recuperação da economia japonesa. 

Luis Nassif

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