Os atrativos do Brasil para os investidores estrangeiros

Do Valor

“Brasil está entre os países mais atrativos do mundo”

Por Vinícius Pinheiro | De São Paulo

Embora esteja longe de recuperar o vigor apresentado nos anos que antecederam a grave crise financeira de 2008, os Estados Unidos ainda são o melhor lugar do mundo para se encontrar boas oportunidades de investimento. A afirmação é de David Rubenstein, cofundador e copresidente do Carlyle Group, uma das maiores firmas globais de private equity – que investe na compra de participações em empresas -, com US$ 157 bilhões sob gestão.

Em entrevista ao Valor durante passagem no Brasil no início do mês, Rubenstein atribuiu o fraco desempenho da economia americana nos últimos anos à intensidade da crise que abateu a economia, a maior desde a Grande Depressão que teve início em 1929. Apesar de problemas como o impasse político sobre o chamado “abismo fiscal”, o co-fundador do Carlyle prevê um crescimento de pelo menos 3% para os Estados Unidos em 2013.

Num ano em que o Brasil perdeu atrativos perante os olhos de muitos investidores estrangeiros, Rubenstein também se mostra otimista sobre o país, um dos países onde o Carlyle tem sido mais ativo. O executivo rejeita comparações com outros países da região, como Chile, Colômbia e Peru. “Todos esses mercados juntos ainda são relativamente pequenos em relação ao Brasil”, afirma.

A seguir, os principais trechos da entrevista:

Valor: Passados quatro anos do auge da crise financeira de 2008, quais são os grandes desafios e ameaças para a recuperação da economia americana?

David Rubenstein: A recuperação econômica não tem sido robusta como geralmente ocorre após um período de recessão. Nos Estados Unidos, a taxa de desemprego historicamente costuma voltar ao mesmo patamar de antes da recessão em um intervalo de dois anos, e claramente não temos isso hoje. A recessão tecnicamente acabou em junho de 2009, mas na minha opinião nunca terminou realmente porque as taxas de desemprego permanecem altas e o crescimento da economia continua baixo. Tecnicamente, a definição mais aceita sobre recessão é a que indica dois trimestres consecutivos de crescimento econômico negativo, mas acredito que essa definição esteja datada e seja pouco útil.

Valor: E por que a economia ainda não se recuperou?

Rubenstein: Primeiro, porque a recessão foi a mais profunda que tivemos desde a Grande Depressão, então o tempo de recuperação acaba sendo maior. Segundo, o país tem uma dívida grande, da ordem de US$ 16 trilhões, com passivos em pensões e saúde pública. Nós temos ainda uma disparidade de renda crescente e problemas de desemprego estruturais. Por outro lado, também começamos a ver bons sinais na economia.

“Não temos 6% ou 7% de crescimento nos EUA, mas cresceremos ao menos 3% em 2013, o que considero bom”

Valor: Quais são esses sinais?

Rubenstein: Acredito que a questão do “abismo fiscal” será resolvida, com um acordo inicial até o fim deste mês e uma solução de longo prazo definida nos próximos dois anos. A recuperação no setor imobiliário está a caminho, e a recessão tipicamente termina quando isso acontece. Essa melhora acontece de várias maneiras: os investimentos na área e os preços estão em alta, e as construções de novas casas estão ocorrendo novamente. Vivemos ainda uma revolução na área de energia. Estamos expandindo dramaticamente nossa capacidade de produção de óleo e gás. Esse fenômeno estimula uma revolução manufatureira nos Estados Unidos, com o aumento da produção local em razão dos menores custos de energia. Pela primeira vez desde 1949 seremos exportadores líquidos de produtos relacionados a energia. Continuamos a ter uma atividade empreendedora no Vale do Silício e outras áreas. Tudo isso nos ajudará a sair desse período de pós-recessão.

Valor: De um modo geral, qual o seu prognóstico para a economia americana?

Rubenstein: Estou muito otimista com os Estados Unidos. Na verdade, acho hoje que é o melhor lugar do mundo onde investir. Não temos 6% ou 7% de crescimento como a China, mas provavelmente cresceremos pelo menos 3% no próximo ano, o que considero muito bom. Nós ainda temos alguns problemas, mas agora que as eleições acabaram veremos mais investimentos e crescimento.

Valor: O senhor tem a mesma visão otimista para o resto do mundo, em particular a Europa?

Rubenstein: Os problemas na Europa são muito mais sérios do que nos Estados Unidos. Os países do Sul possuem um endividamento muito alto, os bancos estão relativamente fracos e não há crescimento econômico suficiente para que consigam resolver essas questões no curto prazo. No final, os países do Norte, e talvez o FMI, precisarão oferecer algum tipo de ajuda financeira para alguns governos e, talvez, alguns bancos. A Europa está em uma recessão hoje e deve atravessar parte do ano que vem nessa condição. Como se trata do maior PIB mundial, o que acontece na Europa é muito importante para o resto do mundo. Eu acredito que veremos mais um ano, ou pelo menos até as eleições na Alemanha [previstas para setembro], antes de uma recuperação na Europa. Mas nem mesmo a Alemanha pode resolver todos os problemas sozinha.

Valor: Quais as perspectivas de crescimento para a economia global nesse cenário?

Rubenstein: Acredito que haverá um crescimento de 3,5% em 2013, talvez 4%. Não será tanto quanto gostaríamos, mas acho que os emergentes terão um bom desempenho. O Brasil obviamente terá um crescimento maior em relação a este ano, assim como a Índia, enquanto a China deve ter um desempenho pelo menos equivalente ao de 2012. Outras regiões, como a África subsaariana [que exclui o Norte do continente] e países latino-americanos como o México também terão um bom ano.

“Fico surpreso como alguns de meus principais concorrentes globais ainda não levantaram fundos para o Brasil”

Valor: Como o senhor vê a indústria de private equity em 2013?

Rubenstein: Os fundos de private equity tiveram um bom desempenho em momentos bons e ruins. A indústria sobreviveu à crise financeira muito bem e os investimentos cresceram em várias partes do mundo. Acredito que no ano que vem veremos mais fundos captando recursos e em volumes maiores. Mas não acho que haverá mega-aquisições de controle, na casa de US$ 20 bilhões a US$ 30 bilhões, nos Estados Unidos e na Europa. Também não devemos ter negócios gigantes nos mercados emergentes, mas haverá um crescimento sólido. De um modo geral, sou muito otimista com a capacidade de os fundos de private equity encontrarem bons negócios. Os retornos provavelmente serão menores em relação aos anos de pico, mas ainda serão atrativos e melhores na comparação com a rentabilidade do mercado de ações.

Valor: O senhor mencionou que os Estados Unidos são o melhor lugar do mundo para se investir hoje. Por quê?

Rubenstein: O mercado americano ainda representa, na nossa visão, a melhor oportunidade de investimento no mundo. Os Estados Unidos possuem um histórico de crescimento positivo, os melhores e mais talentosos profissionais de investimento e os melhores gestores de empresas. Em segundo lugar, vemos os mercados emergentes, como China, Índia e Brasil. O Brasil reúne a quinta maior população do mundo, a sexta maior economia, uma moeda estável e inflação relativamente baixa. Trata-se de um país com amplos recursos naturais, um componente importante de energia verde, além de 100 milhões de pessoas na classe média. Vocês têm um governo que é pró-capitalismo, o que proporciona um bom ambiente de negócios. Por isso considero que o Brasil está entre os países mais atrativos do mundo.

Valor: Mas nos últimos meses, em especial com o fraco desempenho da economia brasileira, os investidores internacionais têm revelado preferência por outros países latino-americanos, como Chile, Colômbia e Peru…

Rubenstein: De fato, a economia brasileira terá um baixo crescimento neste ano e, na nossa visão, deve crescer de 3,5% a 3,9% em 2013. Mas não se pode comparar esses países com o Brasil. Os mercados de Chile, Colômbia e Peru juntos ainda são relativamente pequenos em relação ao Brasil. O Peru, por exemplo, é muito atrativo e nós investimos lá. Você pode encontrar um ou dois negócios em condições melhores, mas no Brasil existem muito mais oportunidades.

Valor: O Carlyle tem sido um dos investidores mais ativos no Brasil. Qual a sua avaliação sobre os negócios realizados no país?

Rubenstein: Nosso time local de private equity tem feito um ótimo trabalho e estamos felizes com todos os negócios que fizemos. Até o momento fizemos seis transações e investimos US$ 1,6 bilhão em capital. Fico surpreso como alguns de meus principais concorrentes globais ainda não levantaram fundos para o Brasil. Mas também fico feliz porque isso significa menos competição para nós. Acredito que a economia brasileira está em ótimas condições na comparação com outros países. O desempenho deste ano pode ter desapontado, mas acho que essa taxa deve se reverter a partir de 2013.

Luis Nassif

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