Os efeitos da universalização da banda larga

Coluna Econômica

Ainda não foi devidamente avaliado o impacto do PNBL (Plano Nacional de Banda Larga) nas telecomunicações brasileiras. Trata-se de um processo amplo, no qual os próprios veículos de mídia poderão ser beneficiados – embora eles ainda não tenham percebido.

A avaliação é de Rogério Santana, presidente da Telebrás e coordenador do Plano Nacional de Banda Larga (PNBL).

***

UmdoUm dos erros básicos do modelo de privatização foi o da não segregação de redes.

Embora infinitamente pior que o modelo de telecomunicações, o elétrico trouxe esse avanço, de que a transmissão deveria ficar independente da distribuição e da geração, a fim de permitir maior competitividade.

No caso da telefonia, o controle das redes matou a competição.

No passado, a Anatel chegou a discutir a segregação de rede. Optou-se por tentar regular os direitos de passagem – de um operador utilizar, pagando, a rede de outro. Constatou-se ser impossível.

75% do mercado de telefonia fixa estão com três empresas: Oi, Telefonica e Embratel-Net. Se juntar GVT e CTBC, sobe para 87%. Na região onde operam, a que detém menos, tem 74% do mercado.

***

Essa concentração criou muitas distorções.

Primeiro, impediu a competição plena. Com o PNBL, será possível a um operador do sul competir no nordeste. Bastará apenas garantir a última milha – a ligação da rede do PNBL com a casa do cliente.

Segundo, a disputa concentrou-se em locais de alta renda, onde já havia ganhos de escala e possibilidade de promoções. Nas localidades mais pobres, o custo de implantação da infraestrutura era mais caro, resultando em planos piores e preços mais altos. Nas mais ricas, há promoções.

***

Terceiro, desestimulou as operadoras a expandirem as operações de banda larga.

Hoje em dia, o mercado brasileiro tem 90% de voz, metade fixa, metade celular, e 10% de dados.

O mercado de voz ainda é altamente lucrativo no Brasil, embora sem futuro. Um SMS custa muito mais caro do que um email. Segundo Santana, é a letra mais cara do mundo.

Se a PNBL chegar a 39 milhões de domicílios, a banda larga terá a mesma penetração que no Japão. Lá voz é 30% e dados 70%.

Com a banda larga se popularizando, voz será no futuro commodity gratuita na maior parte dos casos. Hoje em dia, na UPP da Rocinha, moradores conversam com parentes no Ceará pelo Skype. Nas ligações internacionais, já detém 15% do mercado internacional de voz.

Através da Transit, a Skype já é a maior compradora de minutos das operadoras brasileiras. No mercado internacional, já detém 15% do mercado de voz – sem contar as ligações computador a computador, que são gratuitas.

As operadoras fixas não são sócias do PNBL porque, na prática, canibalizaria seu negócio principal, diz Santana. Há mais de 15 anos sabem que o mercado de voz caminha para ser uma commodity gratuita. Mas as distorções do modelo brasileiro fizeram com que ganhasse sobrevida – em detrimento da banda larga.

***

Com a universalização e a rede neutra, redes de televisão, portais de jornais terão muito melhores condições de disputar mercado com as teles. 

Luis Nassif

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador