Painel internacional

Reformas radicais podem salvar o euro

Peter Sutherland
Uma honrosa tradição da União Europeia é a de transformar crise em oportunidade. A “euroesclerose” e as disputas orçamentárias em 1980 foram as precursoras do Ato Único Europeu de 1986; e a crise do mecanismo cambial em 1992-1993 acelerou a criação da moeda única europeia. Há razões para acreditar que a atual crise de governança na zona do euro seguirá esse padrão somente porque a alternativa é realmente terrível.

Os últimos três meses providenciaram dolorosas lições para os líderes da zona do euro sobre as falhas de concepção da moeda única europeia. O pacote financeiro acordado em maio é uma prova da seriedade com que esses líderes estão dispostos a aplicar estas lições. Mas isso é apenas parte da história. Igualmente significativo é a vontade dos líderes da zona do euro voltar o olhar para os princípios da forma como o euro é administrado. Posições nacionais têm mudado muito ao longo dos últimos três meses. Seria muito surpreendente se não mudarem mais nos próximos três meses.

Sem a moeda única, a Europa seria um deserto econômico. O custo de não ter o euro teria sido muito maior nos últimos dois anos do que o que tem sido ao longo dos últimos três meses. As desvalorizações competitivas das moedas nacionais depois da crise financeira de 2008 teriam levado a um caos econômico incomparavelmente pior do que a turbulência que estamos vivenciando agora. Os líderes da zona do euro reconhecem isso. A tarefa que os confronta é assegurar que a zona do euro funcione de tal forma que o risco de desintegração seja minimizado e seus benefícios potenciais explorados ao máximo. Há margem para melhorias em ambos os aspectos.
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E mais:
EUA: reforma financeira não elimina os “grandes demais para falir” – Mark Thoma
O fortalecimento da Ásia no G20
Sem afinidades: a Bélgica vai se partir em duas?
Alemanha tem boom de exportações

EUA: EUA: reforma financeira não elimina os “grandes demais para falir”

Mark Thoma
A tentativa de conciliar as versões da Câmara e do Senado sobre a legislação de reforma financeira teve problemas hoje, quando Scott Brown opôs-se a uma taxa que seria imposta às instituições financeiras para ajudar a pagar os custos da legislação: os negociadores do Congresso rapidamente reabriram o processo de conferência do projeto de lei de extensa regulamentação financeira na terça-feira após… O senador Scott Brown, republicano de Massachusetts, que havia apoiado o projeto do Senado, disse que se oporia à versão final porque continha um imposto sobre os bancos.

No entanto: os negociadores em conferência votaram para eliminar a taxa proposta e adotaram um novo plano para pagar os custos de US$ 20 bilhões da legislação em cinco anos. Esta lei não vai acabar com o problema dos (bancos) grandes demais para falir. Se o sistema bancário está ameaçado, então de uma forma ou outra, será salvo. As consequências para a economia seriam muito grande para fazer o contrário. Assim, bancos que são grandes demais para representar um risco sistêmico desfrutam de uma vantagem sobre os outros bancos.

Os bancos que representam um risco sistêmico serão considerados mais seguros do que outros bancos devido à garantia governamental implícita. Isso dá aos grandes bancos uma vantagem sobre os menores que não têm, por conta própria, ameaçado o sistema financeiro se ele quebrar. Além disso, a garantia implícita dá aos grandes bancos o incentivo para assumir um risco muito grande, e esta é uma razão para regular a quantidade de risco que se pode levar (e eu não acho que a legislação proposta seja o suficiente a esse respeito).
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O fortalecimento da Ásia no G20

A cúpula do G20 é um processo que está evoluindo e ninguém pode prever exatamente onde isso vai acabar. O grupo se autodenominou de “fórum privilegiado para a cooperação econômica internacional”, e ainda há questões importantes relacionadas aos membros e agenda que precisam ser resolvidas. Em Pittsburgh, o presidente dos EUA, Barack Obama, anunciou que o G20 poderia substituir o G8. Duas cúpulas do G20 estão previstas para este ano – em Toronto e Seul, em novembro. Enquanto o encontro de Toronto vai fazer um balanço da implementação das estratégias de saída das políticas macroeconômicas expansionistas, a reunião de Seul seleciona duas outras questões de longo prazo para discussão – as redes de segurança financeira para melhor isolar os mercados emergentes da instabilidade sistêmica, e as ações para fechar as diferenças de desenvolvimento, especialmente entre os mais pobres. Questões relacionadas à mudança climática também podem ser abordadas no encontro do G20.

Assim, como a Ásia deve responder?
A Ásia é representada no G20 por seis países – Austrália, China, Índia, Indonésia, Coreia do Sul e Japão. Além de perseguir uma agenda bilateral, diga-se, com os EUA ou a União Europeia (UE), como é possível os membros asiáticos do G20 unir sinergia e alavancar a sua crescente influência econômica e política em uma participação mais efetiva? O continente pode reforçar a sua posição de três maneiras.

Primeiro, deveria perceber a centralidade da ASEAN (bloco formado pelos países do sudeste asiático) no domínio da arquitetura regional na Ásia, e deveria se articular para formalizar a adesão dos seus representantes no G20. Sob a prática presente do G20 de convidar representantes de grupos regionais, a presidência e a secretaria-geral da ASEAN participaram das reuniões de Londres e Pittsburgh.

Em segundo, os países asiáticos poderiam organizar reuniões do ASEAN “expandido” + 3 antes das cúpulas do G20, a fim de coordenar políticas e desenvolver posições comuns. Terceiro, os países asiáticos devem coordenar suas opiniões com as de países em desenvolvimento em outras regiões do mundo, unindo-se e apoiando o informal Grupo de Boa Governança (ou 3G), convocado por Cingapura, sob os auspícios das Nações Unidas. Este grupo é atualmente composto por cerca de 24 Estados pequenos e médios de todo o mundo (das quais seis são da Ásia – Brunei, Malásia, Nova Zelândia, Filipinas, Cingapura e Vietnã), que se uniram para desenvolver um diálogo construtivo sobre a coordenação e cooperação entre o G20 e não-membros.
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Sem afinidades: a Bélgica vai se partir em duas?

Muitos espectadores em Wimbledon assistindo a quarta série de vitórias de três sets da belga Kim Clijsters sobre sua compatriota Justine Henin na segunda-feira teria pensado em quão afortunado um pequeno país poderia ser ao produzir duas estrelas do tênis incrivelmente bem-sucedidas. Mas a sorte não é o que a Bélgica sente agora. Até mesmo aquela rivalidade esportiva entre as estrelas belgas encarna o tumulto político que expôs a divisão entre as porta-vozes holandesa e francesa do país: a família Clijsters vem da metade de língua holandesa, a de Henin é da parte francesa.

Na verdade, este é um momento da verdade para o país oscilante na linha divisória entre a Europa germânica e as culturas latinas. A Valônia, região francófona da Bélgica do sul, tem lutado para se recuperar economicamente do declínio industrial do pós-guerra, e seus defensores argumentam que a Flandres de língua holandesa deveria mostrar mais solidariedade. Mas os flamengos, que se vêem mais como empreendedores e cosmopolitas, rotulam a Valônia como esponjas e irresponsáveis.

A personalidade dividida do país emergiu em uma confusa eleição no início deste mês, que deixou o país sem governo viável. O maior partido no Parlamento belga agora é a Nova Aliança Flamenga (N-VA, na sigla em holandês), que busca a independência de Flandres, enquanto o maior partido da Valônia é o Partido Socialista (PS), que deseja um governo central fortalecido. Seus respectivos líderes, Bart De Wever, do N-VA, e Elio Di Rupo, do PS, estão tentando negociar uma coligação, mas é difícil ver terreno comum. Nem mesmo uma coalizão de trabalho é provável até outubro, para ser mais breve.
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Alemanha tem boom de exportações

Apenas um ano atrás, a empresa alemã Getrag estava à beira da falência. Fornecedora de autopeças baseada no sudoeste da Alemanha, a empresa havia sido duramente atingida pela crise econômica. A receita caiu 25%, para cerca de 2 bilhões de euros (US$ 2,45 bilhões), e a empresa foi forçada a cortar suas horas de trabalhadores sob o programa “trabalho reduzido” do governo. Apenas um empréstimo com garantia estatal salvou a Getrag de cair vítima da crise.

Hoje a empresa está inundada de encomendas. Só a BMW encomenda 140 peças de transmissão por dia, e mesmo assim a Getrag só pode gerir 120 por dia. “Semana após semana, assino requerimentos da empresa para ter empregados trabalhando aos sábados, domingos e feriados”, diz Frank Iwer, da sede distrital do sindicato dos metalúrgicos IG Metall, no estado sudoeste de Baden-Württemberg. Iwer está familiarizado com muitos casos como a Getrag: o construtor da máquina que está contratando grande número de novos trabalhadores, o fabricante de máquinas de embalagem que recuperou quase todos os seus funcionários do programa de “trabalho reduzido” e o pequeno fornecedor que recontratou todos os 24 trabalhadores recentemente demitidos, por causa do clima de negócios que melhorou inesperadamente .

De repente, há boas notícias novamente para as empresas alemãs. Algumas estão tão ocupados que adicionaram turnos extras, enquanto outras têm reduzido os períodos de encerramento do verão para satisfazer a demanda global.
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Luis Nassif

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