Painel internacional

Apaziguando os deuses da dívida

Paul Krugman
Ao olhar para o que se passa pela responsabilidade da política econômica nestes dias, há uma analogia que continua passando pela minha cabeça. Eu sei que é transcendente, mas, assim mesmo, aqui vai: a elite política – os banqueiros centrais, ministros das Finanças, políticos que posam como defensores da virtude fiscal – estão agindo como sacerdotes de algum culto antigo, exigindo que nos engajemos em sacrifícios humanos para apaziguar a cólera de deuses invisíveis. Ei, eu disse que era transcendente. Mas, paciência comigo um minuto.

No final do ano passado, a sabedoria convencional da política econômica deu uma brusca guinada para a direita. Mesmo que as maiores economias do mundo mal tenham começado a se recuperar, apesar de um rigoroso desemprego permanecer desastrosamente alto em boa parte da América e Europa, criar postos de trabalho já não estava na agenda. Em vez disso, fomos informados, os governos tiveram de voltar toda a sua atenção para a redução dos déficits orçamentários.

Os céticos apontam que aquela redução de gastos em uma economia deprimida faz pouco para melhorar as perspectivas orçamentárias de longo prazo, e pode realmente piorá-la, deprimindo o crescimento econômico. Mas os apóstolos da austeridade – por vezes se referindo como ” austerianos” – deixou de lado todas as tentativas de fazer cálculos. Não importa o número, eles declararam: cortes imediatos de gastos foram necessários para afastar os “vigilantes de dívida”, investidores que puxariam a tomada dos governos perdulários elevando seus custos de captação e precipitariam uma crise. Olhe para a Grécia, disseram.
Clique aqui
E mais:
Lei de assistência à saúde continua impopular nos EUA, diz pesquisa
Greve na África do Sul representa dilema para CNA
Miopia noral no Marco Zero – Charles Krauthammer
Alemanha prevê sepultar crise com o maior crescimento em quatro anos

Lei deLei de assistência à saúde continua impopular nos EUA, diz pesquisa

A maioria dos norte-americanos é favorável à proposta do presidente Obama de corte de impostos, mas a sua proposta de cuidados com a saúde continua impopular, sugere uma nova pesquisa de opinião da CNN. Em impostos, três em cada dez acreditam que os cortes fiscais da era Bush deveriam ser estendidos para todos os norte-americanos, de acordo com a nova enquete divulgada na sexta-feira. Pouco mais de 50% dizem que essas reduções fiscais só deveriam continuar para as famílias que ganham menos de US$ 250 mil por ano, como Obama propôs. Quase 1 em cada 5, entretanto, dizem que os cortes deveriam acabar para todos.

Não surpreendentemente, os republicanos tendem a favorecer a redução de impostos para todos, enquanto os democratas preferem a proposta de Obama. Metade de todos os republicanos entrevistados querem que os cortes de impostos para todas as faixas de renda seja prorrogado, enquanto apenas 13% dos democratas se sentem dessa forma. Enquanto isso, dois terços dos democratas são a favor de reverter os cortes de impostos para os norte-americanos mais ricos, e apenas 40% dos republicanos o são.

Na saúde, a nova lei continua impopular, em parte devido à exigência inédita de que todos os norte-americanos devam ter seguro-saúde (56% se opõem). Outras disposições da nova lei são populares. Quase seis em cada dez, por exemplo, apóiam as exigências às seguradoras que as obrigam a cobrir pessoas que ficam gravemente doentes ou que têm uma condição pré-existente. Globalmente, 56% se opõe à nova lei, mas nem todos dessa oposição devem votar contra os democratas em novembro. Entre aqueles que se opõem à legislação, 41% são contra a lei de saúde, pois é muito liberal. Mas outros 13% são desfavoráveis à lei porque ela não é liberal o suficiente.
Clique aqui

Greve na África do Sul representa dilema para CNA

O uso de balas de borracha pela polícia da África do Sul contra trabalhadores públicos grevistas em Soweto – outrora caldeirão de protestos anti-apartheid – carrega um significado simbólico que enviará ondas de choque por todo o país. Mas também é um marco na lenta transição do partido governista Congresso Nacional Africano (CNA), de movimento rebelde que apoiava reflexivamente trabalhadores em greve, a governo que não pode despender recursos para atender suas demandas.

A polícia abriu fogo com balas de borracha e canhões de água depois que uma multidão de grevistas no distrito que fica nos arredores de Johannesburgo ter se recusado a encerrar o bloqueio de uma via principal perto de um hospital, parado o tráfego e impedido a entrada de pacientes. “O mínimo de força tinha de ser usado”, disse o porta-voz da polícia, capitão Nondumiso Mpantsha, acrescentando que não houve feridos graves.

O choque ocorreu depois que os sindicatos do setor público da África do Sul – que representam 1,3 milhão de professores, enfermeiros, burocratas e outros – começou uma greve por tempo indeterminado em todo o país na quarta-feira, uma reivindicação sobre salários. Os sindicatos exigem aumento salarial de 8,6%, mais que o dobro da taxa de inflação, e um extra de 1.000 rands (US$ 138) por mês para a habitação. O governo diz que não pode pagar por aquilo sem reduzir serviços, e ofereceu 7% e 700 rands. A greve já fechou escolas em todo o país, o atendimento nos hospitais foi interrompido e os sindicatos estão realizando bloqueios nas principais estradas das cidades. Também na quinta-feira, no setor privado, a União Nacional dos Metalúrgicos da África do Sul disse que iria começar a greve nos setores de combustível, pneumáticos e autopeças a partir da próxima semana.
Clique aqui

Miopia noral no Marco Zero

Charles Krauthammer
É difícil ser um bajulador de Obama nestes dias. Esse herói faz um discurso no Ramadã (mês de jejum ritual para os muçulmanos) dando amplo apoio à construção de uma mesquita e um centro islâmico perto do Marco Zero (local onde estavam as Torres Gêmeas) em Nova York. Seu coração se enche e você é impelido a declarar que é o melhor momento do presidente Obama, seu maior ato de coragem. Infelizmente, no dia seguinte, a uma distância de 800 milhas, Obama explica que só estava falando da legalidade da coisa, e não sobre a sabedoria (do projeto) – sobre a qual ele não faz, nem fará qualquer julgamento.

Você deixa de parecer um tolo, porque agora Obama não disse exatamente nada: ninguém contesta o direito da construção; o debate todo é sobre o decoro, a decência de fazê-lo. Não é preciso muita coragem para se inflamar debaixo do aplauso de um público muçulmano, enquanto você promete ser firme pelos direitos de construir uma mesquita, dando a impressão inconfundível de que endossa a idéia. O que é preciso coragem é respeitosamente pedir ao público que reflita sobre a sabedoria do projeto e considerar se o objetivo alegado do imã, de entendimento inter-religioso, não poderia ser melhor alcançado ao aceitar a oferta do governador de Nova York de ajudar a encontrar um outro local.

Onde o presidente sinalizou, no entanto, a intelligentsia liberal se posicionou com muito gosto, escrevendo dezenas de artigos pró-mesquita, caracterizados por uma frenética unanimidade, poucos recursos para argumentar e uma dificuldade singular em lidar com analogias. Michael Kinsley, da revista The Atlantic, foi emblemático em argumentar que o único motivo possível para se opor à mesquita no Marco Zero é fanatismo ou demagogia. Pois bem, e quanto ao Papa João Paulo II ordenando o fechamento do convento carmelita que ficava do lado de fora de Auschwitz? Certamente, não pode haver nada mais inocente naquele crime do que as freiras devotas. Como Kinsley explica esta notável demonstração de sensibilidade, essa ordem de rezar – mas não ali? Ele nem mesmo finge analisar. Ele simplesmente afirma que a decisão é algo que “confesso que nunca entendi”.
Clique aqui

Alemanha prevê sepultar crise com o maior crescimento em quatro anos

O Bundesbank vislumbrou ontem um futuro próximo muito melhor do que havia previsto até agora. O banco central da Alemanha aumentou a extensão de suas projeções. Segundo sua análise, Berlim crescerá este ano na ordem dos 3% ao invés dos 1,9% previstos há apenas dois meses. Se esse prognóstico finalmente se cumprir, 2010 será o melhor ano para a economia alemã desde 2006 e um dos que fecharão com o crescimento mais robusto desde que, há duas décadas, a República Federal (Alemanha Ocidental) e a Democrática (Oriental) se uniram em um único país.

No relatório mensal do banco central, apresentado ontem em Frankfurt, os economistas atribuíram a melhoria ao impulso inesperado do trimestre da primavera (abril a junho). O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 2,2% entre abril e junho na comparação com o primeiro trimestre. É o maior salto registrado desde a unificação em 1990. O banco central da maior economia da Europa acha que a tendência de alta suavizará na segunda metade do ano, se o país contiver o aumento das exportações, motor do crescimento espetacular alemão.

A locomotiva da Europa funciona a pleno vapor. A questão é saber se vai descolar da Europa, ou se o seu tremendo dinamismo é explicado porque se desengatou do trem continental. Sua capacidade de endividamento barato e desequilíbrio na balança comercial com seus parceiros europeus podem sugerir que esta última opção é a mais provável. Os títulos alemães de 10 anos eram negociados ontem com um retorno de 2,3%, enquanto os espanhóis eram superiores a 4%. O Tesouro alemão nunca foi capaz de tomar dinheiro emprestado por menos. Embora a Espanha tenha quase sempre oferecido retorno maior que a Alemanha para se financiar – tinha um diferencial de cerca de 50 pontos base um ano atrás -, este prêmio disparou para níveis recordes. Em junho, o prêmio de risco espanhol ultrapassou 220 pontos, e ontem fechou em 173.
Clique aqui

Luis Nassif

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador