Paulo Nogueira analisa o avanço da marcha da insensatez global

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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Em conversa exclusiva com Luis Nassif, ex-diretor do FMI fala sobre a guerra da Ucrânia e o papel do Brasil dentro de um mundo multipolar

Paulo Nogueira Batista Junior, economista. Foto: Reprodução/nogueirabatista.com.br

O confronto entre Ucrânia e Rússia, e as consequentes reações dos Estados Unidos e da Europa, são apenas mais um exemplo da chamada marcha da insensatez vista ao longo da história, e os impactos econômicos e geopolíticos ainda serão delineados.

“Essa expressão da Barbara Tuchman, ‘marcha da insensatez’ é muito apropriada para o momento atual”, diz Paulo Nogueira Batista Junior, ex-vice-presidente do Novo Banco de Desenvolvimento, dos BRICS, em Xangai, e ex-diretor executivo no FMI, em entrevista exclusiva ao jornalista Luis Nassif na TV GGN 20 horas.

Em sua obra “A Marcha da Insensatez: de Troia ao Vietnã” (editora Best Seller), a historiadora aponta vários momentos na história mundial onde a marcha da insensatez levou governos e lideranças a tomarem decisões contrárias aos seus interesses.

Na visão de Batista, isso está acontecendo mais uma vez com os Estados Unidos e, sobretudo, com a Europa. “Eu me pergunto: por mais fortes que sejam os EUA, eles tem interesse, tem condições em confrontar simultaneamente a Rússia e a China, e provocar as duas grandes potências emergentes que são a China e a Rússia?”, diz o economista.

Embora tenha uma extensa força nuclear e um povo corajoso e resistente, Batista Junior diz que também não se pode esperar que os russos imponham uma derrota acachapante contra o Ocidente.

“Daí que é importante o diálogo – não vai haver uma vitória acachapante de nenhum dos lados em campo de batalha, então tem que haver diálogo”, pontua o ex-diretor do FMI.

Diálogo em falta

Contudo, o que se vê entre norte-americanos e russos nas possíveis plataformas de diálogo é a falta de diálogo tanto dos Estados Unidos – que chegaram a pedir a expulsão da Rússia do G20 ao lado de outros países europeus, e protestavam a cada vez que os russos pediam a palavra.

Na visão de Batista Junior, enquanto os países ocidentais esbarram na falta de capacidade dos seus líderes, do outro lado Vladimir Putin e Xi Jinping “são lideranças fortes, conscientes, que tem o interesse nacional em mente e se arriscam quando necessário”.

“Já o (Joe) Biden (presidente do EUA) quer fazer uma política imperial sem usar os Estados Unidos, sem lançar mão dos recursos americanos, sem botar boots on the ground (presença física no campo de combate)”, explica o economista.

“Então, ele quer que as boots on the ground sejam ucranianas, e que as consequências econômicas da guerra sejam pagas pela Europa, isso não funciona”, ressalta o ex-diretor do FMI.

“A Ucrânia vai perder, e a Europa já está pipocando – as lideranças europeias estão caindo, e o Boris Johnson – vão cair outras provavelmente. E o Biden vai perder a maioria nas eleições de meio de mandato e não se reelege”, pontua o economista. “Então é um fiasco monumental essa estratégia ocidental, americana e europeia. É um fiasco”.

O papel do Brasil no mundo multipolar

A partir do confronto na Europa e a emergência de um mundo multipolar, Batista Junior acredita que o Brasil pode ter uma estratégia externa – e existe espaço para tal – a partir de 2023.

“O mundo está muito complicado, é claro, mas também há espaço para a atuação de países grandes que atuem de forma independente, como é o caso do Brasil, e certamente vai ser a partir de 23”, diz o economista.

“Eu volto a dizer o que sempre digo: o Brasil é grande o suficiente para não ter que se aliar a ninguém”, afirma Paulo Nogueira Batista. “Ele tem que ajudar a estabelecer um diálogo entre as partes, se possível – se não for possível, o Brasil tem que explorar as contradições que existem para avançar seus interesses (…)”.

Na visão do ex-vice-presidente do Novo Banco de Desenvolvimento, o Brasil não deve se alinhar nem aos Estados Unidos, nem à Rússia e nem à China.

“(O Brasil) vai ser parceiro da Rússia e da China nos BRICS, vai ser parceiro dos EUA em outras iniciativas, mas não deve tomar partido nessas brigas que não nos dizem respeito totalmente”, afirma Nogueira Batista. “Ninguém toma as nossas dores, então nós também não podemos tomar as dores dos outros gratuitamente”.

Clique no vídeo abaixo e veja mais a respeito do tema na entrevista completa de Paulo Nogueira Batista Junior para Luis Nassif na TV GGN 20 horas.

4 Comentários

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  1. Quanto a essa coisa de o Brasil ser parceiro, eu concordo com Batista; mas, já combinaram com a banca londrino-novaiorquina, QUE DE FATO É QUEM MANDA?
    Reduzido a país de quarto mundo é que o Brasil não tem futuro: será sempre campo experimental para tudo quanto é mania tresloucada de muito ricos. Além de província alimentar e mineral.

  2. Tucidides apontou que a insensatez.teve inicio lá atrás naquela guerra do Peloponeso. Atenas potência naval versus Esparta, uma potência terrestre. O geopol Halford Mackinder apontou um heartland na Ásia que permitiria ao povo russo ser um povo para si. Os ingleses, e seus derivados americanos não se satisfazem.

  3. Com todas as conflitualidades de interesses que correm em paralelo ao conflito europeu, o entrave para uma solução mesmo antes do início dos combates é a ausência de “Estados Nacionais”. O reducionismo do Estado e sua atuação em relação à própria razão de ser dos Estados Constitucionais pelo avanço do liberalismo econômico extremado, resultou numa inexpressividade enquanto defesa de interesses nacionais a atuação de muitos governos, notadamente os da União Europeia. A defesa de um Estado”mínimo” em relação à ingerência nas atividades empresariais foi confundido com a abstenção por parte do Estado de executar suas funções e obrigações constitucionais. Entre tantas funções ao abrigo Estatal, nele contido, estão as tarefas de diplomacia e relações exteriores, onde somente uma visão de Estado com abrangência das razões de Estado levariam em consideração as diferenças entre os interesses público/estatal nem sempre conexos ao interesse privado. Esse é um jogo de cintura que não entra na matemática privada. Não é do pertencimento da iniciativa privada. O acirramento, por meio da globalização, das rivalidades nessas disputas geopolíticas e geoeconômicas trazem a necessidade da atuação do Estado e a aplicação de uma visão voltada à própria razão do Estado/sociedade. O início e mesmo a continuidade do combate entre a Rússia e a Ucrânia, tem qual interesse para as nações da Europa. Não interferir diplomaticamente já anteriormente ao começo dos combates, evitando a ocorrência dele, está causando quais consequências aos povos de todo o continente. Isso é interesse de Estado, lógica de Estado, de mútuas preservações ; sem essa vocação inerente às preocupações público/estatais, que está ausente, cruzam-se os braços. A falência do conjunto abrigado no ESTADO CONSTITUÍDO e sua condição elementar de garantidor de vários direitos vai ser interessante a quem. As articulações da globalização faz praticamente tudo afetar a todos. É preciso que a diplomacia substitua a insensatez em marcha, justamente pela inexpressividade das representações de ESTADO.

  4. “…o Brasil é grande o suficiente para não ter que se aliar a ninguém” “Ele tem que ajudar a estabelecer um diálogo entre as partes, se possível – se não for possível, o Brasil tem que explorar as contradições que existem para avançar seus interesses (…)”. AMÉM !! AMÉM !! AMÉM !!! Existe Vida Inteligente em Pindorama !!! Algum Neurônio se restabeleceu depois de 92 anos em coma !!! MILAGRE????!!!! Estou vivo para ler estes dois trechos de texto em 2 frases?? Que Felicidade !!!! Somente quase 1 século de atraso mas enxerguei e li !!! Agora talvez possa até morrer. Basta estar vivo, não é mesmo? A MAIOR POTÊNCIA ECONÔMICA E FINANCEIRA EM LIBERDADE DE RECURSOS E RIQUEZAS NATURAIS, TERRITORIAIS, EM POSIÇÃO GEOGRAFICA, EM ESCALA POPULACIONAL, EM LIMITES PACIFICADOS, EM VIZINHOS BONIFICADOS POR TAIS RIQUEZAS finalmente enxergou o ÓBVIO !!! AMÉM !! AMÉM !! AMÉM !!!

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