Política industrial e TV digital

Coluna de 16/08/2006

Apenas agora a TV Digital começa a sair do papel. Na verdade, a negociação com os japoneses obedecia à lógica política, não à técnica. Nem se tinha o que pedir em contrapartida, porque o lado brasileiro não tinha se organizado para identificar os pontos de necessidade e de reivindicação. De concreto, havia apenas o furor do Ministro das Comunicações Hélio Costa, de fechar com o padrão japonês a qualquer preço. Ou, de preferência, sem exigência alguma.

Nos últimos dias, sob a batuta da Casa Civil, organizou-se fórum que irá preparar a criação de um Instituto, constituído do pessoal da indústria, da radiodifusão, de software e dos institutos de pesquisa, peça central das negociações com os japoneses e da absorção de tecnologia. O governo entra com recursos, mas também os setores privados, inclusive para aumentar o grau de comprometimento com o instituto.

A idéia surgiu depois dos tropeços iniciais nas negociações com os japoneses. O Brasil não tinha sequer o que pedir, um projeto em cima do qual discutir. A contrapartida colocada na mesa -a fábrica de semicondutores— não avançava porque não se tinha um projeto, um estudo fundamentando as demandas. Não se abre a tecnologia só por pedido genérico, me diz a Ministra Dilma Rousseff, da Casa Civil. Tem que se dispor de um projeto básico e saber especificamente o que pedir.

O que ocorreu -isso a Ministra não diz– foi que, inicialmente, o projeto da TV Digital foi atropelado pelas conveniências políticas do governo. A partir daí, se saiu atrás do prejuízo. A intenção era a de impedir que todo o projeto acabasse se resumindo à transferência de tecnologia de matriz para filiais.

Para absorver a tecnologia tinha-se, inicialmente, de montar grupos nacionais que participassem ativamente do processo de discussões. Depois, com o projeto básico, sabendo o que pedir e o que oferecer, e montar um centro de desenvolvimento que desse graus de liberdade e barganha aos fabricantes nacionais.

Decidiu-se, então, juntar as três pontas brasileiras para começar a definir o projeto.

O primeiro passo foi colocar os grupos para conversar com os japoneses. Definiram-se vários grupos temáticos, constituídos por representantes do Japão e de empresas brasileiras. Aí se desamarrou a discussão e as conclusões começaram a fluir com reivindicações estruturadas para cada tema. Onde o Brasil tinha avançado mais com as pesquisas, a conversa fluiu mais facilmente, como foi o caso do grupo da TV Digital e do grupo da colaboração tecnológica.

Assinado o acordo para a criação do fórum, o setor privado começou a se mover. Partiu dele a sugestão de criação do instituto juntando os nove fabricantes nacionais, produtores de software e institutos de pesquisa. Até as emissoras toparam entrar com recursos -o que demonstra a importância política de que o Instituto se revestiu.

Esse instituto vai garantir o laboratório, a pesquisa, permitir desenvolver protótipos e se ter um nível mínimo de barganha. Principalmente: vai ser o primeiro fórum inter-setorial da nova era digital, juntando todas as pontas que participam do processo.

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Luis Nassif

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