Quais são as perspectivas para a economia brasileira em 2020?

Consumo deve impulsionar crescimento, enquanto desemprego e indústria seguirão como desafios, preveem economistas

Por Larissa Linder

Na DW Brasil

Não é que a economia brasileira esteja pujante – ainda está longe de patamares pré-crise –, mas a previsão de economistas é de uma retomada mais acelerada em 2020. O crescimento deve ser pautado pelo consumo, e não pelo investimento, com desafios para a indústria e para a geração de empregos, afirmam.

Segundo o último relatório Focus do Banco Central, espera-se um crescimento do PIB de 2,3% em 2020, dentro do intervalo que o ministro da Economia, Paulo Guedes, declarou estimar, entre 2% e 2,5%. Para 2019, a estimativa é que tenha havido um crescimento do PIB de 1,17%

Após a lua-de-mel do mercado com o recém-empossado presidente Jair Bolsonaro, as projeções de crescimento foram sendo cortadas ao longo do ano passado, em meio a demonstrações de falta de articulação política por parte do Executivo e a um cenário exterior conturbado, principalmente pela disputa comercial entre Estados Unidos e China.

No entanto, economistas ouvidos pela DW Brasil destacam avanços no ano passado. Confira abaixo a avaliação deles sobre 2019 e suas perspectivas para 2020:

O que melhorou no último ano?

Do ponto de vista do que o governo entregou, os economistas ouvidos pela DW Brasil foram unânimes ao citar a reforma da Previdência, além da liberação do FGTS e da política de redução da taxa básica de juros Selic por parte do Banco Central (BC).

“A mudança mais importante acho que foi o corte da taxa de juros Selic, até porque a economia não respondia, e o governo soltou medidas de estímulo, como a liberação do FGTS”, diz Paulo Gala, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e economista da Fator Administração de Recursos (FAR).

Com juros menores, o crédito se expandiu: de janeiro a novembro, segundo números do BC, a concessão de crédito livre cresceu 15% para pessoas físicas e 12% para pessoas jurídicas. E com mais crédito e liberação do FGTS, o varejo avançou de janeiro a outubro – último mês apurado pelo IBGE – 1,6% em relação ao mesmo período de 2018, além de ter havido seis meses seguidos de crescimento.

Também beneficiada por uma Selic menor, a construção civil conseguiu sair do buraco. Em 2019, o PIB do setor deve ter uma expansão pela primeira vez após cinco anos consecutivos de queda. A estimativa é que o setor tenha crescido 2% em 2019, segundo dados divulgados em dezembro pelo Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP) em parceria com a FGV.

Comércio, serviços e construção são setores que, segundo os economistas entrevistados pela DW Brasil, devem seguir se expandindo em 2020.

O professor da Escola de Economia e Finanças da FGV Antônio Carlos Porto Gonçalves também aponta a redução do risco-país como uma conquista de 2019. O indicador, que mede a desconfiança de investidores, chegou em dezembro ao patamar mais baixo desde 2010, quando o Brasil ainda tinha grau de investimento, ou seja, carimbo de bom pagador.

O que ainda é desafio?

O desemprego permanece como um obstáculo: o Brasil ainda tem 12,5 milhões de pessoas desocupadas, conforme dados divulgados pelo IBGE. No terceiro trimestre de 2019, a taxa foi de 11,8% ante 11,9%, registrado no mesmo período em 2018, e 12,4% em 2017.

E o arrefecimento que se viu veio na esteira do aumento da informalidade, que bateu recorde. “Só dois setores geram bom emprego e em quantidade: industrial e serviços avançados, como tecnologia da informação (TI) e serviços financeiros. Esses dois setores crescem muito menos que o setor de serviços tradicional”, diz Gala. “Enquanto esses setores não andarem, o bom emprego também não vai andar.”

A indústria, observa o economista, segue com dificuldades. O setor acumula queda de 1,1% de janeiro a novembro, e ainda está em um nível de produção 17,1% abaixo do patamar recorde alcançado em maio de 2011, segundo o IBGE.

Mas o desafio vai além da situação econômica brasileira, na avaliação de Vieira. “A indústria tem problemas mais graves, porque ela tem uma parcela de problemas em relação à produtividade, e também por ser um setor, no Brasil, de assemblage, onde muito se monta e pouco se produz em termos reais”, aponta.

Gala, por sua vez, defende que haja um esforço deliberado do governo de reindustrialização do país.

Crescer a partir do investimento, e não só puxado pelo consumo, é outra questão na qual talvez não se avance tanto ainda neste ano, segundo Vieira. “O investimento começa a vir com as concessões, mas concessão tem tempo de maturidade desse investimento. Ainda que o dinheiro entre, a conversão em investimento depende da maturidade do processo”, diz.

O que está na pauta econômica em 2020?

O pacote de privatizações do governo, que avançou timidamente em 2019, deve ter mais ímpeto em 2020. Para Gala, há certa ingenuidade do governo na questão da venda de estatais.

“Em infraestrutura, a entrada do setor privado depende do setor público. Quando o governo faz grandes obras ou contrata grandes obras, aí a iniciativa privada entra para fazer as coisas, mas precisa da articulação do governo”, diz o economista.

Já Vieira acredita que a pasta da Economia acaba propondo um número maior de companhias a serem vendidas para acabar aprovando um volume que gostaria de privatizar.

“Paulo Guedes coloca 200 empresas [no pacote de privatizações] para conseguir 100”, diz. É com as concessões que se espera atrair investimento estrangeiro para o país. “Os estrangeiros têm muito interesse no setor sanitário, e boa parte dele não existe, eles vão ter que começar do zero”, exemplifica.

Na pauta deste ano, ainda caminham as reformas administrativas e tributária, ambas com impacto para a economia. No exterior, o conflito entre as duas maiores economias do mundo, Estados Unidos e China, também pode sobrar para o Brasil, já que gera incerteza e aversão ao risco por parte do investidor, além de possível impacto em exportações.

Redação

5 Comentários

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  1. O Brasil não faz parte do mundo nesta “análise”. O Irã vai continuar dando 2 bilhões de superávit para o Brasil? Depois do acordo gigantesco com os EUA, a China vai continuar comprando a mesma quantia de soja do Brasil? E a Argentina, nada a ver com o que resta de indústria por aqui? Várias medidas que diminuem a renda da população são listadas como “positivas”. Para quem? A economia vai crescer com milhões de “empregos” com renda insuficiente para a alimentação e insuficiente para comprar uma geladeira nas Casas Bahia?

  2. Como ter paciencia com esta galera? Cara 2020 já nasce morto!
    Apenas para fixar no principal: não são 12,5 milhoes de desempregados apenas. Esqueceram os tais “trabalhadores por conta própria” (camelôs?) que chegaram a 24,4 milhões e ainda os 12 milhões do setor privado “sem carteira assinada” (sei lá como o ibge mede isso). Breve nao terão mais fgts para pegar.
    Quanto a Selic, sabemos que o lucro deverá ser da turma do guedes, (denúncia do deputado sobre o sócio oculto) e dos agiotas oficiais que tomam a 4 e emprestam a 8.
    O que estao fazendo é que o povo venda o almoço para jantar.
    E o “mercado” e a imprensa, canalhas e coniventes, aplaudem a maior mentira vista no país nas ultimas décadas. Serão julgados…

  3. Believe on what you wish and positive thinking gets such power that moves the world. Seriously? Yep, this is the current Bolsonaro’s economic pundits mindset.
    Fica melhor em inglês? Acho que não. Bando de enganadores, resume melhor.
    Não entendo nada de economia, como digo e reitero sempre. Mas sei que é impossível crescer este ano, como o era em 2016, 17, 18 e 19. Simplesmente não havia e não há fundamentos que sustentem esse crescimento, inclusive, os 2% previstos agora e que parecem ser aceitos por todos. Em 16, 17 e 18, Meirelles – vivendo no mundo mágico de Oz – prometeu a vinda da fada da confiança e levou bolo. E todo mundo aplaudia, batendo palma prá louco dançar. Em 19 ele esqueceu da tal da fada e ninguém mais falou nela. Foi substituída pelas “reformas” de Guedes que despertariam o espírito animal do empresariado, de aqui e de acolá e o fluxo de investimentos seria estupefante. Passou-se 1 ano e nada. O investidor dorme tal qual a Bela Adormecida. E, pelo jeito, vai continuar dormindo. Exceto é claro, os investidores nativos atochados de ações e títulos de fundos de investimento. No que toca a investidores em investimentos produtivos, novos, é claro, não vale contar “investimentos” em privatizações ou em acquisitions, o buraco é mais embaixo. Na decisão de investir, além das taxas de retorno, o que interesse é o payback e payback depende de fluxo de caixa e fluxo de caixa, ou melhor, geração líquida de recursos internos depende em primeira mão de vendas e vendas dependem do que? De alguém comprar! Ora, montar indústria no Brasil só para exportar não paga a conta, precisam-se vendas no mercado interno. Sem renda do trabalho vai vender prá quem, quem comprará? A classe média estrangulada é que não. Os mais abaixo, muito menos. Como rico compra relativamente pouco e não consume qualquer coisa, o bicho vai pegar. Além do mais, não é só questão de renda, há o fator incerteza que pesa tanto ou mais na hora de consumir. Compro ou guardo para quando der ruim? Só essa dúvida, nem precisa da resposta, já segura o cara. Se não bastasse, desde 2008 a UCI geral da industria vem caindo e no 4º trimestre de 2019 estava em 77,5%, contra os 77,9% do mesmo período do ano anterior (FGV). O cara olha pra fábrica, de cada 4 linhas uma está parada, vai investir e montar outra linha prá ficar parada ao lado da outra? Nuts! Os investidores estrangeiros, não compraram o lero-lero de Guedes, tanto que o fluxo de capital estrangeiro direto para investimento no setor industrial secou. Secou menos em razão das concessões e privatizações no setor de óleo e gás, mas, no geral secou geral. Do governo, como estamos cansados de saber, não virá um vintém furado. Muito pelo contrário, o negócio de Guedes e sua troupe é sell offs and divestitures.
    Sobre o mercado de risco, bombando como nunca se viu (a não ser antes da quebradeira dos fundos de investimento de 1974) penso ser essa outra bolha que vai explodir cedo ou tarde. Preço de ação e, consequentemente, valor de mercado das empresas listadas – aqui vou rezar missa para padre – é baseado em expectativa de ganho futuro. Essa expectativa é sólida quando ancorada na performance de dada empresa e em linha com seus resultados e planos de investimento. O que vemos agora, em muitos casos, são empresas cujos valores de mercado estão acima do valor patrimonial com um descasamento entre a expectativa e o desempenho dessas empresas no mercado real e ausência de projetos de expansão ou mesmo de modernização. Por mais que o wishful thinking e o marketing do “agora vai” funcionem para impulsionar preços especulativos, cedo ou tarde este batem de frente com o valor real do ativo. É aquela velha história, se pode enganar todos por algum tempo, alguns por todo o tempo, mas não dá para enganar a todos por todo o tempo. É só esperar alguém gritar ” o rei está nu” e aí eu quero ver.

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