Seis questões para ajudar a pensar a agricultura e o agronegócio, por Rui Daher, em CartaCapital

Seis questões para ajudar a pensar a agricultura e o agronegócio

por Rui Daher

em CartaCapital

Agricultura e suas afinidades já não são temas muito votados. Imagino, hoje, quando se destroi não um homem inocente, mas a democracia e a continuidade de inserção social no País. O acordo secular de elites tremeu, e demorou pouco para usar do que fosse necessário para sua eterna manutenção. Pedem-me comedimento nas palavras. Mantenho, mas não o desejo da morte deles.

https://www.youtube.com/watch?v=EGyb11knYYo  

Colunistas devem estar preparado(a)s para tomar cacetadas de leitores e leitoras. Ainda mais, se frequentemente na contramão do mainstream, em Federação de Corporações farta de opiniões e pobre de ações. Afagos serão poucos.

Vez ou outra, um escapa.

O caso que cito, menos pelos elogios do que pela compreensão em tema tão importante quanto mal interpretado pela sociedade, vem de Cleso Antônio P. Pacheco, pesquisador na Embrapa Tabuleiros Costeiros, em melhoramento genético do coqueiro. Sua sede fica em Aracaju, Sergipe.

Opina sobre minha coluna anterior, onde critico analistas do setor que (ainda!) colocam agricultura e agronegócio em contraposição, e não em complementaridade, como é o correto.

Um trecho: “A agricultura é uma profissão, nobre quanto qualquer outra, onde é preciso equilibrar ciência, arte e a necessidade de ganhar dinheiro, como num tamborete de três pés. Essa compreensão é vital para se manter em qualquer profissão e ter acesso à cidadania (…) que cada agricultor tenha capacidade de entender e optar pelo que há de melhor em cada uma dessas filosofias, aparentemente conflitantes, e assim, poder participar da construção de um caminho capaz de integrar tudo o que há de mais importante para a paz e a sustentabilidade da vida no planeta”.

Poderia acabar a coluna por aqui. Resume tudo o que venho escrevendo em quase cinco anos de coluna. Parece pouco, no entanto. Resta-me colocar alguns pontos em discussão sobre não transformar agregação de valor com dualidade.

1. Segundo parecer da Advocacia Geral da União (AGU), em 2010, foram opostas barreiras às compras de terras por empresas e fundos estrangeiros. O controle é requerido sair da influência do INCRA para o Congresso. Nem é preciso. Grandes bancas de advogados passam por cima do parecer da AGU com facilidade e muita grana. Três milhões de hectares de terras, o equivalente ao estado de Alagoas, já estão nessa situação. Opinantes: sem terras, não há agricultura, pecuária e agronegócio;

2. Para os patos amarelos da FIESP, o campo só continuará a crescer se forem aprovadas as reformas. Ah, é? Inclusive a trabalhista rural, certo? Vale quantos cargos?

3. Segundo o INPE, nos primeiros anos deste século, Lula empossado, desmatava-se perto de 30 milhões de km²/ano. Entre 2005 e 2015, caiu para 5 milhões, aí se estabilizando, voltando a crescer em 2017. São empreendimentos ilegais de garimpo, pecuária, pequena agricultura e projetos de infraestrutura, e de difícil fiscalização. Opinantes, mais um alerta: o valor econômico da biodiversidade é maior do que tudo isso;

4. Quem nega a necessidade de o Brasil chutar com os dois pés será capaz de impedir as fusões e aquisições dos maiores fabricantes mundiais de insumos agroquímicos? A mais recente em cloreto de potássio no que o país é 100% dependente;

5. Se 1/3 dos lares do Nordeste dependem do Bolsa Família, é agronegócio ou pequenas agricultura e pecuária que lá se praticam?

6. Pra terminar, algo de bom. Há uns dias, escrevi no meu blog no GGN, do jornalista Luís Nassif, sobre o médico e indigenista Noel Nutels, que junto com Darcy Ribeiro e Cláudio Villas-Boas fundaram o Parque do Xingu. Pouca bola. Já esperava. Pois bem, indígenas, agricultores familiares, assentados rurais e extrativistas, estão coletando sementes para recuperar a floresta às margens das nascentes do Xingu.

Tivesse escrito sobre bitcoin ou Luciano Huck deixaria todos mais felizes.