Setor calçadista coloca Franca em 1ª na criação de vagas fora das capitais

“O emprego em Franca está bombando”. A frase de Leonel Alves, de 40 anos, supervisor da produção de uma indústria de calçados em Franca, no interior de São Paulo, resume a percepção de autoridades, empresários e trabalhadores locais.

Os dados do governo federal comprovam o bom momento: sem considerar as capitais, a cidade teve a maior criação de vagas com carteira assinada desde o começo do ano. A explicação para o “fenômeno”, diz a prefeitura, é a retomada do setor calçadista, que volta a crescer em 2010, na esteira do desempenho geral da economia brasileira e da restrição oficial à entrada de calçados chineses no Brasil.

Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) mostram que a cidade de Franca foi a 11ª do país em criação de empregos formais entre janeiro e maio, ficando atrás apenas das capitais de mais peso econômico no Brasil. O saldo de vagas em Franca foi de 11.950, mais do que outras grandes cidades do estado de São Paulo, como Guarulhos e Campinas. Em todo o país, a criação de vagas formais bateu recorde em todos os meses de 2010.

O G1 visitou a cidade de Franca nesta semana. O município, de 330 mil habitantes conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), começou a começou a diversificar sua economia nos últimos cinco anos, com a instalação recente de grandes redes de varejo, mas ainda é dependente do setor calçadista – 70% da arrecadação provém das fabricantes de sapatos e outras empresas da cadeia.

O setor emprega quase 27 mil pessoas na cidade, de acordo com o Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Calçados de Franca, o Sindicato dos Sapateiros. Para o presidente da entidade, Sebastião Ronaldo de Oliveira, “nunca o setor teve alta no emprego em Franca como está tendo agora”.

Um dos trabalhadores beneficiados pela retomada do setor calçadista é o supervisor Leonel Alves, que cuida de 50 funcionários do setor de pranchamento (o “retoque final” do calçado”) de uma fábrica de Franca. Ele trabalha há 28 anos com calçados e diz que esse é um dos melhores momentos de que se lembra.

“Comecei a trabalhar nesta empresa há duas semanas. Deixei currículo e no mesmo dia me chamaram para trabalhar. Desde que entrei aqui, já tive duas propostas de emprego”, conta Alves.

Também recém-contratada do setor calçadista, a bordadeira Orilene de Cássia, 32 anos, diz a vida mudou bastante por conta do bom momento na cidade. Há dois meses trabalha com registro em carteira e benefícios. Além disso, desde o começo do ano, o marido que estava desempregado, também conseguiu emprego em uma indústria de borracha, que faz solas de sapato.

“Estava trabalhando há algum tempo sem registro em uma banca perto de casa. Fui em uma agência de empregos e eles me encaminharam para a empresa”, disse Orilene na porta da fábrica, quando esperava seu horário de almoço.

Em outra fábrica visitada pelo G1, quatro homens conversavam no horário de almoço. Deles, três foram contratados neste ano após um período trabalhando com bicos. Todos tinham histórias de amigos que conseguiram voltar ao mercado neste ano.

“Tem bastante emprego, só não trabalha quem não quer. Mas eles querem gente com experiência”, disse o operário Paulo Pádua. “Inclusive tem fábrica dando R$ 50 para quem indicar gente que tem qualificação”, completou.

Luísa da Silva Ferreira, de 27 anos, sempre trabalhou na indústria de calçados e começou a trabalhar há um mês após um período desempregada. O marido voltou ao mercado formal após oito meses desempregado e a irmã, após um ano sem emprego. Todos no setor calçadista. “Tá mais fácil conseguir emprego para quem tem experiência.”

Bruno Maxuel, 21 anos, concorda: “Mandei currículo num dia e me chamaram no outro. Mas só está fácil para quem conhece o serviço. Eu trabalho desde os 17 anos nessa área.”

Bruno Maxuel, diz que há emprego, mas é preciso ter experiência na área

Bruno Maxuel diz que há emprego, mas é preciso ter experiência na área (Foto: Mariana Oliveira / G1)

 

 As empresas confirmam que falta mão de obra qualificada na cidade. Para conseguir preencher as vagas, a indústria Carmen Steffens, que vende sapatos femininos de luxo, contratou um carro de som para divulgar os postos de trabalho. “Colocamos anúncio em jornal, mas não foi suficiente. Então sugeriram divulgarmos as vagas por meio do carro de som. Deu muito resultado. No primeiro dia começaram a chegar os currículos. Chegaram tantos que montamos um esquema de plantão no RH, depois do expediente, para atender a todos”, conta a gerente de Recursos Humanos, Ana Tereza Lara e Silva.

Ana Tereza disse que dos atuais 1.300 funcionários, 600 foram contratados desde o fim do ano passado e ainda há 35 vagas em aberto. “Vamos abrir um turno à noite para dar conta de atender aos pedidos.”

A gerente de marketing Mariana Betine diz que o bom momento da empresa não se deve somente à retomada da economia brasileira, mas também ao plano de expansão de franquias feitas pela empresa. “Só neste ano abrimos cerca de 25 franquias. Já estamos com várias lojas no exterior. Temos franquias no Paraguai, Argentina, Bolívia. No ano que vem vamos para o Chile. Em setembro, abriremos uma loja em Paris e estaremos no Japão em 2011.”

Trabalhador da fábrica Carmen Steffens, em Franca; empresa diz que falta mão de obra qualificada

Trabalhador da fábrica Carmen Steffens, em Franca; empresa diz que falta mão de obra qualificada (Foto: Mariana Oliveira)

 

Em outra empresa de Franca, a Mariner, o diretor Paulo Roberto Coelho afirma que 2010 está melhor e que, com isso, a indústria já voltou ao patamar de 2008, antes da crise financeira internacional. Dos 600 empregados na unidade principal na cidade, 250 foram contratados de janeiro a maio. Ele explica, porém, que as contratações sempre são maiores nesse período, uma vez que no fim de ano há um grande número de desligamentos. Ainda assim, há perspectiva de contratação de mais 80 pessoas até o segundo semestre.

De acordo com José Carlos Brigagão do Couto, presidente do Sindicato da Indústria de Calçados de Franca (Sindifranca), o setor perdeu 11 mil postos de trabalho no ano passado em razão da crise financeira. A expectativa é de que até junho, o número de trabalhadores chegue ao patamar que estava em setembro de 2008 – 28.500 pessoas. A partir de então, é esperado um crescimento para a indústria.

“Os motivos para essa recuperação pode ser explicada pela pujança do mercado interno, com o aumento da renda das classes C e D, que tem garantido a recuperação do setor. E pela necessidade dos empresários de aumentar a competitividade frente à concorrência interna e a asiática. (…) As empresas de Franca, cada uma com suas particularidades, têm se destacado.”

De janeiro a maio, setor de calçados no país abriu 34,3 mil novos empregos, segundo a Abicalçados

De janeiro a maio, setor de calçados no país abriu 34,3 mil novos empregos, segundo a Abicalçados (Foto: Mariana Oliveira / G1)

 

Antidumping
Brigagão afirma que as medidas para inibir a importação de itens chineses ajudaram o setor calçadista em Franca. “A tarifa antidumping foi uma grande conquista não só para Franca, mas para todo o setor calçadista nacional.”

Desde setembro do ano passado, vigora no país a aplicação de tarifas para importação de calçados fabricados na China. A medida, que tenta combater o dumping (exportação de bens para outros mercados com preços inferiores ao praticado no país de origem), determina o pagamento de US$ 13 dólares para cada par de sapato chinês que entra no Brasil.

A Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) diz que o setor calçadista cresce em todo país, não somente em Franca. “A medida antidumping está gerando a retomada dos empregos no setor como um todo. Há movimentação de mais empregos em todos os pólos calçadistas brasileiros. De janeiro a maio, conquistamos 34,3 mil novos empregos. No período, o setor empregou 354,2 mil pessoas, o que mostra o acerto da medida e a força produtiva do setor”, afirma o diretor executivo da associação, Heitor Klein. 

RANKING DAS 20 CIDADES QUE MAIS GERARAM VAGAS DE JANEIRO A MAIO

Cidade

Saldo de vagas

São Paulo (SP)

119.306
 

Rio de Janeiro (RJ)

39.319
 

Belo Horizonte (MG)

31.166
 

Curitiba (PR)

22.530
 

Brasília (DF)

19.826
 

Fortaleza (CE)

17.052
 

Salvador (BA)

14.217
 

Recife (PE)

13.846
 

Goiânia (GO)

13.438
 

Porto Alegre (RS)

12.646
 

Franca (SP)

11.950

Porto Velho (RO)

10.782
 

Guarulhos (SP)

10.708
 

Manaus (AM)

10.514
 

Caxias do Sul (RS)

9.359
 

Joinville (SC)

8.807
 

Campinas (SP)

8.777
 

Santa Cruz do Sul (SP)

8.000
 

Blumenau (SC)

7.632
 

Piracicaba (SP)

7.382
 

Fonte: Caged / Ministério do Trabalho

 

 

http://g1.globo.com/economia-e-negocios/noticia/2010/06/setor-calcadista-coloca-franca-em-1-na-criacao-de-vagas-fora-das-capitais.html

 

Redação

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