Skype, WhatsApp e Viber ameaçam teles

Da Folha

Serviços como WhatsApp e Skype assustam teles

ROBERTO DIAS
ENVIADO ESPECIAL A BARCELONA

Não foi preciso mais do que uma hora do maior congresso de celulares do mundo, em Barcelona, para as teles deixarem claro o quanto se sentem ameaçadas por serviços que usam a conexão à internet para comunicação, como o Skype, o WhatsApp e o Viber.

São programas que utilizam as redes das teles para oferecer serviços que concorrem diretamente com os oferecidos pelas operadoras. No jargão do mercado, encaixam-se na categoria conhecida como “OTT” (over-the-top), na sigla em inglês.

Um estudo feito por duas empresas do setor (Tyntec e GigaOM) prevê que em três anos os textos enviados via internet terão 60% do “mercado de mensagens” –projetado em 28 trilhões de unidades para 2016.

Segundo esse relatório, a desaceleração dos SMS (uma tecnologia que acaba de completar 20 anos) só não foi ainda mais lenta por causa da instabilidade dos serviços via internet.

A concorrência é tamanha que mexe até com a maior operadora do mundo em número de assinantes, a China Mobile, que leva seu serviço a 700 milhões de pessoas. “As teles deveriam estar mais preocupadas com as OTTs”, afirmou Xi Guohua, presidente da empresa, na abertura do Mobile World Congress, que começou nesta segunda (25) em Barcelona.

Seu temor encontrou eco na segunda maior empresa do mundo em assinantes, a britânica Vodafone (440 milhões).

“As pessoas passaram a usar Skype, Viber, WhatsApp, e nossa receita começou a cair, ou pelo menos sentimos que isso ocorreria”, afirmou Vittorio Colao, presidente da Vodafone. “Então nós pensamos: por que elas não estão usando nossos produtos? Porque [o serviço dos concorrentes] é gratuito, ou é percebido como sendo gratuito. Pode não ter a qualidade do nosso serviço, mas é gratuito.”

Nenhuma delas conseguiu mostrar uma resposta clara ou convincente para o problema. Na Europa, o que as operadoras têm feito é ao menos tentar participar da festa, lançando seus próprios serviços de mensagem gratuita, que podem ser baixados das lojas da Apple e do Android e não carregam as marcas de quem criou. É o caso do “TuMe” (da espanhola Telefónica), do Libon (da francesa Orange) e do Bobsled (da alemã Deutsche Telekom).

O diagnóstico é que os aplicativos para mensagem romperam o circuito de “nerds” e jovens. O caso do WhatsApp é emblemático: na loja do Google, ultrapassou a marca de 100 milhões de downloads e, na da Apple, já liderou o ranking em 138 países.

Tampouco ouviu-se muita ênfase na chamada “neutralidade de rede”, conceito que resume uma das mais importantes batalhas da internet e que engloba a disputa com as OTTs. Grosso modo, a discussão da neutralidade resume-se à seguinte dúvida: a internet deve ser neutra em relação ao uso que é feito dela ou ela deve ter preços e velocidades diferentes para quem transmite ou recebe mais dados?

O conceito talvez não tenha sido enfatizado porque já virou quase um tabu, especialmente entre os ativistas da internet livre. Mesmo assim, as teles não desistiram de apontar a queda-de-braço que está por trás dele.

César Alierta, presidente da Telefónica, lembrou que as empresas concorrentes das teles utilizam a rede mas não contribuem com os esforços necessários para mantê-la e expandi-la –um investimento hoje concentrado no bolso das operadoras.

Luis Nassif

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