Thomas Piketty e o problema da concentração econômica

Sugerido por Assis Ribeiro 

Da Carta Capital

O problema da concentração econômica
 
O livro de Thomas Piketty serve de alerta para a proeminência do capital financeiro no mundo
 
Paulo Yokota
 
A publicação da versão em inglês do livro Capital in the Twenty First Century, do economista francês Thomas Piketty, provocou um novo surto da discussão do problema da concentração econômica. O assunto que vem sendo discutido desde Karl Marx, indicando ser da natureza do sistema capitalista provocar este fenômeno, mostra que mesmo com a aspiração igualitária existente no mundo, expressa na atual política da maioria dos países, como aponta o professor Antonio Delfim Netto, não se conseguiu estabelecer um sistema eficiente desta correção, tanto pela tributação como pelas agências que procuram preservar a concorrência.
 
Nas principais economias do mundo, inclusive a chinesa e a russa, por motivos que vão além da natureza do funcionamento do sistema de mercado, como as privatizações de antigas estatais e suportes governamentais que beneficiaram grupos ligados ao poder, os dados disponíveis mostram que está havendo uma concentração da renda, mesmo com a existência de uma tributação que pretende ser progressiva para corrigir parte do problema. Na realidade, além da renda o que vem ocorrendo é a transferência de patrimônios que privilegiam poucos.

 
Alem do que ocorre ao nível dos contribuintes individuais, e das atividades que por razões tecnologias determinam tendências monopolísticas, as dimensões crescentes dos grupos econômicos se inclinam à formação de oligopólios aproveitando as vantagens das escalas. Nem mesmo a existência de algumas agências que têm como finalidade a preservação dos mecanismos de concorrência corrige esta propensão. Constata-se que nos processos de desenvolvimento acelerado das economias, aproveitando os ganhos das dimensões, mesmo com intenções oficiais de melhoria da distribuição da renda, ocorrem acentuadas concentrações que nem sempre são neutralizadas.
 
O setor financeiro aparenta ser o que mais determina o aproveitamento de sua dimensão, provocando inclusive o controle de outros segmentos da economia. Chega a dificultar medidas corretivas ou punitivas de parte das autoridades, mesmo quando constatados comportamentos condenáveis, como os que estão sendo divulgados recentemente. Alegam riscos sistêmicos que possam até abalar algumas economias nacionais, consagrando-se o princípio de que são demasiadamente grandes para falirem.
 
Tradicionalmente, o setor de petróleo é clássico onde algumas poucas empresas possuem participação preponderante, com o abuso do poder político que conseguem, mesmo que tenham sido combatidas. O desmembramento da antiga Standard Oil resultou nos Estados Unidos, na primeira metade do século XX, em alguns artifícios para a continuidade de grandes grupos econômicos, como a criação de holdings.
 
Também as commodities agrícolas sempre contaram com as chamadas “majors”, que aproveitaram as vantagens das suas escalas mundiais para operarem, num número limitado, no comércio internacional. As dimensões mínimas existentes em algumas atividades sempre favoreceram que poucas empresas tivessem um papel preponderante em alguns setores como ocorre na mineração, siderurgia, produção de alumínio, papel, cimento, farmacêutica, construção pesada e muitos outros. Não é um fenômeno que se restringe a alguns países, inclusive, independe do regime político adotado.
 
Atualmente, a dimensão e o poder do segmento financeiro acabam inibindo ações de controle de organismos internacionais como o FMI – Fundo Monetário Internacional, BIS – Banco Internacional de Compensações (o banco central dos bancos centrais), o BCE – Banco Central Europeu entre outros. Todos sabem que alguns bancos deflagraram a crise mundial a partir de 2007/2008 e, no entanto, receberam assistência astronômica de alguns países para evitarem um mal maior. Os seus lucros foram exorbitantes, premiando dirigentes que deveriam ser punidos por gestões perigosas.
 
Os fluxos financeiros que superam em milhares de vezes as movimentações comerciais continuam sem possibilidade de regulamentação, ainda que os especialistas entendam que eles devam ter algumas restrições importantes. São desequilíbrios que podem conduzir a situações perigosas, diante das exageradas concentrações econômicas, onde o poder político ainda não encontrou mecanismos eficientes para suas correções. Mas, é necessário que continuem tentando, pois devemos crer que um mínimo de racionalidade acabará prevalecendo.
Redação

9 Comentários

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  1.  
                Que

     

                Que estardalhaço está fazendo esse livro!

               Mesmo sendo contestado(dados falsos ou subjetivos) por periódicos influentes no MUNDO,continua com sucesso.

               E sabe quantos exemplares vendeu até agora? Menos de 200 000

                Sendo assim, prefiro acreditar em Paulo Coelho e J.K. Rowling que juntos estão chegando perto do BILHÃO DE livros vendidos.

                   Ou na Bíblia.

    1. Você está ERRADO

      As conclusões de Piketty só foram contestadas pela Financial Times que cometeu erros ao tentar replicar os resultados do autor. Aliás a The Economist já afirmou que o Financial times esta errado.

      Para vocês se informar melhor:

       

      http://www.theguardian.com/business/2014/may/26/thomas-piketty-financial-times-dishonest-criticism-economics-book-inequality

       

      http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed800_economist_diz_que_criticas_do_ft_a_piketty_nao_se_sustentam

       

      1.  
        Eu li. 
        Li Até no

         

        Eu li. 

        Li Até no JapÃO(estou procurando o site) em inglês é claro.

            Então vamos fazer um exercício de raciocinio( supondo que o belíssimo esteja certo)

                  Aumentou a desiguadade.Como resolver?

                  Aumentou a tecnologia(uma máquina substitui trocentos empregados) Como resolver?

                  Aumentou a concentração de renda.Mas não foi de graça.Houve empenho,estudo e trabalho pra isso.Como resolver?

                    Se a tecnologia avança ,evidente que o emprego cai. Se o bolsa família ou outras benesses paga minha comida ,evidente que não procuro emprego—vc sabia que estão pagando motel com promessa do pga do bolsa família? E no jogo de bicho tbm? Pois é.

                      A concentração de renda NUNCA aumenta.É uma falácia falar isso pra empre4sários. Porque o que eles ganham ,eles reinvestem e criam mais empregos.E a retirada é  sempre a mesma

                    Mas se vc falar pra mim desses sangues sugas dos rentistas que não produzem nada,não criam empregos ,ganham uma fortuna dormindo ou jogando golf é outra história.

                    É desse caras que  o mundo deve tomar medidas.Uma delas é não pagar mais juros(sangue do povo) pra eles) É simples assim? Claro que não.

        Mas num esforço mundial conjunto de todos paises que são cafetinados pelos rentistas, alguma ideia teria que nascer pra acabar com esse roubo legalizado.Essa é a parte que odeio no capitalismo.

                   Não tenho problemas com empresários ricos trabalhadore,empreendedores etc.

                   Minha bronca são com os vagabundos rentistas.

                              

         

  2. O buraco é mais embaixo

    O livro do Piketti prova empiricamente que toda vez que a taxa de retorno sobre o capital for maior que a taxa de crescimento econômico haverá uma tendência a concentração da riqueza e conseqüentemente da renda.

     

    De certa forma ele criou um novo fato estilizado como os de Kaldor.

     

    Ocorre que em todos os modelos de crescimento econômico, sejam eles, neoclássicos (e:, modelo RCK), quanto  heterodoxos (ex. modelo de Pasinetti), no estado estacionário, a taxa de retorno sobre o capital é maior que o crescimento econômico. O estado de equilíbrio ocorre quando o investimento é igual a depreciação, e a economia atinge o equilíbrio, o que pode ocorrer durante um período de crescimento. Ou seja, é a taxa de crescimento econômico balanceado onde a trajetória de crescimento de todas as variáveis é constante ao longo do tempo.

     

    No modelo RCK no estado estacionário a produtividade marginal do capital deve ser igual a soma entre a taxa de desconto inter-temporal e a taxa natural de crescimento. Assim se a taxa de desconto for positiva a taxa de retorno sobre o capital será maior do que a taxa de crescimento econômico.

     

    No modelo de Pasinetti (ou Kaldor-Pasinetti) a taxa de lucro é igual a razão entre a taxa natural de crescimento e a propensão a poupar dos capitalistas. Se a propensão a poupar for menor do que 1 (um) então a taxa de retorno sobre o capital será maior que a taxa de crescimento econômico.

     

    Em ambos os modelos (e todos os demais modelos de crescimento que podem ser minimamente considerados) a distribuição funcional da renda é estável no longo prazo.

     

    Se piketti estiver correto (ou seja, se não houver nenhum erro em suas estimativas) então: (i) ou os modelos usados por 99% dos economistas, estão errados, (ii) ou os modelo estão certos, a distribuição funcional da renda é estável mas a mesmo assim a renda como um todo tende a se concentrar.

     

    Se este for o caso não há nenhuma força inerente ao sistema capitalista que leve ao equilíbrio distributivo. O que significa que o problema não é a prevalência dos interesses rentistas na economia após (e durante) os anos 80 como o texto parece sugerir. O problema é o próprio capitalismo, independente da forma como ele se manifeste.

     

    Sobre essa controvérsia em relação ao modelo neoclássico veja aqui: http://onpoint.wbur.org/2014/04/29/piketty-mankiw-inequality-america-middle-class

     

    Sobre essa controvérsia em relação ao modelo pós-keynesiano veja aqui: http://ineteconomics.org/blog/institute/triumph-rentier-thomas-piketty-vs-luigi-pasinetti-and-john-maynard-keynes

     

    Modelo RCK -> http://www.econ2.jhu.edu/people/ccarroll/public/lecturenotes/growth/ramseycasskoopmans.pdf

     

    Modelo de Pasinetti -> http://www.memoria.nemesis.org.br/index.php/ppe/article/viewFile/872/809

     

    1. “O estado de equilíbrio

      “O estado de equilíbrio ocorre quando o investimento é igual a depreciação, e a economia atinge o equilíbrio, o que pode ocorrer durante um período de crescimento.”

      Que coisa suja pra se analisar.

      Significa que o objeto da produção (valor pelos seres) tem a mesma depreciação do dinheiro eletrônico investido, que é o ser real dos modelos de crescimento econômico. O crescimento econômico é considerado então como transportado para dentro dessa base periódica do sistema bancário – equilibrio – e como só existindo por ele. 

      E o investimento externo que o país poderia chamar de crescimento desrealizado?

      Isso é a Ciência da Economia?

        1. Qual sua duvida? Se vc não

          Qual sua duvida? Se vc não endende nada sobre o que está por tras do financismo pq entrou no asunto?

          1. Não entendi o que você

            Não entendi o que você escreveu.

             

            Talvez menos floreio ajude.

             

            E não disse que dominância do capital financeiro não era importante. Apenas disse que a crítica do Piketty é mais profunda.

  3.  Nem os países nem a
     

    Nem os países nem a sociedade têm razão de ser em uma concentração econômica. 

    É inegável que o dólar tem a tendência de causa do sistema econômico, porque no salto para um esquema interpretativo da concentração privada, a sua conversão transobjetiva é fortemente atraída para o valor dos déficits públicos, pois é o primeiro a fazer o encadeamento que conduz os demais países ao início do desenvolvimento e expansão do dinheiro nacional, em  termos regressivos.

    Embora o dólar seja o primeiro de nossos conceitos de valor objetivo, ele passa a ser causado no movimento de segunda causa; quando vai pra conta do BACEN; se torna swap dos capítulos diários da especulação de casos invertidos com as aplicações particulares de causação. 

    Mediante as exportações pode acontecer uma causa racional da redução do déficit público. 

    Com o surgimento do dinheiro eletrônico, pelo esquema interpretativo dos bancos, o dólar de causa sai de cena para que a função de causados possa dar aos países o apoio necessariamente ligado a manter uma razão de posição à existência de valor da sociedade com a nação; mas concretamente não estabelecemos a conclusão da importância deste método primado, enquanto somos substituídos. Só vemos a causa evidente do país, por si mesmo, pela que atravessa fronteiras alheias.

    A gente não nota que tudo isso está acontecendo sem que o Estado e o valor real recorram a qualquer princípio de posição espacial para que, em mais ou menos verossimilhança de origem, o país possa reproduzir dois ou mais objetos distintos com esse ou aquele efeito apoiados nas mudanças de um valor reflexivo; ou seja, no momento em que se exerce os sentidos da mesma noção de ser no tempo; e, portanto, a questão de mais ou menos de verossimilhança da concentração privada não se deva à fuga metafísica da “razão de referência” da reserva de valor. 

    É possível pensar o Estado como valor contingente pelo efeito causado por “razão de referência” (definição de todos países, ao mesmo tempo, à uma só razão) do princípio de identidade fundamental – qual seja: se supomos que um tal objeto será produzido por causa do valor dele mesmo, que o remontemos como fonte da sua própria reserva de valor para identidade local – de modo que os países se tornem um reflexo do mundo e não o contrário.

     

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