Tombini: “Não estamos à beira do abismo”

Do Zero Hora

“Não estamos à beira de um abismo”, diz presidente do BC

Alexandre Tombini diz que é “factível” crescimento de 4% da economia em 2013

Maria Isabel Hammes

Sempre com base em diagnósticos apurados, ele acompanha e projeta o dia a dia da economia brasileira e o cenário internacional com lupa. Estima o futuro de juro, inflação, dólar e reservas internacionais. Mas se tem algo sobre o que o porto-alegrense Alexandre Tombini, presidente do Banco Central, não se arrisca a dar palpite é a possibilidade de o time do coração conseguir a difícil vaga para a próxima Libertadores. Habituado a acompanhar o time com o filho no Beira-Rio, agora faz isso cada vez menos:

— Não gosto de gastar meus prognósticos aqui.

Se evitou brincadeiras sobre o Colorado, o economista, 48 anos, pai de um casal de filhos, não deixou pergunta sem resposta na entrevista exclusiva de pouco mais de uma hora a ZH, na metade da semana passada, em um gabinete no sexto andar do BC, na Capital, com bela vista para o Guaíba.

No seu panorama, estão ainda juro menor que veio para ficar à inflação em cenário “descendente” e o esperado crescimento da economia, já perceptível neste semestre, mas solidificado em 2013, quando concorda com o mercado sobre a possibilidade de o PIB atingir 4%.Tenista amador, mas “suspeito para julgar o desempenho” nas quadras, avalia que o mundo não está mais à beira do abismo como parecia há seis meses, embora pense que a crise internacional ainda vá perdurar por mais dois anos. Melhor levar a avaliação a sério: em agosto do ano passado, Tombini desafiou as apostas do mercado bancando uma redução surpreendente do juro. Enfrentou calado críticas de perda de independência do BC, de submissão à política econômica do governo. Um ano depois, é saudado como um acurado profeta da deterioração do quadro internacional.

Considera “extremada” a preocupação com a dependência da China, da mesma forma como salienta o cenário positivo do Brasil frente ao investidor estrangeiro. Sem pressa, sem demonstrar emoções e ainda sem alterar a voz em único momento diante de questões melindrosas, como superendividamento e cruzada contra altas taxas de juro, só se permitiu um rápido sorriso quando pediu, brincando, que sua fotografia devia sair “bem” porque sua mãe, Corinha, leitora de ZH e moradora da Capital, “com certeza, vai ver”. 

Gostou, dona Corinha?

Zero Hora — Foram 10 cortes na taxa básica de juro e benefícios fiscais pesados _ desoneração da folha de pagamento, redução do IPI para automóveis, móveis, linha branca, entre outros instrumentos de incentivo. O que deu errado no caminho para o Brasil crescer só 1,5% este ano? Foi a crise internacional?
Alexandre Tombini — O Brasil enfrentou um típico ciclo de negócios. Vinha crescendo numa velocidade forte em 2010, tivemos de desacelerar. Um conjunto amplo de políticas foi adotado para reequilibrar a economia brasileira, mas que coincidiu, em meados de 2011, com o agravamento da situação internacional. Tivemos de reverter o curso dessas políticas, mas, possivelmente, o vale do ciclo econômico foi no segundo trimestre deste ano. 
Como você mencionou, a taxa de juro foi reduzida por parte do Banco Central e introduzidos os estímulos de natureza tributária. Essas políticas funcionam, estamos vendo agora a economia já pegando mais tração, acelerando. A recuperação demorou um pouco mais, foi mais aprofundada do que em tempos normais. Acho que a causa é o cenário internacional. Mas, neste semestre, a economia cresce numa velocidade anualizada de 4% . Não é o BC que está falando isso. São os próprios participantes do mercado, as agências internacionais, como o FMI, que preveem crescimento de 4% para 2013.

ZH — Índice factível?
Tombini —
 Sim, factível diante de dois conjuntos de fatores, essencialmente. O primeiro deles é de sustentação da demanda. O mercado de trabalho continua forte. Estão sendo gerados mais de 1 milhão de empregos em 12 meses. A renda real do trabalhador continua crescendo na faixa de 3% em termos reais. Ou seja, de um lado há o mercado de trabalho que cria emprego e, do outro, a renda ainda em alta: com isso, a massa salarial cresce na faixa de 5% em 12 meses. Isso é propagação de demanda para frente.

ZH — Então, o mercado interno é o que continua sustentando o país?
Tombini —
 Aliado a isso, também temos o mercado de crédito que cresce 15%, 16%, 17% ainda, ritmo mais moderado do que foi no passado. Então, o mercado de trabalho, a renda, a massa salarial e o crédito são fatores da sustentação da demanda. Além desse conjunto, tem outro que é o dos estímulos: formado pela redução na taxa básica de juro, além da compressão significativa dos spreads bancários e as desonerações tributárias. Tudo isso nos indica que a economia de fato tem sustentação para esse tipo de crescimento, observado já no trimestre encerrado em agosto, algo de mais de 5% anualizado. É o que mostram os indicadores, como o IBC-BR, coincidente do PIB, e também a produção industrial. Sim, já neste semestre, teremos  melhora do crescimento.

ZH — Mesmo que a crise internacional ainda não mostre sinais de ser solucionada?
Tombini —
 Bom, temos fontes internas de crescimento no Brasil capazes de nos levar nesta velocidade. Independentemente do cenário internacional, o Brasil tem de se voltar paras suas oportunidades,  continuar consumindo e aumentando os investimentos. Sobre a crise internacional, a nossa visão hoje é de que a probabilidade de ocorrer um evento extremo diminuiu muito. Não estamos à beira de um abismo, como estivemos em algum momento há seis, 12 meses. A  sensação de insegurança dos mercados internacionais passou porque várias medidas foram endereçadas. O problema do funding, a liquidez dos bancos europeus, mas o BC europeu agiu: botou 1 trilhão de euros. A questão do capital dos bancos europeus também foi enfrentada,  houve a sinalização de até bilhões de euros para o sistema bancário espanhol, além de outras ações. É claro que a velocidade não é suficientemente rápida para dissipar qualquer incerteza por parte dos mercados, mas são passos na direção correta, que têm reduzido significativamente a ocorrência de eventos extremos, No momento, vários grupos procuram reduzir a sua alavancagem, grau de endividamento. Com isso, naturalmente, o crédito nessas economias cresce de uma forma menor do que antes da crise, há processo de desalavancagem das famílias, que se endividaram muito nos EUA, e também dos governos na Europa, onde a relação dívida/PIB cresceu muito. Com a desaceleração econômica que veio na esteira da crise financeira, houve perda de receita, aumento de gastos automático, do seguro-desemprego. A dívida cresceu muito nestas economias. Esse processo de redução do peso da dívida do setor público na Europa e EUA é demorado. Nós já vimos este caso no Brasil quando tivemos de colocar relação dívida/PIB em uma trajetória inequivocamente declinante. Ou seja, será ainda período prolongado de baixo crescimento.

ZH — Quanto tempo?
Tombini — Dois anos.

ZH — E esta crise começou em 2008.
Tombini —
 Ou em 2007. Mas é neste ambiente, marcado por certa estabilidade no preço das commodities e da mitigação dos riscos mais extremos que congela as decisões, que vamos ter de operar nos próximos meses. O Brasil, porém, está bem posicionado para olhar para dentro de nossas fontes de crescimento e tocar os investimentos, tocar o consumo.

ZH — Apesar da queda do juro ter sido repassada pelos bancos ao tomador final, as taxas ainda são consideradas muito altas. Existe espaço para o juro cair mais no Brasil?
Tombini —
 Sobre a política monetária, tivemos alguns fatores de convergência em relação ao resto do mundo. Avançamos muito na questão da vulnerabilidade externa e fiscal, temas tratados com seriedade. Isso nos permitiu uma convergência maior também do custo do dinheiro no país. A taxa básica reflete em parte esse processo. Há outra questão conjuntural: o problema que a economia global enfrenta. Então, essas duas coisas coincidem. Tenho dito que, no futuro, os ciclos monetários ainda continuam presentes, haverá aumentos e reduções no que se refere à política monetária, mas o ambiente de juros que o Brasil vive hoje veio para ficar. E também houve a compressão dos spreads bancários. O processo não se encerra agora, foram vários meses de redução da taxa básica. Um processo até gradual porque também tem de haver adaptação do próprio sistema a esse novo cenário. Os agentes têm olhado para este novo ambiente mudado de forma estrutural e que, desta forma, precisa ser levado em consideração nas suas decisões de investimento, de alocação da poupança. Mas acho legítimo pensar que nós vivemos num novo ambiente.

ZH — Apesar do novo ambiente, sempre se mostra o Brasil liderando ranking mundial em termos de juro real. Por que a taxa ainda é tão alta?
Tombini —
 Acho que tem de consolidar, enfim. Ainda temos uma meta de inflação de 4,5%, enquanto outros países comparados ao Brasil contam com metas mais baixas. Alguns mais altas, mas a maioria mais baixa. Ou seja, onde estamos também não é só vontade de chegar. A política não se faz por analogia: devemos estar ali porque outros países também estão, não é isso. É uma construção. Vários passos foram dados em relação ao passado. Antes, para estabilizar a inflação, tinha de ser usada taxa de juro de dois dígitos, bem maior.

ZH — O instrumento clássico para ser usado, certo. Baixa juro quando precisa ativar a economia, aumenta quando tem de segurar.
Tombini —
 Sim, mas esse instrumento pode ser utilizado em outro intervalo, como se viu no nosso seminário de inclusão financeira. O processo de inclusão financeira foi forte no país. Assim, hoje, mudanças na taxa de juro influenciam mais pessoas no Brasil, tanto nas decisões de poupança quanto nas decisões de tomar crédito. Cerca de 40 milhões de pessoas entraram na classe média: o número de contas dobrou, houve uma bancarização muito forte no país. Isso certamente tem impacto importante sobre a política monetária. Outros países têm outras realidades, mas o importante é que o Brasil continua avançando, consolidando os seus pilares institucionais da política macroeconômica.

ZH — Com este aumento da participação da população no sistema financeiro, há também o outro lado: o superendividamento. A questão preocupa o BC?
Tombini —
 No BC, temos dois objetivos, duas missões: estabilidade monetária e estabilidade financeira. O BC faz a supervisão e a regulação. Olhamos essas questões da estabilidade com bastante cuidado, faz parte do nosso dia a dia. O crédito cresceu: há 10 anos, 25% da economia era financiada, hoje é em torno de 50%, um pouco mais. Ou seja, a metade da economia hoje é financiada pelo crédito bancário. Então, o reflexo é que o endividamento sobe quase na mesma proporção, crédito é dívida. Em relação ao endividamento em termos de comparação internacional, é um grau razoável, 44% da dívida em relação à renda. E, comparado ao comprometimento da renda com o serviço da dívida, fica em 22%, pouco maior pela nossa taxa de juro. Mas o juro ao tomador final caiu entre oito e nove pontos. Assim, quando você olha para o estoque de endividamento no Brasil e para as novas taxas, vê comprometimento menor da renda com o serviço da dívida, curva declinante. As coisas estão melhorando em relação ao endividamento, não piorando, bem como as condições de financiamento e refinanciamento das dívidas. Como regulador prudencial e supervisor do sistema e como responsável pela estabilidade financeira sistêmica do país, olhamos todas as variáveis. E, o que vemos hoje, é situação de melhora das condições, não de agravamento.

ZH — A propósito da missão de regulador e de fiscalização do sistema, houve recentemente algumas intervenções do BC em instituições financeiras que não ocorriam há bom tempo. Foram episódios pontuais ou a situação preocupou?
Tombini —
 Estou no BC há quase um ano e nove meses. Posso dizer que, hoje, o sistema está mais seguro e forte do que há dois anos. Houve de fato algumas intervenções. O BC interveio justamente para tratar de casos isolados, sem uso de recursos públicos e sem qualquer risco à estabilidade sistêmica. Atuamos em cima, detectamos problema, foi uma ação consistente do BC.

ZH — A inflação deve passar do centro da meta (4,5%) este ano . A taxa hoje superior a 5% o  deixa desconfortável?
Tombini —
 Bom, o sistema é mirar na meta, é o que fazemos. Estamos passando por um choque de preços de alimentos, causado pela seca de grandes proporções nos EUA, entre junho e julho. O preço do milho, da soja e do trigo também sofreram impacto grande, com repercussão na cadeia dos alimentos, isso desviou a inflação corrente do nosso objetivo. As expectativas subiram, as nossas projeções também. Só para lembrar, em junho antes do choque, o mercado achava que a inflação ia pra 4,85% e continuaria descendo, outros até previam mais baixa. A nossa projeção, com o relatório inflação de junho, era de 4,7%, mas houve o choque. Identificamos e tratamos de cuidar de uma eventual propagação. Os índices no atacado já começaram a voltar. Hoje (terça-feira), saiu o IGP-M de  outubro, está com inflação basicamente zero, 0,02%, a inflação dos alimentos está caindoNo atacado, há deflação. Talvez tenhamos uma inflação ainda acima por mais este mês ou o próximo. A convergência ao centro da meta continua, mas de maneira não linear. E também, além da quebra lá fora, tivemos problemas com frutas e verduras aqui no Brasil. Mas a questão já está se normalizando, isso vai e volta. A nossa previsão é convergir para o centro da meta no terceiro trimestre de 2013, é a projeção do relatório de inflação agora de setembro.

ZH — O câmbio a R$ 2 é valor realista com este novo cenário do Brasil?
Tombini —
 O que nos diz o mercado é uma estabilidade neste campo nos próximos 12 meses. Saiu de R$ 1,65, R$ 1,70 em meados do ano passado, por uma série de fatores, para o nível atual. A  intervenção do BC tem sido limitada, foi muito maior em outros períodos, como no primeiro semestre de 2007, no início do ano passado e início deste ano. Então, está respondendo também a forças do próprio mercado. Não há dúvida de que entre o que estava e a reversão há alguns efeitos. É bom lembrar também que o repasse do câmbio para a inflação hoje é muito menor do que era, por exemplo, quando nós instituímos o sistema de metas de inflação em 1999.

ZH — Menor mas ainda com influência, certo?
Tombini —
 Sim. Do ponto de vista do BC em relação a fluxos, não de câmbio, em um ambiente de alta liquidez, o nosso cuidado é assegurar ao longo do tempo a estabilidade financeira. Ou seja, quando entra muito dinheiro muito rapidamente e, depois, sai muito rapidamente, gera consequências.

ZH — O interesse do país não é o capital especulativo, mas para investimentos.
Tombini — 
Tomamos algumas medidas ali atrás e, hoje, vemos a composição dos fluxos bem diferente do que era no começo de 2011. Como exemplo, o fluxo de curto prazo e o de arbitragem, bem menores. Houve medidas prudenciais para evitar esse excesso em curto espaço de tempo. Podemos olhar, em particular, para o fluxo da área do investimento direto estrangeiro. Nos últimos 12 meses, é de quase US$ 64 bilhões no país. O segundo país que mais recebe investimento na América Latina é o México, com  US$ 19 bilhões em 2011, não é nem um terço. O valor do Brasil dá a dimensão do interesse pelo país. Mas é claro que também precisamos ficar atentos a posições especulativas no câmbio, como em 2008, algo que, neste momento, não existe.

ZH — O tsunami monetário preocupa?
Tombini —
 Do ponto de vista do BC, duas dimensões nos preocupam: quando entra e sai muito dinheiro de forma rápida, que pode deixar um rastro de problemas. Em segundo, ele milita contra a nossa política de controle da inflação. Por mais que você acumule reservas, esterilize o impacto monetário dessa acumulação, enxugando os reais que sobram no mercado, o crédito cresce numa velocidade mais rápida, há uma convergência dos preços ativos, os imóveis sobem muito mais rapidamente. Enfim, há toda uma consequência que pode impactar no controle da inflação. Olhamos com preocupação os potenciais desdobramentos de política monetária em outros países, principalmente Europa, EUA e Japão. Você tem de ter muito cuidado com essa liquidez. Em relação a essa última volta da política monetária norte-americana, ainda é muito cedo, os efeitos são cumulativos, recursos são liberados mensalmente. No momento, temos certa tranquilidade neste front. Mas o Brasil está preparado e, sempre que necessário, vai tomar as medidas para assegurar a estabilidade monetária e financeira.

ZH — A China é o principal parceiro do Brasil hoje, mas o senhor fala que há percepção extremada de que a economia nacional é dependente da daquele país. Como se explica isso?
Tombini —
 Houve crescimento muito grande dos negócios com a China nos últimos anos, passou a ser o segundo maior parceiro nosso depois da União Europeia. Quando você vai aí fora, a primeira pergunta é que, com a desaceleração da China, o Brasil vai sofrer. Ainda somos uma economia relativamente fechada: as exportações brasileiras sobre o PIB são 10,7%, antes eram 12%. Nossas exportações para a China cresceram muito: 17% do total das vendas externas. Mas, quando você junta essas duas coisas, exportação brasileira para China representa em torno de 2% do PIB do país. As pessoas não fazem esta conta. A impressão que se tem lá fora é de que seria muito maior, 20%, 30%. Não, é de 2% a participação das exportações brasileiras para China em relação ao PIB. Esta visão de dependência da China é exagerada.

ZH — Mesmo assim, há receio com a desaceleração para crescimento chinês na faixa de 7,5%?
Tombini —
 Não. Minha visão é de que as autoridades têm capacidade de administrar o pouso suave, a desaceleração para 7,5% ao ano. Ao mesmo tempo, vão tomar as medidas necessárias para que isso ocorra, ou seja, para que não haja uma desaceleração maior. Da mesma forma, parece que há preocupação de não tomar as medidas que causaram desequilíbrios, principalmente na esteira da primeira fase da crise, em 2009, quando  houve uma grande ênfase nos investimentos, grandes obras de infraestrutura lá. Agora, eles estão em um processo de transição de uma economia exportadora e de grandes investimentos mais voltado, agora, a investimentos para as cidades, indivíduos, setor imobiliário. E, também, uma economia um pouco mais baseada no consumo do que na exportação. Estão determinados nesse sentido e cuidando para não adotar os mesmos incentivos do passado recente.

ZH — Este recorde nos investimentos estrangeiros está mais ligado à potência que emergiu ou aos eventos que o país vai sediar em 2014 e 2016?
Tombini —
 As duas coisas estão interligadas. Só conseguimos estes grandes eventos pelo estágio da economia brasileira. O que vemos nos investimentos é uma distribuição bem equilibrada entre serviço, indústria, pouco menos no setor primário, uma pulverização. Temos visto consistência e distribuição dos investimentos na economia brasileira, vinculados, sim, à área de infraestrutura, uma necessidade, e ao mercado de consumo doméstico, na parte de serviços. O investidor estrangeiro vê a determinação do país de consolidar isso e não reverter. Há investimentos no setor de energia, no sistema financeiro. É uma demanda muito grande, todo mundo faz pedidos no BC para entrar no Brasil.

ZH — O governo atacou juro, desonerou folha de pagamento, mexeu nas tarifas de energia, anunciou novas concessões. O que falta agora, a reforma tributária?
Tombini —
 Na questão de infraestrutura, uma nova rodada para aeroportos vem mais nos próximos dias, semanas. Certamente, há agenda pela frente. Neste novo ambiente, temos alguns desafios a considerar: a questão de desindexação da economia. A tributária não é minha área, mas o governo tem foco nela, procurando fazer uma desoneração mais horizontal da carga tributária, estamos progredindo. O BC não capitaneia isso, cuida da demanda, mas esta agenda ajuda a aumentar o crescimento potencial da economia no futuro, um crescimento não inflacionado da economia brasileira.

ZH — Na questão da agenda do juro, o governo parece que mira, agora, nas altas taxas dos cartões e, neste campo, os clientes reclamam das tarifas dos bancos, cobrando mais transparência.
Tombini — 
Houve uma grande reforma nas tarifas bancárias. Hoje, a mesma tarifa tem o mesmo nome em qualquer banco, seja de varejo ou não. Você pode ver quanto custam essas tarifas, comparar a mesma linha tarifária em vários bancos, todas as linhas tarifárias com informação disponível, de muito boa qualidade, já há uns dois anos. Os cartões são um meio de pagamento que giram em torno de R$ 400 bilhões/ano, cerca da metade diz respeito ao parcelado. E 10% do total é financiada pelo rotativo, ou seja, não é paga, mas ali as taxas maiores têm diminuído. Várias instituições anunciaram reduções importantes nessas taxas. Estamos olhando para ver isso em uma perspectiva mais de comparação internacional. O tamanho dessa questão tem de ser entendido.

ZH — Existe a possibilidade de o prazo do rotativo ser reduzido?
Tombini —
 O BC nunca falou isso, talvez uma instituição financeira tenha indicado. Aumentamos o pagamento mínimo de 10% para 15% do total da fatura. Se elevarmos mais, a primeira coisa que acontece é aumentar a inadimplência. A estatística da inadimplência salta automaticamente. 

ZH — A inadimplência hoje preocupa?
Tombini —
 Hoje, deu uma estabilizada em níveis ainda altos, mas já está virada para baixo.

Para entender o tombinês

— Spread bancário: diferença entre o que os bancos pagam na captação de recursos e o que eles cobram ao conceder um empréstimo para uma pessoa física ou jurídica. No valor do spread bancário estão embutidos também impostos como o IOF e o CPMF. Nesse contexto, o termo inglês “spread” significa “margem”.

— Desonerações tributárias: medidas pelas quais o governo abre mão de tributar um ou outro setor 
— Funding: substituição de uma dívida, geralmente de curto prazo, por outra de prazo mais longo
— Alavancagem:  significa investir mais do que a nossa capacidade financeira permitiria. A alavancagem pode tomar a forma de um financiamento ou outro tipo de empréstimo, o qual é investido com a intenção de ganhar uma maior taxa de retorno do que o custo do juro desse financiamento ou empréstimo.
— Política monetária: controle da oferta da moeda, de crédito e das taxas de juros, no sentido de que sejam atingidos os objetivos da política econômica global do governo ou controle do sistema bancário exercido por um governo na busca da estabilidade do valor da moeda.
— Regime de metas de inflação: resguarda o poder do Banco Central em conduzir a política monetária de forma a cumprir a meta de inflação determinada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) para os dois anos subseqüentes. Existe uma meta, há um resultado a ser atingido e há poder para se chegar nela.
— Tsunami monetário: a presidente Dilma Rousseff lançou a expressão para apelidar as medidas dos países ricos para tentar salvar suas economias _ a injeção de dinheiro vivo no mercado, que jorraria por aqui, valorizando o real.
— Concessão: instrumento por meio do qual se descentraliza a prestação de serviços públicos para particulares.
— Inadimplência: situação em que uma pessoa ou empresa deixa de cumprir um contrato, especialmente  no que se refere ao pagamento ou cumprimento de obrigações contraídas.


Luis Nassif

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