Uma overdose de heterodoxia pode ser fatal, por Ricardo Hausmann

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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Articulista faz paralelo com Revolução Cultural chinesa e caos venezuelano

Jornal GGN – Desde a crise internacional de 2008, um fator considerado comum é a sucessiva culpa sobre economistas por não terem previsto o desastre, por terem passado medidas inadequadas de prevenção, ou por não terem corrigido o erro após sua ocorrência.

Em artigo publicado no site Project Syndicate, Ricardo Hausmann, professor de Harvard e ex-ministro da Venezuela, ressalta a necessidade de um novo pensamento econômico, e isso é justificável. “Mas tudo o que é novo pode não ser bom, e tudo o que é bom pode não ser novo”.

O articulista cita dois casos que podem ser um “lembrete” dos efeitos do fim de uma política mais ortodoxa: o 50º aniversário da Revolução Cultural da China e a atual crise da Venezuela. “Um país que deveria ser rico está passando por sua mais profunda recessão, inflação mais elevada, e a piora dos indicadores sociais. Seus cidadãos, que vivem sob as maiores reservas de petróleo do mundo, estão literalmente morrendo de fome e morrendo por falta de medicamentos e alimentos”.

Em meio à formação desse desastre, a Venezuela recebia sucessivos elogios de entidades como a Food and Agricultural Organization (FAO) das Nações Unidas, a Comissão Econômica para a América Latina, o ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva e o Center for Economic Policy Research nos Estados Unidos, entre outras.

Segundo Hausmann, a Venezuela é “o garoto propaganda” dos perigos de se rejeitar os fundamentos econômicos. “Um desses fundamentos é a ideia de que, para atingir as metas sociais, é melhor usar – ao invés de reprimir – o mercado. Afinal, o mercado é essencialmente apenas uma forma de auto-organização em que todos tentam ganhar a vida fazendo coisas que outros são valiosos”. O economista ressalta que as pessoas na maioria dos países compram bens de consumo básico sem incorrer em um “pesadelo político nacional”

Mas, e se o resultado gerado pelo mercado não for o esperado. Segundo Hausmann, “a teórica econômica padrão sugere que você pode afetar o mercado através da tributação de algumas transações – como, por exemplo, as emissões de gases de efeito estufa – ou dar dinheiro para determinados grupos de pessoas, ao deixar o mercado fazer sua parte”.

Outro ponto da chamada sabedoria convencional é que a criação de uma estrutura correta de incentivos que garanta o know-how necessário para o gerenciamento de empresas estatais é muito difícil. Assim, o ex-ministro venezuelano diz que “o Estado deve ter apenas algumas empresas em setores estratégicos ou em atividades que são repletas de falhas de mercado”.

Segundo o articulista, a Venezuela ignorou tal premissa e partiu para uma expropriação em massa. “Em particular, após a reeleição de Hugo Chávez em 2006, houve expropriação de fazendas, supermercados, bancos, telecomunicações, empresas de energia, empresas de produção e de serviços de petróleo e empresas de manufatura que produzem aço, cimento, café, iogurte, detergente, e até mesmo garrafas de vidro. A produtividade entrou em colapso em todos eles”.

O professor de Harvard pontua que a ortodoxia reflete lições “dolorosamente adquiridas da história – a soma do que nós consideramos ser verdade. Mas nem tudo é verdade. O progresso requer erros de identificação, que por sua vez chamam para o pensamento heterodoxo. Mas a aprendizagem torna-se difícil quando há longos atrasos entre ação e consequências (…) Quando os tempos de reação são lentos, a exploração da heterodoxia é necessária, mas deve ser feita com cuidado. Quando toda a ortodoxia é jogada para fora da janela, você começa o desastre que foi a Revolução Cultural chinesa – e que é a Venezuela de hoje”.

 

(Tradução livre por Tatiane Correia)

Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

12 Comentários

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  1. Quanta conversa mole

    Quando é que esses caras vão largar essa cara de pau economicista e dizer a verdade ?  Nós estamos numa GUERRA ECONÔMICA de destruição, contra países como Brasil e Venezuela. Os EUA não estão brincando em serviço pra sustentar seu império desequilibrado, às custas da exploração do resto do planeta. Estamos vivendo o risco de uma guerra mundial por causa do dólar, e esses caras vêm com essa conversa fiada de ortodoxia econômica.

    1. Sério?
      Seu comentário carece de comprovações factuais. Guerra por causa do dólar? O que você quis dizer? Que os EUA querem valorizar ou desvalorizar sua moeda?

      E em relação à Venezuela, quem estatizou as unidades produtivas? Quem vem maxi desvalorizando a moeda? Quem instituiu o controle de preços? Foi o Obama?
      Por favor me explique qual a responsabilidade dos EUA no caos econômico interno venezuelano.

  2. Venezuela, Brasil e Imperio do Mal

    Primeiro, tenho observado que o petismo  e a grande parte da esquerda fuge de tudo que tenha a ver com Venezuela:

    Chavez,Maduro,bolivarianismo (o MST  e o unico que assume essa corrente revolucionaria que reacendeu a luta no

    Continente a partir do ano 1999. O conceito “bolivarino”faz fugir como o diabo da cruz porque a ideologia do PIG conseguiu fazer do bolivariano algo “primitivo”folklorico e insultante para um brasileiro. O Brasil tem problema para se sentir “latinoamericano”, ele é da geografia, da America do Sul. Os outros sao “latinos” o brasileiro nao,o brasileiro se estima “brazilerinho”

    Sem “PATRIA GRANDE nao ha mudança profunda no Continente Moreno.

     

    Basta ver hoje, o Imperio na  sua contraofensiva foi atacando paises pequenos, Paraguai e Honduras, depois os mais grandes; Argentina e hoje o Brasil. Venezuela é atacada ha 15 anos porque a Revoluçao Bolivariana é a mais profundamente anti-Imperialista, a mais “Patria Grande” a pesar de todos os erros acumulados nestes anos na gestao do aparelho do Estado,etc.

     

    Sem a unidade da esquerda continental, dos sindicatos, dos movimentos sociais, dos governos democraticos-populares,da architectura de integraçao, dos organismos de unidade regional, o IMPERIO procurara nos atacar de maneira separada, dividirmos  para nos reinar, mas nos tambem com o orgulho chauvinista pensarmos mais na amizade com os “antigos” colonizadores o do Imperio atual que com nossos irmaos -vizinhos do Continente.

     

    Venezuela esta sendo atacada de todos os lados pelo Imperio Malevolo. Claro que a Revoluçao Bolivariana nao criou

    as bases de uma economia multiple e hoje esta debilitada pela dependencia do preço do petroleo. O Imperio praparou

    ataques para a industria petroleira do mundo e Venezuela tera que resistir com esforços redobrados. Hoje deveriamos todos

    nas rua falar tanto do Brasil como Venezuela frente a ataque mortal da parte do Imperio nestes dos paises, um com

    o lulismo bonzinho hoje demonizado e o outro o do bolivarianismo-malvado que insulta ao Dono do Mundo Livre.

    O Imperio ja promulgou um Decreto Imperial para destruir  tudo o que o enfrenta.

  3. A esquerda tem medo atávico de tomar o Poder.

    Na minha opinião faltou heteroxia na Venezuela.

    O que impede Nicolas Maduro de estatizar as grandes empresas que fazem locaute? Qualquer governo europeu social-democrata nos anos 50 e 60 não iria pestanejar em expropriar qualquer empresário que fizesse a “gracinha” de esconder estoques, sob qualquer pretexto.

    Se “empoçamento de liquidez” na economia, alguém pode dizer o por quê do Presidente da Venezuela não jogar dinheiro de helicópteros, principalmente nas periferias de todo o país? O povo seria muito mais sábio do que o governo no gastar desta grana (e não sabotaria o plano de reativação econômica, aplicando o dinheiro na especulação ao invés de emprestar para empresas e cidadãos). Se não quisesse algo tão especular, Nicolas Maduro poderia criar um programa de renda mínima e depositar uma quantia necessária a sobrevivência de cada cidadão em uma conta bancária, de preferência, de banco público.

    Na verdade, o famigerado “não há alternativa” de Margareth Thatcher contaminou os programas e a ação política dos partidos de esquerda em todo o mundo. Somando a isso o medo atávico da esquerda em tomar o Poder (Jean Baudrillard explicou este fato em detalhes), o impasse, que leva ao desastre, está posto.

    1. Os governos chavistas

      Os governos chavistas estatizaram 2.300 empresas, grandes, medias e pequenas, só faltam botecos e quitandas,

      a Venezuela antes de Chavez tinha um razoavel parque industrial de bens de consumo, a Johnson & Johnson tinha uma grande fabrica em Valencia,  havia fabrica depasta de dentes, sabonetes, alimentos enlatados, medicamentos, cimento, siderurgia,  TUDO ISSO FOI DESTRUIDO, não produzem mais nada., havia boas fazendas de gado nelore, uma tradicional pecuaria na região de Tajira, havia produção agricola de vegetais, leguminosas, nada mais se produz,

      tudo foi expropriado, invadido, acabado, não há boicote de empresarios porque não há mais empresarios.

      Com inflação de 800% ao ano não há empoçamento de liquidez , ninguem em suas faculdades mentais estoca dinheiro porque este perde valor diario, de onde vem essas estorias malucas?

      A unica razão de alguem defender esse governante de hospicio e NÃO CONHECER  a situação na Venezuela.

       

      1. Não gosto de seus

        Não gosto de seus comentários. Essas letras com caixa alta são um desrespeito ao leitor, parece que está gritando.

        Num post elogia a monarquia “porque é chic”, depois vem aqui e se comporta como Jeca.

      2. Maduro deve mudar o patamar do Regime político e econômico.

        Reafirmo as afirmações sobre o “empoçamento de liquidez”. Evidentemente que este dinheiro não está parado, mas sim, rendendo aos capitalistas e seus funcionários de confiança em contas no exterior. Nunca é demais lembrar que até a cúpula corporativa da PDVSA é formada por antichavistas, e que este pessoal faz da estatal um caminho para evadir dinheiro para fora do país. Recentemente, até a PF brasileira andou esbarrando em um destes esquemas de evasão. Imaginem o que fazem tendo como países próximos os paraísos fiscais caribenhos.

        Então, reafirmo a possibilidade da construção de um socialismo autárquico na Venezuela como medida de emergência em relação a guerra econômica interna e externa da qual este país é vítima.

        Estatizar o que seja necessário (sim, há locaute e ele deve ser combatido de forma implacável pelo Estado), fechar o país naquilo em que for possível e refundar a Venezuela em novas bases. Os riscos do socialismo autárquico (burocratismo, privilégios) já foram suficientemente estudados por aqueles que pesquisaram a fundo sofre o fracasso do “socialismo realmente existente” do Leste Europeu. A Venezuela socialista não teria desculpas para cometer o erro da URSS e seus satélites.

        Não seja enganado pela baixa conjuntural dos preços do petróleo no mercado internacional. Ela é artificial em parte (para atingir a Rússia, e por tabela, Venezuela e Brasil), mas a Arábia Saudita, elo mais fraco deste movimento já está dando sinais de não vai agüentar ter prejuízos por muito tempo. E, qualquer “respiro” na economia mundial fará o preço do petróleo explodir e confirmará a Teoria do Pico Petrolífero.

        Maduro deve ir às últimas conseqüências e mudar o patamar do Regime político e econômico. Caso contrário, a Venezuela sairá pela Direita do impasse em que está, com conseqüências trágicas para o seu povo.

         

         

         

  4. O empresário basco e suas fotos dos supermercados de Caracas

     

    Agustín Otxotorena, um  executivo basco morando em Caracas, se cansou das perguntas diárias de seus amigos sobre ser verdade que na Venezuela não há comida, se os venezuelanos caçam cães, gatos e pombas para poder sobreviver, se é verdade que já não se conseguem as galetas Oreo, nem cerveja, nem Coca Cola, se é normal que os caraquenhos busquem comida no lixo e se se necessita de uma imediata intervenção humanitária. Agustín, entãos saiu por Caracas fotografando as ruas, lojas e supermercados e colocando as fotos no Facebook. Será que os meios de comunicação têm razão? Julguem vocês mesmos:

    http://albaciudad.org/2016/05/fotos-supermercados-caracas-comida-empresario-vasco/

     

    “Estas fotografías son de una panadería y una tienda de abastos, normales y corrientes, zonas populares, con clientes trabajadores, asalariados. Son negocios prósperos e igual tienes que ir a tres o cuatro para completar todo lo que quieres, pero en todos hay comida y resuelves tu dieta normalmente”. Todas fueron tomadas el 27 de mayo.

    “Con esto no digo que haya mucha gente pasándolo mal y a la cual no le llega el dinero para vivir. Lo mismo que en Colombia, México, Honduras, Guatemala, El Salvador, Brasil, Argentina, y un largo etcétera de países latinoamericanos.  La pobreza es un mal endémico en esta región del mundo, lo que no impide que haya una clase alta que viva con estándares de vida superiores a los europeos”.

    “Comida hay. Faltan cosas, evidentemente.  Hay un sector privado que juega al desabastecimiento, y no le importa vender menos o no vender, ya que hay una alta concentración de la oferta y saben que volverán a recuperar mercado cuando se den las condiciones que ellos quieren. Son fuertes, retan al gobierno”

    El empresario vasco también mostró fotos de un paseo normal por la Plaza Altamira o por el Bulevar de Sabana Grande un viernes por la mañana de 9 a 11. Para el venezolano, tal vez estas imágenes no tengan nada de noticioso porque es nuestro día a día. Pero para el español típico, que se imagina ―gracias a sus medios― que Venezuela es una suerte de Afganistán, seguramente se llevará una gran sorpresa.

    “Gente trabajadora, abriendo su negocio, trabajando en sus puestos de comida, haciendo diligencias, sacando plata del cajero automático… peleando en la vida, trabajando, esforzándose, luchando por sus familias, por sus trabajos, por sus sueños”, cuenta Agustin Otxotorena.


     

    Dificultades

    En la actualidad, los productos que tienen precios regulados por el Estado  son bastante difíciles de conseguir, pues los empresarios los producen en baja cantidad (ellos prefieren producir los productos no regulados, pues le ganan mucho más dinero). Las personas tienen que hacer inmensas colas para acceder a los pocos productos regulados que se consiguen, y tienen que competir con vendedores informales (“bachaqueros”) que compran estos alimentos para revenderlos a 10 veces su precio. Empresarios venden los productos a estos bachaqueros de forma clandestina, a precios muy por encima de la regulación, para ganarles más. Hay un fuerte contrabando de alimentos a Colombia, nuestro país vecino, donde la pobreza es mucho mayor.

    Y no se puede negar que muchas personas han tenido que modificar su dieta y dejar de consumir determinados alimentos que antes abundaban: el arroz, los granos y la harina de maíz precocida son muy difíciles de conseguir a precios regulados, y el pollo, la carne o los embutidos tienen precios impagables para el asalariado venezolano normal, por lo que han tenido que sustituirlos por otros productos más económicos y “apretarse el cinturón”.

    Pero, ¿quién tiene la razón entonces? ¿Es la situación de Venezuela parecida a la que vivió la España de la posguerra? ¿Debe ser intervenida por potencias extranjeras que “salven” a su población de una hambruna? ¿O es que los venezolanos, a pesar de la caída de su poder adquisitivo y de la dificultad en acceder a numerosos productos, en realidad aún viven bien comparados con ciudadanos de otros países?

    Eso es lo que intentó responder Agustín Otxotorena, un ejecutivo vasco residenciado en Caracas, quien se cansó de que todos los días sus amigos le preguntaran si es cierto que en Venezuela no hay comida. Se dedicó a pasear por la ciudad de Caracas, tomando fotos en las calles y supermercados y publicándolas en su muro en Facebook para contrastarlas con las frecuentes fotos de medios de su país, que muestran supermercados vacíos. Su intención era mostrar que, a pesar de los problemas agudos que sí existen, en Caracas se sigue viviendo de forma normal. En los supermercados sí hay comida (si bien no todos pueden acceder a ella), hay numerosos puestos de perros calientes y hamburguesas en las calles y la gente los usa.

    El blog La Tabla, conducido por Víctor Majano, ha colgado una noticia resumiendo las vivencias de Otxotorena en Caracas, y sus notas han sido tan visitadas, que prácticamente obligaron al diario derechista ABC a reseñar los descubrimientos de Otxotorena (nota: este lunes ABC borró la noticia, pero en Alba Ciudad la recuperamos y la dejamos acá).

     

  5. Penso que ninguem com

    Penso que ninguem com discurso racional defenda todas a politica economica venezuelana.

    Mas tambem é errado julgar que toda a heterodoxia do chavismo é deliberada.

    Muito é apenas resposta atabalhoada ao maior e mais duradouro lock out economico nas Americas, fora o embargo a Cuba.

    Mas, diferentemente de Cuba, ha o boicote externo mas também o interno – com os dois movimentos coordenados.

    Queria ver alguem fazer ortodoxia economica com essas premissas, quando os atores economicos dizem: enquanto o governo for este vamos boicotar e desestabilizar.

    O Brasil – essa grande democracia… – teve uns mesesinhos de coisa parecida, mas muito menos grave, e deu no que deu: o governo caiu.

    A Venezuela, aos trancos e barrancos, mantem seu projeto politico.

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