A essência humana está em extinção, por Mário Lima Jr

Somos membros de uma espécie animal que sobreviveu às adversidades da evolução ajudando uns aos outros. Preferimos a socialização ao isolamento, não suportamos a solidão que impede de compartilhar sentimentos e experiências. Para nossa infelicidade, a colaboração primária e íntima, fundamental por milhares de anos, deixa de ser praticada de forma inversamente proporcional ao avanço da tecnologia aplicada em áreas como agricultura, medicina e comunicação.

Parece que a facilidade de ter ao alcance das mãos, dentro da geladeira, as calorias necessárias para um mês inteiro reduz a capacidade humana de se lembrar de quem tenta sobreviver comendo dia sim, dia não, ou até menos. Criamos um mundo onde oito pessoas possuem riqueza equivalente à metade da população global. No extremo oposto desse pequeno grupo, 2,2 bilhões de pessoas são pobres ou estão muito próximas da pobreza. Não significa apenas fome, mas doença, má educação e condições indignas de sobrevivência. É uma aberração tanto do ponto de vista social quanto biológico, desigualdade que não encontra paralelo em nenhuma das 8,7 milhões de espécies vivas na Terra.

Não bastasse a violência e a pobreza que infligimos a nós mesmos, a destruição que causamos ao meio ambiente é evidência de que – em um momento recente da História de mais de 300 mil anos do homo sapiens – perdemos a convicção de que estamos conectados uns aos outros e à natureza. Em 2016, o desmatamento aumentou 51% no mundo todo em comparação com o ano de 2015. Só na Amazônia a perda florestal foi três vezes maior. Um estudo publicado há dois meses na revista Nature por universidades francesas e britânicas indica que o planeta terá anos mais quentes do que a média entre 2018 e 2022. A análise leva em consideração o aquecimento global provocado pelo aumento da emissão de gases de efeito estufa e a variação natural das temperaturas.

Embora 193 países façam parte da Organização das Nações Unidas em torno do compromisso de trabalhar pela paz e pelo desenvolvimento mundial, apesar de instituições internacionais de ajuda humanitária e voluntários se dedicarem ao bem-estar comum, o respeito à dignidade humana encontra barreiras dentro de cada indivíduo moderno. Acumulamos conforto enquanto admitimos que outras pessoas durmam na rua, no frio e na chuva, no mesmo bairro ou cidade em que moramos.

A Humanidade não celebra nada em conjunto, como às vezes pensamos assistindo aos festejos de Ano Novo na Internet. Bilhões de pessoas estão esquecidas na própria miséria, sem voz. Metade da população sequer tem acesso à Internet, segundo o Fórum Econômico Mundial.

Em geral o estilo de vida que praticamos nos torna insensíveis quanto à necessidade imediata de pessoas como nós. A Internet, por exemplo, uma das grandes criações do século passado, aproxima aqueles que estão distantes mas seu uso excessivo causa depressão e isolamento social. A essência humana, no sentido primitivo da palavra, está em risco quando a dependência que temos dela continua a mesma.

Redação

6 Comentários

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  1. A essência humana está em

    A essência humana está em extinção, por Mário Lima Jr

    Perfeito. Só um reparo que a autor sabe( penso eu) mas nas entrelinhas se sabe que ele sabe.

      Mesmo com  medo de errar , ”está” é da turma do indicativo.

      Eu colocaria o verbo no passado e presente e futuro : 

               Esteve(Brasil roubado), está( zonzo ) e estará.( nada indica que não vai continuar ) pra pior: O peso do voto dobrará de peso pra aprovar qualquuer coisa. 

                    Esse é o legado do PT.—criou escola.E não adianta nada Bolsonaro negociar com deputados e não com siglas. Vai dar no mesmo ou até pior.

              Com essa duas opções que temos votar, não há erro de estarmos errados..

                 Não sou esquerdista. Mas Ciro dá de 10x 0  em Haddad.

                 Lula não quis.

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

  2. dados objetivos

    Até o século XVIII a população mundial nunca passou da casa de 1 bilhão de habitantes sendo que quase 90% da população vivia na pobreza, o tempo de vida médio não ia além dos 40 anos .

    Neste tempo, as poucas peças de roupa de um falecido eram uma herança disputadissíma pela familia.

    O texto do sr. Mário de forma alguma retrata a realidade atual. A pobreza mundial vem diminuindo. Hoje 7 bilhões de habitantes vivem em média 72 anos e a pobreza mundial não vai além dos 10% da população. Não confundir pobreza com desigualdade, esta sim continua elevada .

    Talvez as percepções de solidadriedade e fraternidade venham se modificando com o tempo. Mas distorcer os fatos e clamar por um mundo que não mais existe e não vai retornar, em nada ajuda. A humanidade avançou muito e é preciso sobriedade , perder o medo da ciência e tecnologia, é preciso de gente que saiba usar nossas conquistas a nosso favor. Engrossar o coro dos derrotistas não vai nos devolver uma humanidade insustentável. 

    1. Pobreza e desigualdade
      Seu comentário é bastante coerente, Marcelo, obrigado. Acho sensato dizer que os conceitos de pobreza e desigualdade, temas que estamos discutindo, passaram a existir junto com os primeiros pobres e desiguais. Eles não estão presentes em toda a história da Humanidade. Surgiram quando o primeiro ser humano levantou uma cerca e disse “isso é meu”, como narra Rousseau. Temos 2,2 bilhões de pessoas padecendo na Terra de sofrimentos que não existiam no passado. A questão precisa ser resolvida, da forma que for necessária, e eu acredito que ela pode ser.

      1. prezado Mário

        Encontra-se disponível o livro O novo iluminismo de Steven Pinker. Tenho várias divergencias com relação ao autor, principalmente com seu modo estadunidense médio de ver o mundo, mas devo admitir que o livro contém informações preciosas , ainda mais na tua área de estudos.

        Abraço.

  3. É tão triste ver isso pela internet

    vejo tristeza se um ganha uma disputa eleitoral, e veijo tristeza se outro perde, e acusações e culpabilizações de toda a ordem. O ser humano é culpado, no seu orgulho, custa a entender (ou a ver isso). O mais fácil é acusar um ao outro. Se coisas erradas são feitas (e o ser humano erra), como é difícil assumir, uma chance para se redimir, pelo menos para ficar em paz consigo mesmo ( nessas horas eu penso se há quem não tenha consciência). Nessas eleições estou vendo coisas na internet, e é curioso como opostos, aparentemente opostos, cada um com seu autorótulo, se encontram. Dúvida se anulo, seus seguidores se parecem tanto, será que não há pontos em comum que não se aproveite? Ou é tudo ou nada? Absoluto só Deus.

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