A luta hoje não é entre PT e PSDB, é democracia contra barbárie, diz Nassif

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
[email protected]

Formulada na Grécia antiga, a democracia tem sido o ideal de modelo político desde então. No Brasil, está sob risco (REPRODUÇÃO/PHILLIPP VON FOLTZ)

Democracia

da Rede Brasil Atual

‘A luta hoje não é entre PT e PSDB, é democracia contra barbárie’, diz Nassif

Na Rádio Brasil Atual, jornalista analisa consequências da eleição brasileira para o futuro da democracia na América Latina e no mundo

por Redação RBA

São Paulo – Jornalista econômico e criador do Jornal GGN, Luis Nassif acredita que a eleição para presidente da República deste ano tem um elemento que a torna mais dramática do que os pleitos anteriores. “Temos uma guerra mundial hoje em torno da barbárie contra a civilização”, afirma.

A observação vem ao encontro de declarações recentes de ex-ministros da França, Espanha, Itália e Alemanha, alguns presentes no seminário Ameaças à Democracia e a Ordem Multipolar, realizado pela Fundação Perseu Abramo (FPA) na última sexta-feira (14).

“Quando teve a crise de 2008, se teve a abertura do mercado financeiro para os fluxos de capitais, que conviveu com a democracia enquanto se vendia aquele peixe de ‘se sacrificar, se cortar orçamento, se acabar com o Estado de bem-estar social, todos serão mais felizes’. Quando isso falhou, em 2008, esse processo de globalização passou a investir contra aquela ordem internacional que vinha do pós-guerra e que garantia paz, respeito entre as nações, o primado da democracia”, explica Nassif, em entrevista aos jornalistas Marilu Cabañas e Glauco Faria, na Rádio Brasil Atual. “E a maneira que eles encontraram foi acabar com a política, criminalizar a política e dar espaço pra judicialização da política. Então o que acontece no Brasil é um reflexo do que acontece lá fora.”

No caso do Brasil, o jornalista acredita que desde o impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff o país enveredou por um caminho que hoje o coloca numa encruzilhada. “A partir do momento em que os partidos, PSDB e outros, endossam o golpe nas instituições, tudo passa a ser possível. A luta hoje não é entre PT e PSDB, é democracia contra barbárie”, afirma.

A crise do PSDB – partido que desde 1994 divide a predominância no espectro político nacional com o PT – também colabora para o surgimento de uma candidatura de extrema-direita como a de Jair Bolsonaro (PSL). “Qual era o discurso do PSDB lá atrás? Era uma social-democracia light, com alguma preocupação social, mas sem passar o protagonismo político para o povo”, lembra, observando que atualmente, a legenda descambou para uma radicalização que levou ao poder uma quadrilha e que perdeu relevância para figuras como João Amoedo e Bolsonaro.

Nesse contexto eleitoral entre a vitória da democracia ou da barbárie, representada pela candidatura de Bolsonaro, Nassif enaltece o voto do eleitor nordestino, normalmente alvo de preconceito por parte da população do Sul e Sudeste do Brasil.  

“Falam tanto da depreciação do Nordeste, e quando você vê essa luta civilizatória hoje… O primeiro-ministro da Alemanha falava, ‘se cair a democracia no Brasil, cai na Argentina’, o Pierre (Sané), que foi presidente da Anistia Internacional, também falava que cai (a democracia) na África… então o Brasil tem um papel chave, hoje, na democracia mundial. E quem está garantindo isto aqui, é o eleitor nordestino, aquele eleitor de baixa renda que pela primeira vez teve oportunidade, viu o lado benéfico do Estado, pela primeira vez viu a paz social, a luta contra a seca. É interessante isso. E é importante que a população tome consciência do que está em jogo. Está em jogo acabar com as políticas sociais, está em jogo o aumento desmedido da violência. É só ver que todas as manifestações de violência acabam centralizando em eleitores do Bolsonaro. Não vou dizer que todos os apoiadores do Bolsonaro são depravados, mas todos os depravados são apoiadores do Bolsonaro.”

Ouça a íntegra

 

 

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

6 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Civilização contra a Barbárie

    Defender o liberalismo econômico e a redução do estado em país com enorme desigualdade social, e com milhões de famílias vivendo bem abaixo da linha da pobreza, é  o mesmo que defender a barbárie no Brasil.

    É isso que vem fazendo o PSDB de FHC.

    O que acontece agora, é que a classe média achou que o Lula e PT estavam liquidados, abandonaram o PSDB e passaram a defender abertamente o  fascismo.

    Apesar de estar na liderança nas pesquisas, o candidato Jair Bolsonaro, continuam fazendo uma campanha de deputado federal, falando apenas para um nicho do eleitorado.No atual  patamar da disputa eleitoral não dá mais para refazer a campanha para um Brasil com enorme desigualdade social, se o fizer, vai acabar perdendo uma parte significativa do seu eleitorado.

    Está em um beco sem saída.

    Hoje cerca de 14,5 milhões de eleitores com renda mensal de até 2,5 salário mínimo, estão com Jair Bolsonaro, se daqui até as eleições esses eleitores perceberem que irão votar no inimigo, Jair Bolsonaro está liquidado.

    Neste cenário Fernando Haddad vai seguir avançando, sendo possível conquistar os votos que eram de Lula, e ainda um pouquinhos dos votos de Marina e de Ciro e vencer em primeiro turno.

    Ou seja desde de FHC, a disputa entre PT e PSDB, sempre foi uma disputa entre a civilização e a barbárie, a única diferença agora é que o PSDB está fora do páreo

     

    1. Só o Estado é fonte de riqueza?

      Se você considera contraditório que um país com enorme desigualdade social deseje um Estado menor, então você só consegue ver o Estado como fonte de renda, assim como um pai que dá mesada. Esquece que o Estado não produz riqueza, mas cobra impostos. Portanto, o Estado não pode dar ao povo nada que não tenha dele antes tirado.

      Não passa pela sua cabeça que o pobre possa melhorar de vida trabalhado por conta própria em um ambiente onde o Estado não sugue a poupança do país para sustentar seus gastos, e permita que essa poupança circule na economia e seja usada em negócios privados, gerando empresas, empregos e renda.

      O PT, no auge do poder em um delírio de grandeza, passou a renegar e ofender gratuitamente a classe média, crente que nunca mais precisaraia dos votos dela após haver obtido o apoio do eleitorado de mais baixa renda, muito mais numeroso. Esqueceu-se que esse eleitorado pobre era o mesmo que antes votava em ACM e Sarney. É despolitizado, e só deu apoio ao PT enquanto o saco de bondades estava cheio. Em suas origens, o PT foi sustentado pelo eleitorado politizado da classe média urbana, sobretudo do Estado de São Paulo. Esse eleitorado abandonou o PT ao ver-se vilipendiado.

      O PSDB era um suas origens um partido social-democrata, que se tornou liberal por força das circunstâncias. Mas quem colheu os frutos do Plano Real foi o PT após 2002, então o PSDB, ao invés de assumir sua postura liberal, renegou seu legado e ensaiou um patético retorno ao discurso social-democrata, sem convencer ninguém. O PT já vinha praticando a política social-democrata, então quem ia querer a cópia se pode ter o original? Em consequência, o PSDB desmoralizou-se e perdeu todas as eleições presidenciais que disputou. Ao que tudo indica, perderá mais essa. E no vácuo criado pela defecção do PSDB, que deveria ter sido a alternativa “civilizada” para o PT, aparecem os aventureiros como esse Bolsonaro, que tem tudo para se rum novo Collor de Mello (e ter o mesmo fim que ele).

       

  2. ambos deram sua contribuição a este ponto

    acho fácil ver o mal crescendo por si mesmo, sem ajuda de ninguém, é um milagre. O mal tá no outro lado. Sempre.

    Mas eu não acredito em milagres, nem tenho ídolos (não raro, cedo ou tarde, são pegos: seja um guru indiano com rolls-royce, seja com a sabedoria que um cartunista tão bem satirizou, o Ralah Ricohta que traçava todas as discípulas fervorosas).

    Acontece(eu acho) q teve ajuda de todo o mundo na insipiente democracia.Até de véspera planeja-se dividir ainda mais,e se consegue.Grande façanha.E é uma disputa imbecil de “ele é direita”, “eu sou petista radical” (um plágio), “eu sou mais etc”

  3. Estrabismo

    Penso que a esquerda continua estrábica para enxergar que Bolsonaro é dado a bravatas, rude, não mede palavras, mas que encontrou eco numa parte da população que não enverga nos atuais grandes partidos nenhuma representação. Será que é difícil perceber isso? O Brasil recuou socialmente e economicamente, e esses partidos têm responsabilidade nisso, direta ou indiretamente. O que fazer? Falar a verdade. Sempre.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador