Aniversário de 30 anos do Placar das Diretas paralisa Senado em sessão especial

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Jornal GGN – Hoje, o Senado celebra 30 anos da campanha das Diretas Já. O trigésimo aniversário foi comemorado por muitos no dia 25 de janeiro, data do grande comício na praça da Sé, em 1984. Mas o Senado preferiu comemorar pelo o que marcou diretamente a relação da responsabilidade do Congresso com a pressão nas ruas.


Placar das Diretas

Voltemos à história. No dia 2 de março de 1983 o deputado Dante de Oliveira, do PMDB, apresentou uma proposta de emenda constitucional para restabelecer as eleições diretas à presidência.

O primeiro comício foi realizado em 31 de março, em Abreu e Lima, em Pernambuco, abrindo para pequenas manifestações no mês de junho em Goiânia e Teresina. Nesse mesmo mês, no dia 28, Franco Montoro (PMDB), Leonel Brizola (PDT) e Lula (PT) criam a Frente pró-Diretas.

Outra grande mobilização é promovida pelo PT em São Paulo, na praça Charles Muller, em 27 de novembro de 1983, reunindo cerca de 15 mil pessoas. Teotônio Vilela morre nesse dia, tornando-se símbolo para intensificação da campanha. (Leia coluna de Florestan Fernandes Júnior abaixo)

O presidente João Figueiredo fez um pronunciamento em rede nacional condenando a campanha, em 29 de dezembro. A resposta nas ruas veio em 12 de janeiro, com comício em Curitiba reunindo 30 mil pessoas.

O tão lembrado dia ocorreu no aniversário da cidade de São Paulo. No dia 25 de janeiro de 1984, ocorre o primeiro grande comício das Diretas Já, com 1,5 milhão de pessoas ocupando a praça da Sé e seus arredores.

A comemoração do Senado repercute o que gerou marco no posicionamento do Congresso para as Diretas. No mesmo dia de ontem (23), há 30 anos, foi inaugurado o “Placar das Diretas”, na praça da Sé, expondo o nome de todos os congressistas que eram a favor e contra à emenda Dante de Oliveira.

Foi por meio desse placar que a população acompanhou a votação, que com a censura não foi transmitida nos meios de comunicação, mas por telefone, no dia 25 de abril de 1984. A cada voto favorável, uma grande comemoração. O resultado foi de 298 deputados a favor, 65 contra e 3 abstenções. Mas a ausência de 122 parlamentares impediu que a proposta fosse aprovada.

Leia a coluna de Florestan Fernandes Júnior sobre a mobilização, considerada por ele o termômetro das Diretas Já:

Os 30 anos da campanha Diretas Já. Uma historia feita de paixões, sonhos e traições


Florestan Fernandes (pai), Florestan Fernandes Júnior, Caio Prado e a esposa e Carlito Maia, em 1986, durante Diretas Já

A última vez que estive com Caio Prado Júnior foi no primeiro grande comício pelas “Diretas Já”, que ocorreu no dia  27 de novembro de 1983 na praça em frente ao Estádio do Pacaembu. Foi organizado pelos sindicatos e pelo PT. Reuniu cerca de 15 mil pessoas e, apesar do clima descontraído e familiar, havia um grande receio de que o ato fosse reprimido pelas forças do governo do general Figueiredo. Mas tudo transcorreu em paz. Assisti aos discursos de Lula e de lideranças sindicais da parte superior do jardim lateral da praça, ao lado de meu pai, do Caio Prado Jr e do saudoso Carlito Maia. Não sei porque esse comício é desprezado pelos historiadores. Ele foi importantíssimo como termômetro de mobilização da sociedade civil e também para saber a temperatura dos setores mais retrógrados da ditadura.

Nesse dia, o senador Fernando Henrique, na época no PMDB, foi um dos poucos políticos de grande partido a aparecer. Mesmo assim foi a pedido do senador Teotônio Vilela, que estava doente e escreveu uma mensagem para ser lida no palanque. O ato da praça Charles Miller acabou se transformando num sinal de alerta para as oposições tradicionais. Ou eles entravam na campanha ou ficariam a reboque do jovem e pequeno Partido dos Trabalhadores. O governador Franco Montoro corajosamente decidiu patrocinar um comício suprapartidário para janeiro de 84. 

Colocou em risco sua relação com o general presidente e, no dia do aniversário da cidade junto com Lula, Brizola, Ulisses e lideres sindicais, arrastou para a Praça da Sé mais de 100 mil pessoas que não paravam de gritar Diretas Já. Foi um dia memorável, destes que a gente não esquece mais. Foram 19 anos com o grito contido na garganta. Finalmente chegou o dia que Chico Buarque e a nação esperava: “Num tempo, página infeliz da nossa história. Passagem desbotada na memória, das nossas novas gerações. Dormia, a nossa pátria mãe tão distraída, sem perceber que era subtraída, em tenebrosas transações. Seus filhos, erravam cegos pelo continente. Levavam pedras feito penitentes erguendo estranhas catedrais. E Um dia, afinal tinham direito a uma alegria fugaz uma ofegante epidemia que se chamava carnaval”.

Eu era repórter da TV Globo neste dia, e voltei da praça da apoteose democrática  pouco antes do JN entrar no ar. A notícia foi dada ao vivo, mas sem repórter e manipulada, certamente para atender um pedido do general presidente João Figueiredo, dava conta que a festa era apenas um ato pelo aniversário da cidade. Ao censurarem a notícia na principal emissora do país, o regime militar dava um sinal claro que não iria aceitar em hipótese nenhuma uma eleição direta que pudesse levar a vitória de Leonel Brizola. Tancredo Neve, raposa velha, sentiu o cheiro da carniça que começava a feder. Durante toda a campanha das diretas manteve encontros reservados com chefes militares tentando construir o nome dele como alternativa para evitar o impasse institucional que o país caminharia com a derrota no plenário da emenda das Diretas Já. E a festa que começou tão bonita num sábado de Pacaembu sem futebol, mas ao lado de brasileiros como Caio Prado, Carlito Maia e Florestan Fernandes, terminou numa eleição indireta onde o presidente morre antes da posse e o vice, ex-líder dos ditadores no senado, assumiria a presidência num governo que se arrastou por cinco anos.

Coluna “De tudo um Pouco”, no POR DENTRO DA MÍDIA, com Florestan Fernandes Júnior

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

4 Comentários

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  1. Olhando algumas caras, que

    Olhando algumas caras, que AINDA estão lá…sabem onde posso achar a lista de quem votou CONTRA AS DIRETAS ?

    Maluf, COM CERTEZA…quero saber dos “vestais” atuais…

  2. Tancredo Neves, Avô da Aecio

    A MAIOR raposa da politica nacional   ,manipulou descaradamente a votação pois sabia que não teria chance de continuar no poder em uma eleição direta ,22anos após ter de dado o primero golpe em Jango, com a sua conversa de paralmentarismo,estava ainda afiado e sedento do poder ,mais tarde com a emenda já sepultada seu adversário no colégio eleitoral ,Maluf tomou uma surra na votação mesmo comprando descaadamente votos,,o PT foi brutalmente criticado de proibir sua bancada de participar da farsa do colegio eleitoral, mas a pior consequencia da não aprovação da emenda de Dante de Oliveira foi a perpetuação do sistema de “apoio politico” que garantiu os 5 anos do Sarney, o impeachment de Collor que tentou ignorar o esquema  ,Itamar Franco chamou os notaveis do PSDB ,colocando gente nova na roda da fortuna e fizeram o que fizeram a o País,caras com Pérsio Arida e José Serra ficaram milionarios em questão de anos,esquema que hoje é chamado de base aliada e dura até hoje !

  3. A eterna mídia serviçal

    Eu era repórter da TV Globo neste dia, e voltei da praça da apoteose democrática  pouco antes do JN entrar no ar. A notícia foi dada ao vivo, mas sem repórter e manipulada, certamente para atender um pedido do general presidente João Figueiredo, dava conta que a festa era apenas um ato pelo aniversário da cidade.

    E a festa que começou tão bonita num sábado de Pacaembu sem futebol, mas ao lado de brasileiros como Caio Prado, Carlito Maia e Florestan Fernandes, terminou numa eleição indireta onde o presidente morre antes da posse e o vice, ex-líder dos ditadores no senado, assumiria a presidência num governo que se arrastou por cinco anos. 

    O resumo explica tudo e nada mais precisa ser dito.

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