Dia Internacional das Mulheres Africanas: Cai na Roda entrevista a congolesa Prudence Kalambay

Ana Gabriela Sales
Repórter do GGN há 8 anos. Graduada em Jornalismo pela Universidade de Santo Amaro. Especializada em produção de conteúdo para as redes sociais.
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Kalambay conta sua história, fala sobre as delicias e os desafios de viver no Brasil, comenta a solidão das mulheres refugiadas, evidência as riquezas africanas e mais

Jornal GGN – A ativista e artista Prudence Kalambay, nascida na República Democrática do Congo e refugiada no Brasil, fala sobre o seu orgulho e também das suas lutas de ser uma mulher africana em solo latino-americano, na edição do Cai na Roda, deste sábado, 31 de julho, exibida na TV GGN. O programa, tocado pelas jornalistas mulheres da redação, vai ao ar às 20h, no Dia Internacional das Mulheres Africanas. 

Kalambay nasceu em Kinshasa, capital congolesa. Artista, ela foi eleita Miss Congo em 2004. Sua história, no entanto, sofreu mudanças, após se tornar vítima de uma forte perseguição política, que a fez buscar abrigo em outra nação. Assistindo novelas, Kalambay decidiu que o Brasil seria o seu lugar, onde chegou grávida, com uma criança de colo e sem falar português, em 2008.  

“A minha saída do meu país até aqui não foi fácil, não foi porque eu quis, eu atravessei um rio do meu país até chegar na Angola, fiz um caminho muito perigoso, com a minha filha, que [na época] tinha quatro anos. Já em Luanda [capital angolana], eu me apaixonei pelo Brasil assistindo as novelas e eu disse ‘é pra lá que eu vou’, conta.

Mãe de cinco filhos e avó, Kalambay viu no Brasil seu ativismo ganhar força. No ano passado, ela esteve à frente das redes sociais da Agência da Organização das Nações Unidas (ONU) para Refugiados (ACNUR). Mas, apesar de ser considerado um país acolhedor, a congolesa também aponta os desafios de se viver em um país racista e discriminador, principalmente sobre as diferenças que são tratados os estrangeiros de acordo com os seus países e pela raça. 

“Existe essa discriminação quando falamos de imigração [no Brasil, de acordo com a raça e sobre os países de origem também. É como se escolhessem quem tem direitos e quem não tem, mesmo nós lutando a todo momento por direitos iguais. Mas, na verdade, não existem direitos iguais no meio dessa nossa luta. Por exemplo, muitos imigrantes, ou refugiados, quando é um negro a recepção [aqui] é totalmente diferente [da de um branco]”, explica.

É neste limbo, que Kalambay desabafa sobre a sensação de se sentir usada pelo fato de ser uma mulher que carrega a cultura africana. “Muitas vezes nós somos usados e falo por eu mesma, porque eu coloco a minha vida e a minha história em prática para servir de exemplo para outras pessoas. Eu percebo quantas vezes fui usada. Querem usar nós africanos como instrumento de pesquisa, mas ninguém quer nos impulsionar para mudar as nossas vidas”, dispara.

Apesar de todos os percalços, Kalambay não desistiu de sua arte e em meio às dificuldades, exacerbadas após uma separação, encontrou na disseminação da cultura africana o pilar para dar continuidade a sua luta. 

“Eu já era artista no meu país, como modelo. Aqui, como um sonho, sempre como algo que estava no meu sangue, me dediquei muito mais a isso. Depois da minha separação, eu me vi sem saber como sustentar minha família. Então, eu decidi fazer algo pra chamar atenção, para que as pessoas vissem a Prudence, uma mulher africana.Comecei a usar acessórios que remetem à África, uma identificação minha. Comecei a ensinar a amarrar turbantes, a ensinar a dança do meu país, a culinária, comecei a contar minha história”, explica. 

Já de frente a crise ocasiona pela pandemia da Covid-19, Kalambay passou a liderar uma das frentes do Centro da Mulher Imigrante e Refugiada (CEMIR), na zona leste de São Paulo, onde faz a distribuição de cestas básicas para famílias e reuniões semanais com outras mulheres.  “Estamos pensando mais sobre esse projeto, para chegar em várias mulheres”, diz. 

Durante cerca de uma hora de entrevista, Kalambay também fala sobre a solidão das mulheres refugiadas, as riquezas africanas, como língua portuguesa une povos no Brasil e nos dá a honra de escutar uma música congolesa na sua voz.

Participam desta edição as jornalistas Lourdes Nassif, Patricia Faermann, Tatiane Correia, Ana Gabriela Sales e Duda Cambraia. Assista:

Sobre o Cai na Roda

Todos os sábados, às 20h, o canal divulga um novo episódio do Cai Na Roda, programa realizado exclusivamente pelas jornalistas mulheres da redação, que priorizam entrevistas com outras mulheres especialistas em diversas áreas. Deixe nos comentários sugestão de novas convidadas. Confira outros episódios aqui:

Ana Gabriela Sales

Repórter do GGN há 8 anos. Graduada em Jornalismo pela Universidade de Santo Amaro. Especializada em produção de conteúdo para as redes sociais.

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