Dodó e a popularidade do efeito manada e os valores, por Luis Nassif

Dodó é uma mocinha ativista. Com 16 anos liderou a greve do shortinho, do Colégio Rio Branco. Em ampla e total minoria, no meio dos colegas “coxinhas”, foi montando sua ideologia em torno de princípios, a repulsa a qualquer forma de discriminação, a defesa dos mais fracos e as bandeiras feministas.

Esse feminismo explodiu no período do impeachment, em parte pela dignidade excepcional de Dilma, em parte pelas lições teóricas, que aprofundou a partir dos ensinamentos de sua mãe.

Na greve dos shortinhos, foi chamada pela diretora da escola para negociar. Não foi na conversa:

– Ela só falou groselha!

Foi entrevistada pelo SBT. Um dia, em casa, apareceu um fotógrafo do G1 querendo fotografá-la para a reportagem sobre a greve. Ela não estava em casa. Telefonei para ela, que sugeriu que conversasse com outra colega, porque ela estava parecendo muito.

Pois as feministas do Facebook descobriram Dodó. Deram-se conta que era uma boa argumentadora, e passaram a enviar para ela textos para serem desconstruídos.

E a mocinha se tornou popular. O seu Face passou a ser frequentado por advogadas fazendo doutorado na Espanha, acadêmicos, feministas de diversos matizes. E cada resposta aos “inimigos” era comemorado com dezenas de “curtir” e de “lacrou” .

De repente, Dodó fechou o seu Facebook, deixando restrito a amigos, colegas e família.

Indaguei a razão.

– Papai, cada artigo que eu escrevia, elas vinham e diziam que “lacrou”, “lacrou”. Não pode ser assim, uma guerra. Uma discussão é para os dois lados aprenderem. E o fato da outra pessoa  pensar diferente devia ser aproveitado para os dois lados aprenderem com o outro.

Cada que vez que vejo senhoras e senhoras vetustos do Supremo, se deslumbrando com os holofotes da mídia, penso na minha mocinha submetida, guardadas as proporções, ao mesmo fogo fátuo que fascina pequenas e grandes celebridades. E não se deslumbrou.

Mais que isso. Manteve-se fiel aos princípios que assimilou, não indo na onda de conservadorismo que se alastrou pela classe média paulistana. E nem se comprazendo em “lacrar” quem pensa diferente  

Em 2014, quando pela enésima vez correu pela Internet um e-mail fake, atribuído a mim, o tal “Elite Privilegiada”, um compêndio do preconceito mais baixo, ela e a irmã Bibi manifestaram sua indignação pelo Face:

– Meu pai nunca pensou isso. Além de tudo, Luis é com s.

O fake assinava com Z.

Pelos exemplos na família, e não apenas delas, pelo que vejo na nova militância estudantil, sou otimista com o país. Passarão as Carmens, os Barrosos, os Gilmares, passarão Bolsonaros, Aécios e Cabrais. E uma onda jovem, construída em cima dos fundamentos, dos pilares do que seja uma civilização, vai pegar o bastão.

Nosso desafio é impedir que o país esteja tão estragado quando começar a sua vez.

 

18 Comentários

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  1. Admirável mundo jovem por vir

    Nassif!

    Maravilha de DNA!

    Quando Jânio surgiu com sua vassoura eu era secundarista e imaginava que o novo mundo, enfim, chegara.

    Depois, outros momentos houveram que continuei alimentando o mesmo sonho

    Agora já não mais para os meus tempos rumo ao ocaso

    Mas ainda persiste lampejos de que o amanhã poderá ser, de fato, um novo dia

    Portanto, que esse seu mundo jovem prognosticado venha.

    1. No fim de 2010 eu acreditada

      No fim de 2010 eu acreditada piamente que o Brasil finalmente trilharia o caminho de desenvolvimento e melhora de vida para toda sua população. Acreditava que dentro de uns trinta anos seríamos m país rico e qe meu filho(então com 11 anos) viveria em um país melhor do que eu vivi.

      Lamentavelmente, menos de 10 anos depois, perdi completamente as esperanças de que este país venha a ser desenvolvido. Penso seriamente em ir embora daqui com minha família, sem olhar para trás.

  2. Tomara, Nassif

    Tomara, Nassif.

    O problema é que as famílias que tem princípios diferentes desses (e não transmitem esses valores civilizados que respeitamos e prezamos)  também têm filhos que vão se pautar pelo que receberam dos pais.   

  3. E impedir que eles caiam na

    E impedir que eles caiam na mesma armadilha que os jovens de 64 – não podemos deixar que eles caiam na esparrela de tentar ser vanguarda de revolução sem povo: eles precisam sobreviver a tragédia que estamos vivendo, precisam se construir e, então, realizar o potencial que eles têm de ser a maior geração de brasileiros da história do nosso país.  

  4. “Pelos exemplos na família, e

    “Pelos exemplos na família, e não apenas delas, pelo que vejo na nova militância estudantil, sou otimista com o país. Passarão as Carmens, os Barrosos, os Gilmares, passarão Bolsonaros, Aécios e Cabrais. E uma onda jovem, construída em cima dos fundamentos, dos pilares do que seja uma civilização, vai pegar o bastão.”

    Pode deixar o otimismo de lado.

    Para cada jovem mais ou menos esclarecido tem 1000 ignaros.

    Infelizmente as Carmens, os Barrosos, os Gilmares e Bolsonaros estão ganhando de lavada. E provavelmente continuarão ganhando face a queda dos investimentos em educação promovida pelo governo do asqueroso.

    Penso que dentro de cinco anos os efeitos da atual reforma trabalhista começarão a ser sentidos e a pobreza e a miséria crescerão fortemente neste país de empresários sanguessugas.

    Seremos uma Serra Leoa da América do Sul e motivo de vergonha no mundo. Um país rico em tudo, menos em povo.

  5. Minhas duas filhas sairam

    Minhas duas filhas sairam melhor do que encomenda. Cabeça aberta, brigam contra qualquer tipo de preconceito. Uma delas ajudou a expulsar o BoçalNato da FUMEC aqui em BH dias atrás e até terminou com o namorado que se tornou um bolsomito convicto (rs rs).

  6. A boa discussão vale mais que “lacrar” o outro…

    Nassif, seu artigo me remeteu a duas coisas: primeiro, uma imagem triste que vi uma vez, de uma festa infantil onde o “mote” era Lula em roupas de presidiário……  Mesmo que não cheguem a tanto, milhões passam a seus filhos (mesmo que calados, só pelo comportamento…)  exemplos de intolerância ímpar.   A segunda coisa, é a frase (perfeita) de que “numa discussão, os dois lados deveriam aprender”.

    Comumente vejo nos posts das redes sociais – inclusive aqui, no GGN – as pessoas “não lerem o texto”, numa espécie de bloqueio, de cegueira em relação AO TODO.  Se a premissa principal, ou uma outra, secundária, vai contra a paixão do leitor em relação ao assunto abordado, temos a impressão de que “texto e autor” são repudiados, perde-se às vezes a INTENÇÃO da leitura isenta, leve, a mente aberta, justamente para esse intuito: o aprender!

    Tenho uma “implicância natural” com o que vejo e sinto às vezes, com o que chamo de “anti-lulismo exacerbado” de meu amigo Arkx, que reputo uma mente brilhante e criativa.  Às vezes, tenho que ler seu texto mais de uma vez para compreendê-lo.  E mesmo quando sigo achando exagero uma determinada colocação crítica sua ao “lulismo”, percebo que se dispo a crítica do exagero, encontro verdades ali, coisas que eu não pensaria por mim, provavelmente JAMAIS, até pela “contaminação” da admiração que sinto por Lula.

    No Facebook, vejo “pegas” entre as esquerdas fragmentadas e personalizadas, onde egos falam mais alto, e quando vamos ver as diferenças, às vezes nem são opostas, mas PARALELAS, ou seja, fraturas onde se enxerga a possibilidade de pontes.

    Felicite a Dodó, por tão precocemente já saber que uma BOA discussão vale mais que uma fácil vitória, ou o tal “lacrar”.

  7. Gostaria de ter a esperança
    Gostaria de ter a esperança do Nassif e o parabenizo pela filha, a qual deve ter se espelhado bastante em seu exemplo. Contudo, o que percebo com minhas vistas cansadas é que o cerco de alienação do capitalismo fim de linha está cada vez mais fechado sobre a juventude. Como resultado, vejo muito salve-se quem puder, indiferença e niilismo. Tomara eu esteja enganado e que nossos filhos sejam melhores do que nós.

  8. Lacração

    Nassif, um amigo e eu, de Belo Horizonte cunhamos o termo “epistemologia da lacração”. Criado pelas esquerdas combativas e tilelês. É o jogo da não conscientização sendo gerado por quem deveria agregar e educar, como dito pela sua Bobó. É lamentável para nós da esquerda ver que nossos companheiros desprezam valores fundamentais para “mitar” nos tribunais da internet. Pode fazer uso do termo em seus textos.

  9. desesperança

    Gostaria muito de concordar com sua proposição final, de que a próxima geração de jovens que vão assumir o país seja mais civilizada que a atual. Há grandes investimentos da direita em lixos como o MBL para que os futuros líderes sejam reacionários. Há que investir em lideranças que defendam a civilização contra a barbárie dessa direita predatória, mas a luta é desigual, eles controlam o poder econömico e a grande imprensa.

  10. Qual é o exemplo do STF para nossos jovens?

    Quando a questão da condenação do Lula pelo juiz Sérgio Moro chegar até o STF, os ministros votarão da seguinte maneira: A ministra Rosa Weber formulará o voto afirmando que “não tenho provas contra o Lula, mas a literatura jurídica me permite condená-lo”.

    O voto da ministra será seguido pelos ministros tucanos Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes; pelos ministros antipetistas Dias Toffoli, Luís Fux e Celso de Mello; pelos ministros inseguros Edson Fachin e Cármen Lúcia e, por fim, pelo iluminista Luís Roberto Barroso.

    No final, apenas Marco Aurélio Melo e Ricardo Lewandowski votarão pela absolvição do Lula. E assim, o Supremo Tribunal Federal terá finalizado em definitivo o golpe de Estado que destruirá o Brasil e dificultará o futuro dos nossos jovens.

    1. Você esta errado, Wilton.

      Você esta errado, Wilton. Marco Aurélio Mello votará pela condenação porque é antipetista e anti Lula e não se atém a leis nesses casos. Só quando é para soltar o goleiro Bruno. Já Lewandovski votará pela condenação porque será a grande oportunidade dele mostrar que está do lado de lá e se alinhar com a establishment. No mensalão tive a obrigação de fazer o contraponto mas sempre estive junto com vocês dirá nas entrelinhas.

      Efeito manada. É a boiada do STF desprezando a Constituição e pastando sobre a nação e o estado brasileiro. 

  11. Nassif mais uma vez presta
    Nassif mais uma vez presta grande serviço à nação trazendo histórias de anônimos heróis em um país MUITO carente de bons exemplos,valeu,eu tenho uma historinha minha tb,em meu trabalho logo após as eleições presidenciais eu descia a lenha dizendo q Aécio era muito sujo,todos olhavam torto para mim e eu sentia “vibrações negativas”quando Aécio foi desmascarado colhi os frutos do q dizia dele a um ano antes(kkkk)fiquei sendo “o cara” e todos passaram a me respeitar muito mais,tb… eu leio o ggn, não poderia ser diferente(q puxa saquismo!)

    1. Querem dizer que Dodó é

      Querem dizer que Dodó é inteligente por ter o privilegio de ser filha de Nassif,e eu sou burro por ter o privilegio de ser filho do Papai.kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk.”Cada povo tem o governo que merece,não necessariamente nesta ordem”.Ass:Eliseu Julindo Cordão de Saia,colega de sala.

  12. Eu tenho é medo do país que

    Eu tenho é medo do país que meus filhos enfrentarão pela frente.

    Tenho medo de um país onde candidatas a professoras em escolas infantis particulares são, na lata, inquiridas sobre orientação política. Sim, isso acontece com certa naturalidade hoje, os professores estão com medo.

    Tenho é medo de meus filhos, se optarem por alguma militância, serem perseguidos, agredidos, caçados ou mesmo entrarem nas “listas negras” profissionais. Tais “listas negras”, para os “petralhas”, hoje é uma realidade.

  13. Pois eu continuo a acreditar

    Pois eu continuo a acreditar que, com quem prega o arbitrio,  não tem diálogo. Quando minha caçula excluiu do facebook colegas de escola que propagavam Bolsonaro, o seu racismo, homofobia, misoginia e violência a elogiei. Ela percebeu que havia algo errado com essas mensagens e tinha direito em não compactuar com a bárbarie. Manifestou o seu desagrado de forma clara e direta, não apelando para a hipocrisia do: ah! fulano é legal. Pena que divulgue mensagens desse fascista. De forma indireta disse: quer ser meu amigo? Partilhe de ideais humanitários. 

     

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