DOI-CODI 2017: A polícia política da Lava Jato, por Sergio Saraiva

Por Sergio Saraiva

“Se pensas que burlas as normas penais, insuflas, agitas e gritas demais, a lei logo vai te abraçar, infrator com seus braços de estivador”.

A reportagem do caderno Poder da Folha de S. Paulo de 24 de março de 2017 descreve o método de perseguição ao blogueiro Eduardo Guimarães e às suas fontes jornalísticas. Traz também dados do inquérito da Polícia Federal que levou à detenção de Eduardo, acusado por ter antecipado – em um furo de reportagem – a condução coercitiva do presidente Lula.

“Se tu falas muitas palavras sutis E gostas de senhas, sussurros, ardis, a lei tem ouvidos pra te delatar nas pedras do teu próprio lar”.

Interessante é percebermos que a Policia Federal parece, nesse caso, atuar como polícia política. Não parece que o vazamento em si seja mais do que um mote para o constrangimento de adversários do “regime imaginário de poder” que a Lava-Jato passou a representar.

O que há de mais representativo dessa posição ideológica assumida pela Polícia Federal de Lava-Jato são os termos utilizados no inquérito.

A auditora da receita que teria vazado os dados para Eduardo Guimarães foi rastreada pelas páginas da internet que seguia. As páginas eram de esquerda e isso a tornou suspeita. Seguia publicações do jornalista Fernando Moraes.

Voltaram a vasculhar as lixeiras do pessoal de esquerda. Agora, as lixeiras das caixas de e-mails.

“Se trazes no bolso a contravenção, muambas, baganas e nem um tostão, a lei te vigia, bandido infeliz, com seus olhos de raio-X”.

Agora vejamos como a PF classifica tais publicações: “desrespeitosas” e “ofensivas” para com a Lava-Jato.

Não, as publicações não eram críticas a Lava-Jato, eram ofensivas. A Lava-Jato, no entender desses policiais, não é uma investigação, é uma entidade em si mesma que pode ser desrespeitada e ofendida. Algo como a “pátria” na época da ditadura.

Para criminalizar tal atitude, ressaltam que seguir tais publicações demonstra “alguma espécie de simpatia ou alinhamento à posição ideológica do ex-presidente do Brasil”. Referem-se a Lula – por óbvio fonte de inspiração ideológica deletéria à moral e à segurança nacional.

Pelas últimas pesquisas de intenção de voto, mais de 40% dos eleitores brasileiros tem simpatia ou alinhamento ao ex-presidente do Brasil. Como se posicionaria a polícia de Lava-Jato em relação a isso?

Simples, o Brasil é o Brasil e Lava-Jato é Lava-Jato – são países diferentes, inimigos em alguns aspectos. Tal e qual demonstrar simpatia por Fidel Castro era crime na ditadura.

Quanto à pessoa que serviu de ponte entre a auditora da receita e Eduardo Guimarães – seria um “radical político”.

Mas afinal o que é um “radical político”? Algo próximo de um “radical islâmico” ou a um “terrorista”?

Não sei, mas a Polícia Federal de Lava-Jato o julga como alguém muito perigoso.

“Se vives nas sombras, frequentas porões, se tramas assaltos ou revoluções, a lei te procura amanhã de manhã com seu faro de dobermann”.

O que se passa pela cabeça de um policial que redige um inquérito usando tais expressões?

Vive em que tempo de que país? No tempo das liberdades civis garantidas, no Brasil, pela Constituição de 1988?

“Art 5º – ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença”.

Não, vive em outro país – no país da Lava-Jato.

Nesse país, uma investigação policial pode ser ofendida, quem demonstrar simpatias por Lula é suspeito e quem se posicionar formalmente em relação a isso é radical político.

E, então, em nome da pátria Lava-Jato, a detenção de Eduardo Guimarães passa a ser coerente.

“E se definitivamente a sociedade só te tem desprezo e horror e mesmo nas galeras és nocivo, és um estorvo, és um tumor, a lei fecha o livro, te pregam na cruz, depois chamam os urubus”.

 

PS1: os versos entremeados ao texto são da canção “Hino de Duran” de Chico Buarque de Holanda. São de 1979 – em plena ditadura, e se parecem aplicáveis ao momento atual do Brasil, não é por coincidência.

PS2: Oficina de Concertos Gerais e Poesia – mais um porão infecto dentro dos subterrâneos da liberdade.

Redação

20 Comentários

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  1. Viva o Brasil

    PQP! É inacreditável concluir, que toda essa barbaridade cometida contra Eduardo Guimarães surgiu em função de um vazamento de informação sigilosa, cuja responsabilidade de mantê-la sigilosa competia exatamente aqueles que o denunciaram, que o investigaram e que o prenderam. Todavia, não custa nada informar que a grande coincidência de tudo é que todos os que deveriam zelar pela segurança do sigilo, além de serem os mesmos que o denunciaram, que o investigaram e que o prenderam.  são também, pasmem, os mesmos que constantemente são acusados de serem os responsáveis por quase todos os vazamentos acontecidos na operação lava jato. Viva o Brasil!

  2. O estado de extrema excessão

    O estado de extrema excessão está caminhando cada vez mais a todo vapor. O país está nas mãos de bandidos delinquentes, que fazem com seus adversários exatamente o que tem que ser aplicado a êles. São bandidos de altíssimo grau de periculosidade, frutos da corrupção institucionalizada e fomentada por fernando henrique cardoso, o corrupto número 1 do Brasil, que é corrupto ativo, passivo e extremamente permissivo, conluiado com os norte americanos e países europeus com altos interêsses no território brasileiro, especialmente no pré-sal. O Brasil só sai desse buraco de ditadura com ajuda externa, pois está 100% tomado pelos golpistas infiltrados nos 3 poderes e em todas as instituições que seriam vigas mestras para uma democracia.

  3. Millôr Fernandes não poderia

    Millôr Fernandes não poderia ser mais atual: “o Brasil tem um enorme passado pela frente. Ou um enorme futuro por detrás”.

  4. Somos do tempo do “atestado ideológico”

    Muitos aqui, assim como eu, somos da época em que se exigia “Atestado Ideológico” para se arrumar um emprego na área privada ou ser aceito num cargo público através de concurso. O cidadão tinha que ser afinado ideologicamente com a ditadura, caso contrário estaria ferrado. Estamos voltando a este tempo que imaginávamos fazer parte do passado.

    Errata: o atestado de ideologia era expedido pelo DOPS – Departamento de Ordem e Política Social..ixi, o correto é Departamento de Ordem Politica e Social…não havia essa coisa de Politica Social não….o mote era a ordem politica….a ordem social….DOPS, acrônimo anacrônico…

    Até Marx era fichado no DOPS

    http://www.revistaforum.com.br/2012/02/09/ate-marx-era-fichado-no-dops/

  5. ou muito me engano…

    ou foi declarado que usariam engodos…………………….

    força tarefa que não transmite nem ensina as ideias fundamentais de justiça que diz respeitar e seguir,

    sinal de que vem criando sua própria doutrina, particular

    1. se liga, gente…

      estudem mais a fundo os vazamentos……………………………….estão fazendo doutrina

      puta ilegalidade criar a doutrina que vai orientar a defesa……………..coisas de tiranos mesmo

  6. Estamos ferrados… e

    Ainda mal pagos. É o fim. A lembrança do Millor encaixa como luva, em nossos belos dias. Assim como a letra do Chico.

    Parabens pelo texto Sérgio Saraiva.

  7. Crimes de Opinião

    De agora em diante, ao se sentirem acuados, os meganhas de Curitiba não hesitarão em usar qualquer expediente para intimidar. Inlusive abrir investigação ( como já tem ocorrido ) por opiniões e críticas contrárias ao que fazem a margem da lei. O falso recuo, no caso do Edu, foi em função de críticas na própria  opinião midiática chapa-branca.  Tudo entre eles é calculado e sabem que não podem perder o apoio do centro que ainda se preocupa em manter as aparências !!

  8. Crimes de Opinião

    De agora em diante, ao se sentirem acuados, os meganhas de Curitiba não hesitarão em usar qualquer expediente para intimidar. Inlusive abrir investigação ( como já tem ocorrido ) por opiniões e críticas contrárias ao que fazem a margem da lei. O falso recuo, no caso do Edu, foi em função de críticas na própria  opinião midiática chapa-branca.  Tudo entre eles é calculado e sabem que não podem perder o apoio do centro que ainda se preocupa em manter as aparências !!

    1. É verdade, 
      “Mas o juiz pode

      É verdade, 

      “Mas o juiz pode ter arrumado confusão.

      Eduardo devolveu hoje, narrando de forma minuciosa a maneira intimidatória como foi preso e interrogado – sem que se permitisse a ele o acompanhamento de um advogado. E mais: ao prender Eduardo, Moro na verdade já sabia quem teriam sido as fontes – porque quebrara o sigilo telefônico do blogueiro.

      Ou seja: Moro hipocritamente reconhece que Eduardo tem direito a sigilo da fonte, e por isso manda que se expurguem dos autos provas que ameacem tal sigilo. Mas esse reconhecimento vem depois que o juiz já cometeu a ilegalidade: quebrou o sigilo telefônico de Eduardo atrás da fonte.

      Moro fez isso com um blogueiro. Amanhã pode fazer com qualquer um.

      A figura de Moro, como juiz medieval, começa a correr o mundo. Com suas camisas negras, ele age não como magistrado, mas como parte da acusação.

      O objetivo, já que fracassaram as investigações ridículas do pedalinho e do tríplex, é acusar Lula de obstrução da justiça e destruição de provas (com ajuda de Eduardo).

      Chega a ser ridículo. O ex-presidente precisaria do alerta de um blogueiro para destruir provas (se esse fosse o caso)? Mais que isso: Eduardo noticiou a possibilidade de quebra de sigilo fiscal de Lula e família. Que prova poderia ser destruída, se tal sigilo diz respeito a informações armazenadas em arquivos públicos da Receita sobretudo?

       

      http://www.revistaforum.com.br/rodrigovianna/geral/38041/

  9. Texto inspirado e incisivo.

    Texto inspirado e incisivo. Valeu muito. Mas é preciso não esquecer que Moro é um PEÃO da máquina de propaganda Nazi-Globista. Ao se realçar sua figura, ajudamos a esconder nas sombras os TRÊS IRMÃOS, que insuflam vida e MOVEM o PEÃO. Pode-se questionar ainda a tal popularidade do PEÃO, que justificaria o temor daqueles que deveriam conter o  justiceiro de Curitiba. Mesmo porque, a força midiática do PEÃO é obra da MÁQUINA GOLPISTA. No momento oportuno, os TRINTA DEDOS lançarão o PEÃO para fora do tabuleiro, não antes que este elimine do jogo nosso querido NOVE DEDOS. O verdadeiro MAL é a MÁQUINA BILIONÁRIA GLOBAL, que pariu um PEÃO de suas entranhas, para destruir o PEÃO METALÚRGICO. 

  10. Diz uma lenda

    que Chico fez “Hino de Duran” para homenagear Stuart Angel (Filho de Zuzu, irmão de Hidelgard; foi assassinado nas dependências da Base Aérea do Rio pelos militares). Pra mim a melhor interpretação desse hino é a do próprio Chico juntamente com a Cor do Som. Stuart foi “Preso próximo a seu “aparelho“, no bairro do Grajaú, perto da Avenida 28 de Setembro, na Zona Norte do Rio, Stuart foi levado pelos agentes do CISA à Base Aérea do Galeão para interrogatório. Dele, os militares queriam a informação da localização do ex-capitão Carlos Lamarca, chefe do MR-8 e então o grande procurado pelo regime. Negando-se a falar, foi então barbaramente torturado e espancado. Depois, foi conduzido ao pátio da base, vindo a morrer em consequência dos maus tratos.”

  11. E pode ter certeza, Saraiva,

    E pode ter certeza, Saraiva, que voce também entrou na lista de suspeitos “perigosos”. Não duvido nada que a PF com a autorização do fascista de Curitiba tenha grampeado alguns blogueiros amadores que participam ativamente dos blogos sujos, como PHA. Cafezinho, Viomundo, Rovai, Tijolaço, e até o Nassif, que não é nem um pouco socialista.

    Não me espantaria se começarem a usar informações da vida particular para atacar a esquerda dos blogs, tentando atingir a honra das pessoas. Um blog “limpo” que aceitaria ser depositário dessa baixaria é o tal antogonista, com certeza. 

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