Drama sírio atinge novo patamar

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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FOTO: KHALIL ASHAWI/REUTERS – 26.122015Crianças sírias

 CRIANÇAS SÍRIAS SE PROTEGEM EM ABRIGO IMPROVISADO EM OM AL-SEER

 Do Nexo

Civis morrem de fome na Síria. Há leis para punir os responsáveis

Drama dos sírios, que parecia ter chegado ao ápice com a crise de refugiados, alcança a novo patamar, com pessoas comendo animais domésticos para sobreviver

Os moradores da cidade síria de Madaya estão morrendo de fome ou comendo cães, gatos, grama e até terra para sobreviver. A cidade, de apenas 30 mil habitantes, fica numa região montanhosa, quase na fronteira com o Líbano, e está isolada desde julho, num fogo cruzado entre os rebeldes da Jaysh al-Fateh – um dos muitos grupos surgidos na Síria nos últimos cinco anos de guerra civil – e as forças leais ao presidente sírio, Bashar al-Assad, que disputam o controle da região.

A última vez que uma equipe do CICV (Comitê Internacional da Cruz Vermelha) alcançou a cidade foi em outubro de 2015. No mês seguinte, os MSF (Médicos Sem Fronteiras) disseram que, desde então, 23 moradores morreram de fome, dos quais 6 crianças.

A região está isolada por que nem os rebeldes, nem as forças do governo têm condições de estabelecer um domínio militar definitivo sobre as áreas que envolvem a localidade.

Moradores citados pelo jornal americano “The New York Times” dizem que as pessoas que tentam deixar a cidade são alvejadas por atiradores do Hizbollah, grupo xiita presente principalmente no Líbano, com fortes laços com o governo do Irã, que apoia o presidente sírio. O jornal britânico “The Guardian” diz que o isolamento da cidade foi imposto por forças sírias em represália ao domínio de grupos rebeldes sobre as cidades vizinhas de Fua e Kefraya.

O isolamento de Madaya começará a ser rompido no domingo (10) ou na segunda-feira (11), nas estimativas feitas pelas equipes da Cruz Vermelha. A organização pediu que as forças em combate garantam o acesso desimpedido para todas as organizações humanitárias que estejam em condições de abastecer a região.

Responsabilidade geral

FOTO: KHALED AL-HARIRI/REUTERS – 20.06.2011Fotos de Assad

 MANIFESTANTE COM CARTAZES DESTACÁVEIS EXIBINDO O ROSTO DO PRESIDENTE SÍRIO, BASHAR AL-ASSAD

 

Situações extremas como a de Madaya costumam ser consideradas um efeito colateral inevitável das guerras. Mas não é assim. Tanto as forças armadas regulares, ligadas ao governo sírio, quanto os diversos grupos armados que atuam no país estão obrigados a garantir condições de sobrevivência às populações civis que estejam em territórios disputados.

A infração é passível de punição tanto pela justiça do país onde se dá o conflito quanto por tribunais internacionais. No futuro, comandantes militares com responsabilidade sobre as tropas estacionadas em Madaya, assim como seus superiores políticos, podem ser julgados por dois caminhos:

Possibilidades

NACIONAL

Cortes marciais podem julgar no ato violações cometidas por seus próprios militares envolvidos em graves crimes contra os direitos humanos e o direito da guerra. Membros de milícia estão permanentemente sujeitos ao código penal do país onde atuam, ou legislações extraordinárias domésticas aplicadas internamente por esses países em tempos de guerra.

INTERNACIONAL

Tribunais ad hoc (para um caso específico) constituídos pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas podem levar a julgamento cidadãos estrangeiros envolvidos em crimes de guerra, assim como o Tribunal Penal Internacional. Além disso, crimes de lesa humanidade podem ser objeto de ação de qualquer cidadão em qualquer lugar do mundo, por meio de um princípio chamado “jurisdição universal”.

Normas sancionam crimes cometidos pelos dois lados

FOTO: HOSAM KATAN/REUTERS – 14.02.2014Civis em Aleppo

 FAMÍLIA APÓS ATAQUE AÉREO ATRIBUÍDO A FORÇAS DO GOVERNO EM ALEPPO

 

As Convenções de Genebra preveem essas situações extremas e dita normas para evitá-las desde 1864. Ela diz expressamente que “é proibido, como método de combate, fazer padecer de fome as pessoas civis”.

Agregando que “a população civil de um Estado em conflito armado deve receber assistência humanitária, em particular provimento de alimentos, medicamentos, insumos médicos e outros suprimentos vitais que os civis necessitem”.

“As partes em conflito (…) permitirão e facilitarão a passagem rápida e desimpedida de todas as remessas, materiais e pessoal de socorro (…), inclusive no caso em que tal assistência seja destinada à população civil da parte adversa”

Protocolo Adicional às Convenções de Genebra

Para que isso aconteça, as partes em guerra recorrem com frequência a acordos temporários de cessar-fogo e à abertura de corredores humanitários. O uso de modernos geolocalizadores, como os aparelhos de GPS, facilitam atualmente o monitoramento deste tipo de acordo.

ESTAVA ERRADO: A primeira versão deste texto afirmava que o Irã é a favor da queda do presidente sírio. Na verdade, o país apoia Bashar al-Assad. A informação foi corrigida às 21h30 de 09/01/2016.

 

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

4 Comentários

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  1. parece quadros de

    parece quadros de portinar.

    crianças esfomeadas no deserto, é de doer o coração…. 

    e os armamentistas e seus teleguiados se empapuçando

    de dinheiro e de sangue  cada vez mais….

  2. Bem vamos la, ne. A principio
    Bem vamos la, ne. A principio achei que nao havia lido isso aqui, mas ja que ao que parece eu li, vou ver se processo. A cidade esta sitiada por tropas do estado, nao entra um grao de trigo e a populacao civil morre de fome, no entanto, porem, entretanto, todavia os terroristas continuam fortes e bem alimentados. Gostei da materia, faz todo sentido. Jornalistas jamais mentem, agora preciso convencer meu cerebro de pobre e desiformado disso. A proposito se quiserem noticias da Siria, consultem SANA News e FARS News.

  3. Protocolos, tratados, “TPI ” e o 2 x 1

       Jornalistas e “humanitários” muitas vezes cansam, enchem o saco, enganam no atacado, negam a realidade, o ser humano não é bom, e qualquer um que conhece um pouquinho de guerra sabe que as “civis” são as piores, e quando somadas a motivos religiosos e étnicos tribais ( Bósnia, Sudão, Somália, Ertitréia, Yemen etc… ), protocolos, convenções, tratados, não valem de nada, todas as ações de qualquer um dos contendores envolvidos descamba para a mais completa violência, cercos, fome deliberada, envenenamento de fontes, campos de estupro, escravidão, recrutamento forçado, “limpeza de campos minados”, ” proteção de alvos sensiveis (escudos humanos)”, vão ocorrer – seu vizinho que jogava futebol com vc., ano passado, comeu kebab em sua casa, pode ser o cara que vai te matar.

        Corte Marcial : Balela, em guerras deste tipo e origem, todos os mortos pelas “forças regulares”, não importa idade ou sexo, eram “terroristas”.

         TPI e “cortes had hoc” : Mais balela ainda, só derrotados, quando se consegue capturar , respondem a estes crimes e depois de anos, as vezes décadas, vão viver o final de suas vidas em ótimos presidios holandeses ( se fossem recambiados a seus paises, seriam, com suas familias, as vezes até suas tribos/tronco familiar, executados ).

         2 X1 ou 1 X  1 : Sem ingenuidade, para passar “comboio” ( UN, Crescente Vermelho, MSF ), tem “acerto” no porto, no aeroporto – nunca na estrada, afinal para o marketing da guerra, jornalistas registrando as cenas dos caminhões passando pela bondade dos que estão cercando é fundamental, faz parte do “acerto”, ganham as organizações humanitárias, os que estão cercando e os cercados vão comer, a midia propagandeará, os “humanistas escreverão fartos artigos, doações aumentarão, politicos vão discursar.

  4. 54.000.000

        Espero que ninguem nunca esteja presente, ou veja seres humanos com fome, nestas situações de guerra/cerco ou refugio em campos ,amontoados de gente, cercados de “barbas” *, 500 ml de agua para cada individuo/dia – quando tem – para tudo, inclusive cozinhar , onde sua colher e uma lata, vale a vida, não só a sua, mas dos que estão em sua barraca, o cheiro de seres humanos confinados vai a quilometros, nem vou escrever sobre as moscas/insetos varios, ou das aves a espreita ( um cara da ACNUR/ Crescente Vermelho, falou que aves sentem o odor da morte, portanto sobrevoam o “campo” ). E estar refugiado, no inferno, de um campo/cerco – para nós, que temos no minimo 2 refeições por dia , é um inferno – para eles, gente como nós, é continuar vivo.

         Já os que estão fora, querendo entrar no “inferno”, pouco importa o que se vê em filmes/séries, puras mentiras, ou alguem acredita que “atirar para o alto”** ( fazer barulho com fuzil ou metralhadora no auto ), vai espantar uma familia que andou mais de 50 milhas, no deserto de sal ** *( etiópia/somália), porra, esta familia está acostumada com escutar disparos, tiro de borracha ou gás ( lacri, inibidores ) eles nem ligam, é triste, caem nas trincheiras de contenção em volta do “campo”, pais, mães,  os mais idosos da familia, que mesmo caidos, quase inermes ( tipo um cara de 1,80 com 48 kg ), ainda conseguem falar, implorar,para que o restante de seus familiares, entrem no “campo” – eles sabem que irão falecer, mas querem garantir a sobrevivência dos seus, é HUMANO.

          Portanto, quando em operações humanitárias, o “coração” deve ser esquecido, coloque numa caixinha, chore depois ( e vai, já vi spetnaz chorar),, na analise concreta, não se trata de fuga, mas de resolutividade, não me venha com babaquice ideológica, vc. está lá para trabalhar, não para fazer tese, ou discurso, politicos fazem melhor que vc.. ( e vão te usar, conforme-se ).

          Para 30.000 pessoas, nesta região, nesta época – faz um frio do cacete, entre o LIbano/Siria – para manter esta população viva, diariamente são necessárias, para todos, só no basal, o envio de 54 Milhões de calorias/dia ( 1.800 x 30.000), em calculo aproximado, 1,0 Kg de arroz cozido gera 1.300 calorias, na equação, significam 42 toneladas deste produto por dia, ou seja quase 10 caminhões de arroz.

          Mas, enchendo o saco da UN e dos Estados Unidos/NATO, é possivel, até facil na logistica, enviar, a cada dia, em 3 caminhões ( 4x 4 para até 4 “american tons ” ), os “packs” de MREs ( meat ready to eat ), cada um com 3 refeições que chegam a 2.400 calorias cada – é um “pacotinho”, de menos de 1, 6 kg, que nem precisa cozinhar, é um processo quimico, aperta-se/quebra-se o involucro,  após de 3 a 5 minutos está pronto, até um criança de 10 anos consegue fazr uma MRE ( já vi , como tb. armar um AK ).

          Quem tiver estomago, figado, despreendimento, tiver interesse em ver o “ser humano” em situação limite, de vida, vá a um destes “campos”, veja uma criança com kwashikor que tem que ser alimentada por nasogastrica, na qual a cabeça é maior que o tronco, ela te olha perdida, te transpassa no olhar – de acordo com um amigo meu, meio mortal arrependido, ela te cobra, te responsabiliza.

           Todo mundo, em minha modesta opinião,caso passa-se por um campo destes, não guerrearia por nada, e é opinião de quem já participou do comércio de “artigos de defesa”.

            Glossário:

           * “barba” : é do inglês “barb wire”, arame farpado ou “concertina anti pessoal “

          ** ” atirar para o alto ” : tipo ação ridicula, as vezes com munição “traçadora iluminativa”, pode dar certo, no Haiti deu, mas em Africa, Oriente Médio, significa nada, tipo que nem um cara, iraquiano, engenheiro, que na época da MJ, quando o Irã atacava a estrada, os brasileiros corriam para os abrigos, eles ficavam na boa, porque se vc. escutou a bomba, é porque foi longe ( > 16 km ), a bomba ou o tiro de fuzil que te “matou”, vc. não escutou, vc. morreu antes.

          *** “deserto de sal : No ” Chifre da Africa” ( Eritreia/Djibouti/Somalia/Etiópia), existe um deserto de sal, muito concorrido por todas as tribos da região, e alguns, os que “perderam”, se dirigiam a “campos acnur” no Sudão, era até facil ver que tinham passado por lá, os pés estavam ferrados, e o restante dos “membros inferiores” de outra cor ” queimados de reflexão solar ) tipo um cara de 30 anos, parecer de 60.

            Guerras são terriveis, mas o homem, infelizmente nelas se revela, em sua essencia.

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