Em novo marco, ossadas de Perus são recebidas por laboratório da Bósnia

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
[email protected]

 
Jornal GGN – Mais um capítulo importante nos trabalhos de reconhecimentos de pessoas desaparecidas no período da ditadura do regime militar no Brasil foi alcançado nesta semana: 266 amostras de ossos e sangue de famílias da Vala de Perus foram enviados à Bósnia, ao laboratório da Comissão Internacional para Pessoas Desaparecidas (ICMP). 
 
Quase 30 anos após a descoberta da vala clandestina de Perus, localizada na zona Norte de São paulo, no cemitério Dom Bosco, familiares de desaparecidos políticos e da sistemática de desaparecimento forçado podem recuperar esperanças por respostas e ações do Estado.
 
Amostras das ossadas foram enviadas para análise de DNA em um laboratório na Bósnia. Com experiência de análise de mais de 20 mil casos de identificações humanas, o laboratório da International Commission on Mission Persons (ICMP) recebeu o material nesta quinta-feira (14).
 
De acordo com a procuradora regional da República e presidente da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, Eugênia Augusta Gonzaga, o 14 de setembro de 2017 “virou mais um dia histórico para a Vala de Perus e um divisor de águas, no Brasil, quanto ao trabalho de busca de corpos de pessoas desaparecidas”.
 
“Essa instituição seria o equivalente, em âmbito internacional, à Comissao Especial sobre Mortos e Desaparecidos (CEMDP), instituída por lei no Brasil, em 1995, graças à luta de familiares, mas que nunca teve orçamento para uma estrutura mínima de identificação de corpos”, explicou.
 
A remessa do material, que incluiu amostras de resquícios ósseos de pessoas enterradas na Vala de Perus, foi feita cuidadosamente pelo Grupo de Trabalho de Perus, responsável pelas investigações das ossadas desde 2014, criado para dar respostas definitivas, após diversos episódios de paralisação das pesquisas e trabalhos e a frustração de famílias.
 
“A cautela extrema contrasta com o descaso e périplo porque essas ossadas passaram desde a abertura da vala em 1990. Mas a mudança de rumos começou entre 2010 e 2012. Há muitas pessoas e instituições que trabalharam para que esse momento chegasse e tudo isso precisa ser registrado”, comemorou Eugenia Gonzaga.
 
O envio no dia 4 de setembro, pelos correios, com o processo de abertura e transferência de custódia de cada amostra, com mais de 400 assinaturas para as identificações, foi feito sob a coordenação do pesquisador Samuel Ferreira, o coordenador científico da CEMDO, e por Helder Nasser, familiar do desaparecido político Edgar de Aquino Duarte.
 
O momento é de comemoração para os investigadores do Grupo de Trabalho de Perus, pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), procuradores, e então representantes da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo durante a gestão do ex-prefeito Fernando Haddad, quando foram mobilizados esforços para o início dos trabalhos, como o ex-secretário Rogério Sottili.
 
“Vamos comemorar esse saldo fantástico: das 1047 caixas de ossadas, 700 estão analisadas e 100 enviadas para DNA lá do outro lado do mundo, no melhor lugar! Para quem acompanha essa luta dos familiares em torno dessas ossadas, exumadas há 27 anos e fechadas no Cemitério do Araçá por 15 anos, é emocionante”, disse Eugênia.
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

1 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador