Em tempos de espionagem, guru do software livre reitera filosofia em nome da liberdade

Jornal GGN – Considerado um dos “gurus” do software livre, o desenvolvedor e ativista Richard Stallman publicou artigo na revista Wired no qual reitera o uso de plataformas livres como forma de escapar das violações cometidas contra as liberdades individuais por meio das práticas de espionagens recentemente tornadas públicas. Para Stallman, que também é presidente da Free Software Foundation, o uso de software livre não apenas estimula a cooperação entre pessoas, mas garante liberdade, democracia e soberania. “Se os usuários não controlam o programa, o programa controla os usuários.”

Em seu artigo, Stallman lembra dos primeiros passos dados para o desenvolvimento do sistema operacional de software livre GNU, em 1984, que atualmente é usado por dezenas de milhões de computadores por meio do sistema operacional Linux – a distribuição Ubuntu é uma das que tiveram maior sucesso de público. No artigo, Stallman comenta as diferenças básicas entre “software livre” e “programas proprietários”. Explica, por exemplo, que o “livre” da plataforma que defende está relacionado à liberdade, e não à gratuidade, como muitos pensam.

Enquanto o software livre tem seu código-fonte aberto, de modo que os próprios usuários podem fazer ajustes e melhorias – que posteriormente podem ser compartilhadas na rede para outros usuários –, os programas proprietários não podem ser alterados. Isso faz com que os usuários precisem se adaptar às rotinas dos programas, e não o oposto. O ativista lembra, ainda, que quando um software é aberto, ele é controlado conjuntamente pelos usuários livres da rede, e não por uma empresa ou organização.

‘Programas proprietários são um jugo’

“Com o software proprietário, há sempre alguma entidade, o ‘dono’ do programa, que o controla e, por meio dele, exerce poder sobre seus usuários. Um programa proprietário é um jugo, um instrumento de poder injusto. Em casos extremos (embora esse extremo tornou-se generalizado) ,programas proprietários são projetados para espionar os usuários, restringi-los, censurá-los e abusar deles”, afirma Stallman, que cita exemplos entre as grandes organizações com forte presença de mercado, como a Apple e seu sistema operacional iOS, entre outros. “Por exemplo, o sistema operacional da Apple iThings faz tudo isso. Janelas, firmware do telefone móvel, e Google Chrome para Windows incluem um backdoor (porta de entrada pelos fundos) universal que permite a companhia alterar o programa remotamente, sem pedir permissão. O Amazon Kindle tem uma porta traseira que pode apagar livros”, diz.

Stallman, que com seu ativismo já enfrentou as tentativas de monopólio de grandes organizações, reafirma algumas das denúncias levadas a público após os vazamentos do ex-agente da NSA, Edward Snowden. Ele diz que o uso de plataformas “proprietárias” é um dos meios de um país perder soberania, e do próprio usuário. “De acordo com a Bloomberg, a Microsoft mostra os bugs (erros) do Windows para a NSA antes de corrigi-los. Não sabemos se a Apple faz o mesmo, mas está sob a mesma pressão do governo dos EUA como a Microsoft. Para um governo, o uso desse software (livre) coloca em risco a segurança nacional”.

Por fim, o ativista defende o uso exclusivo de software livre em escolas, principalmente nas públicas. Para ele, como elemento importante para a sociedade, a escola deveria repassar aos estudantes o espírito de cooperação e “valores democráticos e o hábito de ajudar as pessoas”, sob risco de contradizer sua “missão social”. “Escolas – e todas as atividades educacionais – influenciam o futuro da sociedade por meio do que ensinam. Assim, as escolas devem ensinar exclusivamente software livre, para transmitir os valores democráticos e o hábito de ajudar outras pessoas – sem falar que ajuda a formar uma futura geração de programadores profissionais. Ensinar o uso de um programa não proprietário é implantar a dependência de seu dono, o que contradiz a missão social da escola”, afirma.

Leia o artigo completo de Richard Stallman, na revista Wired (em inglês).

Redação

9 Comentários

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  1. “garantias”

    Uma conversa muito usada contra o software livre tem muito de “neolibelês” dos tempos do tal FHC e prega que software livre não tem garantias, se acontecer problemas ninguém resolve, que o melhor é comprar pacotes fechados tipo “caixa-preta” e ficar contente com isso.

       O pessoal do software livre sempre soube das implicações disso, eles alertam contra as caixas-pretas a pelo menos 20 anos, e eram chamados de “xiitas”.

    Uma vez, numa palestra sobre segurança de computadores, uma pessoa da área (não lembro o nome dele) disse que, na área de segurança de computadores “somente os paranóicos sobrevivem”.

    Agora, com os últimos acontecimentos, será que caiu a ficha para esse pessoal adepto das caixas-pretas?

    1. Liberais de araque

      Tanto no livre quanto no fechado o usuário não se tem garantias de que os bugs vao ser fechados. Por exemplo no Windows (que é o sw mais crítico do mundo) demora algumas horas pra sair correção… No Linux é questão de minutos.

      Mas no pior dos casos, no código livre, o código ta lá, basta um cara experiênte naquela linguagem que uma correção pode ser feita.

    2. “Xiita”… já fui (e ainda

      “Xiita”… já fui (e ainda sou) chamado assim várias vezes por usar apenas GNU/Linux desde o final de 2002 até hoje. Acho que esse episódio foi bom para o software livre… estou sendo procurado para instalar o “tal linux”. Aproveitando o momento, estou preparando um curso de extensão sobre o tema: GNU/Linux e LaTeX

       

      Venho percebendo um aumento de usuários, mas que desconhecem a filosofia por trás do movimento. Alguns nunca ouviram falar das 4 liberdades, gpl, etc.

      1. LaTeX

         Na  época do meu mestrado, escrevi adissertação no Word. Cada vez que abria o arquivo, as figuras estavam fora do lugar. Se falar no trabalho de fazer sumário, bibliografia, numeração de páginas correta e numeração dos capítulos.

         Minha tese de doutorado escrevi em LaTeX — PDFLaTeX para ser mais exato — e não me estressei com esses detalhes . . .

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