Espaço e cidadania: A mobilidade e o direito à cidade, por Cristiane Alves

Espaço e cidadania: A mobilidade e o direito à cidade.

por Cristiane Alves

A Lei 7.418/85 instituiu o vale-transporte não obrigatório. Com a alteração da Lei n.º 7.619, de 30 de setembro de 1987, José Sarney tornou obrigatório o custeamento do transporte do empregado pela empresa.

Essa lei trabalhista não foi um fim em si mesma. Embora em primeiro momento o empregador apenas facilite o traslado de seu empregado ao local de trabalho, outras variáveis entram em voga com essa lei.

Quando o empregado não tem os meios de transporte facilitados a tendência é que busque assentar-se o mais próximo possível de seu local de trabalho. Pessoas pobres não costumam dispor de meios para adquirir ou locar imóveis em qualquer área do espaço urbano. Logo, se a empresa necessita estar estrategicamente em uma região onde os imóveis sejam caros demais para seus funcionários as sub-moradias tendem a aumentar.

Parece um paradoxo, sobretudo aos que crêem que favelas e cortiços são o loco de desocupados crônicos e bandidos inveterados. Na verdade esses fenômenos urbanos aparecem como resposta à industrialização e ao êxodo rural provocado por ela.

Os marginais do ócio e do crime, na verdade se escondem e se camuflam entre os marginais da exploração da mais – valia.

Assim, embora se creia que as ciências humanas nada valem, é possível prever o aumento da degradação urbana, das moradias irregulares e precárias, das cidadanias mutiladas, caso a reforma trabalhista devolva o caráter facultativo ao vale-transporte.

Parece mais uma teoria apocalíptica face à transição de governo. Mas os setores patronais discutem, no momento, o caráter provisório da lei sancionada por Sarney em 1987.

Em tempos de liberalismo selvagem o patrão pensa no ganho a curto prazo, os empregados sentem as perdas para ontem.

A questão é que a mobilidade e a moradia digna geram cidadãos. Cidadãos entendem o espaço como uma extensão de sua casa. Sem cidadania, sem respeito, sem controle. A tendência é o aumento dos problemas urbanos já tão complicados de lidar.

Às vezes um bilhete de integração ônibus-metrô pode ser a borboleta que impediria o caos.

Cristiane de Assis Macedo Alves – Formação em Geografia (licenciatura e bacharelado) – UNESP, Especialista em educação especial com ênfase em Altas Habilidades e Superdotação – UNESP

Cristiane Alves

1 Comentário

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  1. Eh, Cristiane, prefeitos,

    Eh, Cristiane, prefeitos, vereadores e cidadãos engajados deveriam ter mais atenção com a cartografia das cidades, mas não é o que acontece e o problema das cidades mal organizadas e a gentrificação levam cada vez mais a classe média para os bairros distantes e a periferia… quase sempre abandonada a si mesma. 

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