EUA: Como evangélicos mudam de opinião sobre casamento gay

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Sugerido por Gunter Zibell
 
De Fora do Armário
 
Por Elizabeth Dias @elizabethjdias
 
Traduzido por Sergio Viula 
 
Links em português acrescentados pelo tradutor. Links em inglês são originais da reportagem.
 
Fonte: TIME

Se o cristianismo evangélico é famoso por alguma coisa na política americana contemporânea, é por sua completa oposição ao casamento gay. Agora, vagarosamente, ainda que inegavelmente, os evangélicos estão mudando de opinião.

Todo dia, comunidades evangélicas por todo o país estão se deparando com uma encruzilhada a respeito do casamento. Minha história para a revista TIME essa semana, “A Change of Heart,” é um mergulho profundo nas mudanças de alianças e divisões nas igrejas evangélicas sobre a homossexualidade. Em público, muitas igrejas e pastores têm medo de falar sobre as mudanças societais e geracionais que estão acontecendo. Mas atrás das cortinas, é um jogo muito diferente. O apoio ao casamento gay em todas as faixas etárias de evangélicos brancos tem aumentado em dois dígitos através da última década, de acordo com o Public Religion Research Institute (Instituto de Pesquisa sobre Religião Pública), e a mudança mais rápida pode ser encontrada entre os evangélicos mais jovens – o apoio deles ao casamento gay saltou de 20% em 2003 para 42% em 2014.

Aqui estão algumas da descobertas de primeira linha do meu artigo. (Para ler a história completa, em inglês, clique aqui.).

Neste inverno [N.T. o inverno de 2015 lá nos EUA, é claro] a EastLake Community Church (a Igreja da Comunidade do EastLake de Seattle) está discretamente saindo do armário como uma das primeiras mega-igrejas do país a apoiar a plena inclusão e afirmação das pessoas LGBTQ. É quase impossível exagerar na importância dessa atitude. EastLake é de muitas maneiras a quintessência em termos de mega-igreja evangélica com milhares de pessoas, frequência, louvor com música rock, sermões baseados na pregação da Bíblia. Mas o pastor Ryan Meeks, 36, está na crista da onda de uma nova decisão. “Eu me recuso a ir a uma igreja onde meus amigos que são gays são excluídos da Comunhão ou do pacto do casamento ou da beleza da comunidade cristã”, disse-me Meeks. “É uma atitude de integridade para mim – a mensagem de Jesus era uma mensagem de ampla inclusão.”

Conversar sobre casamento gay não é mais visto como uma concessão automática em termos de autoridade bíblica. Outros pastores evangélicos de peso como Andy Stanley da North Point Community Church (Igreja da Comunidade de North Point) em Atlanta e Bill Hybels da Igreja de Willow Creek não vão tão longe quanto Meeks, mas estão falando com a congregação e outros líderes evangélicos sobre como trafegar pelas mudanças que eles estão vendo nos bancos de suas igrejas. Hybels tem se encontrado privativamente, ao longo do último ano, com agregados LGBTQ para aprender como compreender melhor suas histórias. Em um retiro da Convenção Batista do Sul que durou três dias, em outubro, para treinar mais de 1.300 evangélicos a se posicionarem contra o casamento gay, Stanley encontrou-se tanto com ativistas LGBT evangélicos como com líderes da Convenção Batista do Sul para conversas privativas sobre se suas visões diferentes sobre casamento gay colocava-os de fora da fé. Jim Daly, presidente da organização Focus on the Family, desenvolveu uma amizade com o ativista LGBT Ted Trimpa e a Gill Foundation, e estão trabalhando juntos sobre temas como aprovar legislação anti-tráfico humano.

Faculdades evangélicas estão dando meio-passos na direção da inclusão e depois se retraindo para evitar uma aparência de mudança. A Wheaton College, por exemplo, a alma-mater de Billy Graham em Chicago, empregou uma lésbica celibatária em sua capelania para ajudar a conduzir um grupo oficial de alunos que questionavam sua identidade sexual, e ainda convidou uma ex-lésbica, agora casada com um pastor, para se dirigir ao corpo estudantil.

Em toda parte, líderes evangélicos como Russell Moore da Comissão de Liberdades Religiosas e Ética da Convenção Batista do Sul negam que uma mudança geracional esteja em andamento. Novos ativistas, líderes como Moore e outros que acreditam, frequentemente não são realmente evangélicos, mas revisionistas que não apoiam a autoridade bíblica tradicional. Além disso, Moore diz que para os evangélicos manterem suas opiniões fora do compasso com as mudanças societais é típico: “Nós cremos em coisas ainda mais estranhas do que isso”, diz ele. “Nós cremos que um homem previamente morto chegará do céu sobre um cavalo.”

Então, existe um crescente número e ativistas LGBTQ evangélicos pressionando por mudança. Matthew Vines, 24 anos, e fundador do Reformation Project (Projeto de Reforma), representa um novo momento para mudar a corrente evangélica. Ele espera levantar evangélicos afirmativos em cada igreja evangélica do país. Ele apresenta conferências e sessões de treinamento para evangélicos, tem equipe em três estados e representantes em 25, e já levantou uma estimativa de um milhão e duzentos mil dólares para 2015 para avançar mais. Brandan Robertson, 22 anos, é o porta-voz nacional para o Evangelicals for Marriage Equality (Evangélicos para o Casamento Igualitário), um esforço iniciado para ajudar evangélicos a apoiarem os casamentos civis gays, se não casamentos nas igrejas. Justin Lee, 37 anos, do Gay Christian Network (Rede de Cristãos Gays) realizou sua 11ª conferência anual no ano passado em Portland, Oregon., e 1.400 pessoas compareceram – o dobro do número que veio ano passado. A amizade de Lee com Alan Chambers, o fundador da organização ex-gay Exodus International, foi uma das peças-chave que levaram Chambers a se desculpar pelos ferimentos que sua organização causou, e a organização fechou.

Para todos em todos os lados, a Bíblia mesma está jogo. E, a mudança religiosa leva décadas, séculos até, quando acontece de fato. Mas a cada dia, está ficando mais difícil negar que a mudança está realmente acontecendo. Meeks coloca as coisas assim: “Cada movimento positivo de reforma na história da igreja é primeiro rotulado de heresia. O Evangelicalismo está muito atrasado nesse ponto. Temos um débito a pagar.”.

NÃO DEIXE DE ASSISTIR ESSE VÍDEO FANTÁSTICO DE UM PROFESSOR DA PUC SOBRE HOMOSSEXUALDIDADE. RECOMENDO MUITO. 

OUÇA TAMBÉM ESSA ENTREVISTA FEITA POR UMA RÁDIO EM BOSTON QUE DIALOGA COM PRESSUPOSTOS EVANGÉLICOS A RESPEITO DA HOMOSSEXUALIDADE:
 

 

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

5 Comentários

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  1. Essa é a tragédia dos gays,

    Essa é a tragédia dos gays, negros e outras minorias. Eles querem, precisam, ser aceitos pela sociedade podre que os marginaliza, mata e escraviza. Ao invés de romperem com essa sociedade e ajudar a transformá-la, o gay quer converncê-la de que apesar de gay pode ser tão conservador e religioso como qualquer um e o negro garante que apesar de negro é bem comportado, limpinho, não é ladrão, tem alma branca e é contra as cotas raciais porque são uma injustiça.

    O gay deveria lutar contra todas as formas de religião. Todas elas têm a homofobia como valor básico pelo simples motivo de que religião é mecanismo de dominação e dominação só se consegue com reprodução, coisa que “aparelho excretor não faz”, como diria Levy Fidelix. Ao invés de ajudar a demolir o casamento, uma instituição que faz cada vez menos sentido e já está praticamente obsoleta, o gay sonha em casar no altar, trocando alianças com seu noivo numa bela e cara cerimônia, beijando-o no final para mostrar para a sociedade como o amor entre dois homens é lindo.

    Acontece que a sociedade tem nojo de ver dois homens se beijando, e não é com novelinhas da Globo e personagens histriônicos que ela vai aceitar, mas com luta e contestação, como fazem os jovens gays que não se conforma mais com seus guetos, têm a coragem de se beijar em público e reagem quebrando a cara de quem os ameaça.

     

    1. Mas gente…

      Demolir o casamento pra quê?

      Amanhã (hoje sábado) vamos ao cartório entregar os papéis para o nosso.

      E romper com religião pra quê?

      A maioria dos LGBTs é religiosa.

      Isso da reprodução não tem mais lugar nessa discussão. O número de heteros que não se reproduz é 5 ou 6 vezes maior que o de LGBTs que não se reproduz. 

      Reprodução não é uma discussão hetero x gay. Há pessoas que não querem se reproduzir e outras que querem. Só isso.

      1. > Demolir o casamento pra

        > Demolir o casamento pra quê?

        A pergunta certa não é “para quê”, é “por que”.

        Demolir o casamento porque ele não faz mais sentido desde que a mulher conquistou a sua independência e igualdade legal. A união entre duas pessoas é um ato de amor, compromisso e responsabilidade e não de exibição pública e submissão às convenções sociais.

        Para os gays, o casamento nunca fez sentido.

        > Amanhã (hoje sábado) vamos ao cartório entregar os papéis para o nosso.

        Amanhã, milhares de jovens, gays ou não, decidirão morar junto e compartilhar as suas vidas sem se submeter a nenhum ritual ritual medieval para a satisfação da sociedade.

        Você pertence ao passado.

        > E romper com religião pra quê?

        De novo, a pergunta certa é “por que romper com a religião”. Na verdade, é 

        > A maioria dos LGBTs é religiosa.

        A maioria das PESSOAS no Brasil é religiosa. Por enquanto. Isso não significa que religião seja coisa boa e vá durar para sempre. Nos países mais desenvolvidos e onde a população é mais educada, a maioria da população é atéia, isso é um fato bem conhecido que permite tirar uma conclusão sobre o futuro da humanidade e sobre a qualidade média das pessoas que acreditam em Deus.

        Que os LGBT sejam religiosos é uma DESGRAÇA. Vocês são os mais perseguidos em todas as religiões, inclusive dentro do espiritismo que vocês tanto adoram. Vocês deveriam ser a linha de frente do ateísmo, mas não, preferem implorar a aceitação de uma sociedade opressora, conservadora e violenta.

        > Isso da reprodução não tem mais lugar nessa discussão. O número de heteros que não se reproduz é 5 ou 6 vezes maior que o de LGBTs que não se reproduz. 

        > Reprodução não é uma discussão hetero x gay. Há pessoas que não querem se reproduzir e outras que querem. Só isso.

        Concordo com você mas isso é irrelevante para o que eu estou dizendo. O pensamento religioso é irracional e você nunca vai conquistar a simpatia de um religioso com seus gráficos e estatísticas quando o que elas dizem contraria o que está na Bíblia, no Corão ou no amontoado caótico do espiritismo.

         

      2. A frase ficou interrompida:
        >

        A frase ficou interrompida:

        > E romper com religião pra quê?

        De novo, a pergunta certa é “por que romper com a religião”. Na verdade, é mais simples responder o contrário: por que ter uma religião? É uma pergunta fácil de responder, não existe nenhum motivo para ter uma religião. 

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