Fome poderá matar mais pessoas por minuto do que a Covid em 2021, diz Oxfam

Coronavírus, clima, conflitos: esse coquetel explosivo já levou mais de 500 mil pessoas a se exporem a "condições próximas à fome"

Reprodução

da RFI

A fome no mundo piorou terrivelmente em 2020. Coronavírus, clima, conflitos: esse coquetel explosivo já levou mais de 500 mil pessoas a se exporem a “condições próximas à fome”, um contigente seis vezes maior do que em 2019, alerta em um relatório a Ong Oxfam. A RFI entrevistou Gabriela Bucher, Diretora Executiva Internacional do grupo.

RFI: Em seu relatório, a Oxfam indica que se não houver uma “ação imediata”, 11 pessoas podem morrer de fome a cada minuto no mundo até o final do ano. É mais do que a média de mortes por Covid-19 por minuto. Como chegamos a essa situação?

Gabriela Bucher: Infelizmente o “vírus da fome” está se espalhando. O número de pessoas que vivem passando fome aumentou seis vezes no último ano. E agora em 2021, 155 milhões de pessoas estão em situação de crise alimentar. Um fator importante são os conflitos armados, outro importante é a pandemia e também a crise climática que já está nos atingindo. Esses três fatores principais fazem com que um número tão elevado de pessoas se encontre em situação de crise alimentar.

RFI: A pandemia piorou as coisas?

Gabriela Bucher: Sim e de várias maneiras. A pandemia atingiu um mundo muito desigual, mas realmente aumentou essas desigualdades de forma extrema. As medidas econômicas que foram tomadas para controlar a propagação do vírus afetaram desproporcionalmente os mais pobres.

Sabemos que no ano passado as pessoas extremamente ricas do planeta aumentaram suas fortunas de uma forma impressionante enquanto, ao mesmo tempo, mais de 100.000 pessoas caíam na pobreza extrema. A renda adicional dessas pessoas em 2021 de bilhões de dólares poderia impedir qualquer pessoa de entrar na pobreza, e também conseguir a vacinação para todas as pessoas do mundo.

RFI: Além disso, os preços mundiais dos alimentos aumentaram drasticamente…

Gabriela Bucher: É uma das consequências da pandemia. Em alguns países, esse aumento chega a 40%, o valor mais alto em uma década. Tornou a comida inacessível, enquanto as pessoas perderam o sustento com o qual antes podiam comprar pelo menos alguns alimentos básicos para si mesmas, e seus filhos.

RFI: Quem são as pessoas mais afetadas por esta crise alimentar?

Gabriela Bucher: Os famintos são encontrados principalmente na Etiópia, Iêmen, Sudão do Sul, Madagascar e Burkina Faso. Em seguida, há um aumento de pessoas em situação de crise alimentar em muitos países, incluindo países de renda média como Índia, África do Sul ou Brasil. E, em geral, a América Latina foi desproporcionalmente impactada pela pandemia e também já teve muitos efeitos da mudança climática.

RFI: A crise alimentar atinge principalmente as mulheres…

Gabriela Bucher: Estamos vendo que mulheres e meninas comem menos e comem por último, é algo comum em todos esses países. Pessoas deslocadas e refugiados também são altamente afetadas, assim como pessoas marginalizadas racialmente. Uma mulher na Síria nos disse, por exemplo, que a única coisa que ela poderia fazer por seus três filhos é ferver água e colocar ervas para dar a impressão de estarem recebendo comida.

Redação

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