Garoto disse em depoimento que viu policial plantar arma

Jornal GGN – A arma calibre 38 encontrada no carro roubado dirigido pelo menino Ítalo, de dez anos, quando ele foi morto pela Polícia foi plantada pelo mesmo agente que o assassinou. Essa é a informação que consta no último depoimento do menino de 11 anos que sobreviveu.

Na última sexta-­feira (17), dois policiais foram ouvidos no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa e retiraram a versão de que o menino Ítalo morreu depois de um confronto. A reconstituição do crime foi marcada pela Polícia Civil para o próximo domingo (19). O menino sobrevivente não vai participar, mas suas declarações serão levadas em consideração.

O menino e a mãe estão no Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte.

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Garoto de 11 anos diz que viu policial ‘plantar’ arma

Por Alexandre Hisayasu

Ele afirmou também, em conversa com Ouvidoria e Condepe, que viu policial matar amigo; reconstituição será feita amanhã na Vila Andrade

SÃO PAULO ­ O menino de 11 anos que participou do furto de um carro que terminou em perseguição policial e na morte de um amigo, de 10, afirmou em conversa com integrantes da Ouvidoria da Polícia e do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe) que viu o mesmo policial militar que atirou no colega tirar uma arma da cintura e levá­la para dentro do carro onde estava o garoto já morto. A informação deve ser incluída no próximo depoimento à polícia.

Segundo o advogado do Condepe, Ariel de Castro Alves, a informação só veio à tona agora porque o menino e a família estão integrados ao Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte (PPCAAM). “Agora, o garoto estando sob proteção e em local seguro desde quinta, poderá prestar depoimentos sem medo de retaliações”, disse.

O garoto deu até hoje três versões para o caso. Na primeira, gravada em vídeo a pedido dos policiais militares, diz que houve tiroteio entre o amigo e os PMs e o menino abaixava o vidro do veículo, atirava, e levantava de novo. Quando o carro bateu e parou, após a perseguição se estender por aproximadamente 300 metros, o menino de 10 anos ainda atirou e morreu no revide. Na segunda versão, no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), ele confirmou o tiroteio, mas disse que, quando o veículo parou, um policial se aproximou e atirou no amigo. Depois, ele saiu do carro, foi dominado, levou tapa e foi ameaçado de morte.

No terceiro depoimento, na Corregedoria da PM, acompanhado por uma psicóloga e em uma espécie de brinquedoteca, ele afirmou que nenhum dos dois estava armado e a arma foi “plantada” pelos policiais.

O laudo necroscópico constatou pólvora e chumbo nas mãos do menino de 10 anos, uma indicação de que ele atirou. No entanto, não encontrou os mesmos materiais na luva de motoqueiro que usava na mão direita. Os peritos do Instituto de Criminalística identificaram vestígios no veículo furtado de disparos de fora para dentro e não encontraram sinais de tiros dentro do carro. Seis PMs que participaram da ocorrência estão afastados das ruas.

Reconstituição. Nesta sexta­feira, 17, dois PMs foram ouvidos no DHPP e reiteraram a versão de que o menino de 10 anos morreu após confronto com os agentes. A Polícia Civil marcou a reconstituição do crime para o próximo domingo, por volta das 19 horas, no mesmo local dos fatos. O menino sobrevivente não vai participar. Mas as declarações prestadas na delegacia serão consideradas pela delegada.

O advogado dos policiais, Marcos Manteiga, disse que seus clientes estarão presentes e peritos particulares também vão acompanhar a reconstituição. “Quero garantir a lisura nos trabalhos.”

Ele informou que protocolou na Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa e na OAB­SP cópia da reclamação apresentada à Secretaria de Segurança Pública com relação a supostas arbitrariedades cometidas pela Corregedoria da PM contra seus clientes.

Redação

5 Comentários

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  1. Taxista me pergunta: “por que não atiraram no pneu do carro”

    Essa semana no taxi, ouvindo a notícia no rádio o taxista diz: “rapaz, afinal, será que o PM não poderia ter atirado na roda do carro, esvaziado os pneus… Aí o motorista teria que sair. E se tivesse gente sequestrada dentro do carro? Essa PM é muito barbeira ” … Concordei. Aliás, pergunto pra alguém da PM que estiver lendo essa notícia e os comentários: O PM (ou os PMs) não deveriam ter atirado nos pneus do automóvel? Não seria mais prudente? Pq atirar em pessoas quando dá para alvejá-la abaixo da cintura? Nesse caso, PQ atirar no motorista se poderiam ter parado o carro de outra forma? 

  2. Daqui a pouco, com  aquela

    Daqui a pouco, com  aquela declaração de chorar….de rir,  o advogado dos “policiais” vai acabar culpando a corregedoria dos crimes.

  3. garoto…

    Este país já havia assassinado este garoto. como assassinou moradores de rua, por uma politica anti higienista que não vê que é exatamente isto que se faz com uma pessoa que é largada na rua. Ignorado por todas instituições do Estado, da Presidência ao Judiciario, dos serviços assistenciais municipais aos Conselhos de Infância e Juventude ou a imprensa censuradora ideologicamente comparsa. Todos, esperando por um tiro para eximir su culpa e apontar dedos. Hipocrisia e canalhice,  está faltando tapete e argumentos para escondê-las.

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