Homens armados tentam invadir aldeia onde vive o cacique Raoni

Eles deram vários tiros nas madeiras que bloqueiam acesso à aldeia, assustaram a comunidade e foram embora

 INSTITUTO RAONI

Dois homens armados tentaram invadir a aldeia Piaraçu, da  comunidade que pertence a Terra Indígena Kapot Jarinã, onde vive o cacique Raoni Metuktire. Segundo informação do G1, o caso que ocorreu na segunda-feira (24) foi denunciado pelo Instituto Raoni à Polícia Militar.

Os índios contaram a PM que os homens chegaram em uma caminhonete e só não entraram porque não conseguiram passar por uma porteira que impediu o acesso à aldeia.  No local a polícia encontrou 29 cápsulas de calibre .9mm e marcas de disparos feitos pela dupla nas madeiras do bloqueio.

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O neto de Raoni, Patxon Metuktire, informou que as lideranças da região se reuniram para falar sobre o caso. Segundo ele, a população acredita que os homens tentavam fugir pela região.

“Foi um susto por causa dos disparos efetuados, mas os representantes entendem que era alguém tentando fugir por aquele caminho”, disse Patxon.

Para ele, é cedo para chegar a uma conclusão. “Não acredito que eles vieram atacar”, disse, de acordo com o G1.

Apesar disso, Patxon afirmou que a ação assustou a comunidade. Como forma de segurança, um alerta foi emitido para que os moradores das aldeias e da cidade não abram as portas caso alguém com as mesmas características dos suspeitos peça informações.

Cacique Raoni

O cacique kayapó Raoni Metuktire, uma das maiores lideranças indígenas do Brasil se tornou reconhecido internacionalmente por volta de 1989, quando liderou uma  campanha mundial ao lado do cantor inglês Sting pela demarcação de terras, os direitos dos povos nativos e pelo meio-ambiente.

Sua vida foi e continua sendo dedicada à luta pelos povos nativos e pela preservação da Amazônia.

Raoni nasceu no estado do Mato Grosso por volta de 1930 – em uma vila originalmente intitulada Krajmopyjakare, hoje chamada Kapôt – filho do líder Umoro, Raoni e sua tribo caiapó só veio a conhecer o “homem branco” em 1954. Quando se encontrou com os irmãos Villas-Boas (os mais importantes sertanistas e indigenistas do Brasil) e com eles aprendeu o português, Raoni já utilizava seu icônico labret, disco de madeira cerimonial em seu lábio inferior – instalado desde seus 15 anos.

Em 2019, o cacique foi indicado para o Prêmio Nobel da Paz, mas quem acabou sendo premiado foi o primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed. A indicação de Abiyu frustou quem esperava a vitória do cacique kayapó — torcida impulsionada pelo embate que o líder indígena brasileiro travou com o presidente Jair Bolsonaro (ex-PSL) em defesa dos direitos dos povos indígenas.

Em entrevista à BBC News Brasil, Raoni dise na época que não ficou abalado com o resultado da premiação e nem com as críticas de Bolsonaro. “A visão de um líder indígena não representa a de todos os índios brasileiros. Muitas vezes alguns desses líderes, como o cacique Raoni, são usados como peça de manobra por governos estrangeiros na sua guerra informacional para avançar seus interesses na Amazônia”, disse o presidente na Assembleia Geral da ONU à reportagem da BBC, em setembro.

Em julho deste ano, Raoni ficou internado uma semana, em Sinop, no Mato Grosso, se recupeerando de uma anemia severa e hemorragia digestiva após apresentar sintomas de desidratação, úlceras gástricas e inflamação no cólon.

 

Redação

3 Comentários

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  1. Na hora que o cara armado tá disparando o que os desarmamentistas sugerem em um momento como esse? Pedir aos pistoleiros pra esperarem pra quando e se a polícia aparecer? Negam a legítima defesa?

    1. Desarmamentistas defendem que as armas fiquem restritas às forças de segurança, quem não é soldado nem policial não deveria ter arma. Moro na China e aqui as coisas funcionam desse jeito, posso sair na rua tranquilamente, até mesmo de madrugada, e com dinheiro e objetos de valor, com a certeza de que não serei vítima de assalto a mão armada.

      Para essa sensação de segurança contribuem dois fatores principais: a proibição do porte de armas de fogo para civis e o policiamento eficiente. No Brasil não temos nem uma coisa nem outra: o acesso às armas é facilitado, desde que se tenha dinheiro, você pode ir à Polícia Federal tirar porte de armas e adquirir uma legalmente, ou pode comprar do traficante e tê-la de forma ilegal. O poder do Estado termina na porteira da fazenda, os rincões do Brasil ainda são um bangue-bangue, e nas áreas urbanas o poder do Estado vive em permanente guerra com o poder paralelo das milícias e facções criminosas.

      Seu comentário me trouxe à mente o filme O homem que Matou o Facínora, estrelado por John Wayne, um clássico dos filmes de velho oeste. Um jovem advogado se muda para uma cidade do oeste, dominada por bandidos que impunham suas próprias regras, à revelia da lei. Este bravo advogado não se intimida e se arrisca em defesa de tudo aquilo que ele estudou na faculdade de direito, buscando formas de efetivar o poder do Estado naquela cidadezinha ao invés de se render ao sistema instituído pelos bandidos. É somente dessa maneira que a civilização consegue se impor sobre a barbárie, e no Brasil vemos o oposto, agentes do Estado sendo cooptados pelo poder paralelo, que assim se torna mais forte e impõe a barbárie a cidadãos cada vez mais amedrontados, e é esse medo que os faz regredir à barbárie também, buscando uma arma para se defender sozinho, já que as instituições se mostram incapazes de lhe dar segurança. Ele compra uma arma, mas não sabe atirar. Acaba sendo baleado ao apontá-la para o bandido, ou sua arma é simplesmente roubada e vai parar nas mãos dos bandidos dos quais sempre buscou se proteger.

      Nesse caso específico não haveria outra opção: já que o Estado não consegue impor a lei em boa parte do território nacional, os moradores desses locais precisam se proteger por si mesmos, assim como faziam os moradores da cidadezinha do filme do John Wayne. Mas isso não significa que o faroeste deve ser aceito como algo normal e imutável: ele só pode existir naquele modo de vida primitivo de um país em construção, mas seu destino é sucumbir diante dos valores civilizacionais que precisam se impor, a menos que o projeto nacional seja justamente inviabilizar o Brasil.

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