Homicídio, truculência e ilegalidade marcam operação na Maré

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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do Redes da Maré

Homicídio, truculência e ilegalidade marcam operação na Maré

Ação durou mais de 14 horas, deixou um morto, dezenas de feridos e milhares de cidadãos indignados

As primeiras horas de ontem, (20/8), já sinalizavam para os 140 mil habitantes das favelas da Maré que aquele seria um dia bastante difícil. Por volta de 1h da madrugada, as Forças Armadas cercaram a comunidade. Fogos de artifícios foram disparados. Assustados, moradores que participavam de um pagode entraram em pânico. No meio da correria, algumas pessoas se machucaram. Isso era apenas o prenúncio do que estava por vir: uma ação marcada por homicídio, truculência e ilegalidade, que durou mais de 14 horas ininterruptamente, levando pânico, indignação, terror e perdas materiais a uma população cansada de ver seus direitos fundamentais desrespeitados.

Segundo relatos de moradores, a operação efetivamente (leia-se a invasão pelas forças policiais) começou por volta das 5h: apoiados pelo cinturão formado pelas Forças Armadas no entorno da Maré, policiais do 22° Batalhão, do Batalhão de Choque e do Batalhão de Operações Especiais (Bope) entraram nas favelas Nova Holanda, Parque Maré, Rubens Vaz e Parque União. Não se sabe, até momento, quantos policiais foram destacados para essas comunidades. É consenso, porém, que não foram poucos os que circulavam pelas ruas das favelas, a pé ou em carro blindado (Caveirão), abordando os moradores com truculência.

A equipe de plantão da Maré de Direitos recebeu, ao longo do dia, várias denúncias de violação de direitos, entre elas, o arrombamento de um carro e a invasão de duas casas, uma no Parque Maré; e outra na Nova Holanda. Em ambas as casas, a polícia não tinha mandado de busca e apreensão e deixou rastros de destruição, danificando móveis e eletrodomésticos. Na Nova Holanda, chegaram ao cúmulo de arremessar o cachorro da casa, um poodle, do terceiro andar. O animal sobreviveu.

O pior, no entanto, ainda estava por vir. Por volta das 18h, o plantão da Maré de Direitos recebeu uma ligação denunciando a tortura de quatro jovens no Campus Maré, onde ficam várias escolas da região. Mesmo em meio ao clima tenso, a equipe da Redes Da Maré partiu para o local. Lá, encontrou um grupo de 50 pessoas, a maioria mulheres e crianças, que discutiam com um policial. Eram parentes e amigos dos quatro jovens que se encontravam encurralados pela polícia em um beco, de onde não podiam ser vistos. A equipe, imediatamente, começou a mediar o conflito, conversando com o policial que estava de guarda, impedindo a entrada das pessoas no beco. “Comecei a conversar com o policial. E fiquei impressionada. Ele estava tão nervoso que não conseguia articular as palavras. Em determinado momento, ele disse: ‘a gente tá aqui desde as 4 horas da madrugada, de pé, sem comer, sem ir no banheiro, e essa gente vem aqui pra fazer tumulto. Como é que você quer que eu tenha calma?’”.

O clima continuava tenso, mas sob controle. A equipe se posicionou entre o policial e o grupo de moradores, fazendo um minicordão humano para evitar que os ânimos ficassem mais acirrados e buscando uma solução. Enquanto dialogava com o policial, um corpo, envolto em um cobertor cinza, foi trazido por cerca de 10 policiais. Ninguém teve dúvidas: um dos jovens morrera e seu corpo estava sendo levado para o Caveirão. As famílias presentes se desesperaram, começaram os gritos. Uma jovem furou o cordão humano: precisava saber a identidade do morto. Foi o estopim. Um policial apontou seu fuzil para o grupo e um segundo disparou tiros a esmo. O grupo se dispersou.

Os outros jovens encurralados saíram com vida do beco. De Belém, como era conhecido o jovem que foi morto, não tinha parentes na comunidade, na qual morava há pouco mais de um ano. Pouco se sabe sobre rapaz, inclusive sobre sua morte. O que se sabe, no entanto, causa indignação: seu corpo foi retirado da cena de seu assassinato antes que a perícia pudesse ser feita e sua morte não foi registrada na Delegacia de Homicídios.

A Maré de Direitos vai entrar com ações para garantir que arbitrariedades e brutalidades, como invasão de domicílios, homicídios e armamentos letais não possam ser usados indiscriminadamente contra a população. “Essa ação deixou uma certeza: precisamos urgentemente refletir e discutir sobre as condições psicológicas, os danos à sanidade mental dos policiais provocados pelas condições a que são submetidos nessas ações; sobre a falta de perícia nos casos de homicídios executados nessas operações; e sobre o uso de armas letais contra a população. O interesse da Maré de Direitos é pela vida e pela legalidade”, afirmou Lidiane, coordenadora do Eixo de Segurança Pública e Acesso à Justiça, ao fim de mais um dia bastante difícil para todos os mareenses.

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

10 Comentários

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  1. É de de dar dó
    É de de dar dó como a esquerda perde tão facilmente o debate sobre segurança pública. Alem de denunciar a burrice sobre os Direitos Humanos, obviamente, a primeira coisa que deveria ser repetida a até cansar é que policial precisa ser tratado como profissional de segurança, e não como cachorro, pra quem se diz “pega, pega, pega!” e ele vai.

    1. Sua falta de conhecimento sobre o RJ é de dar dó..

      Seu comentário é de dar dó. pelo nivel de desinformação sobre a situação do RJ. A intervenção militar não atua em áreas de milicias; já tentou se perguntar porque? voce acha que denunciar a intervenção militar diante disso é erro da esquerda???. A esquerda não pode tapar os olhos para uma instituição que é conivente e omissa com relação aos crimes da milicia que age por dentro da policia, não é por fora nem contra. E lembre que tem até policial agindo como policia politica no Rio de Janeiro. Combata o verdadeiro inimigo, não haja como cavalo de tróia botando agua no moinho da extrema direita

      1. Ai, ai…sou do Rio de

        Ai, ai…

        sou do Rio de Janeiro, nasci e cresci na zona norte da cidade, já morei em vários endereços, e atualmentee moro na zona oeste. Estou pelo menos desde a década de 80 acompanhando, por assim dizer, esse debate sobre a criminaidade e violência. Vou repetir só uma coisa: não é de hoje, dessa intervenção pra cá, que a esquerda vem perdendo o debate sobre segurança pública. O fato de tanta gente repetir que Direitos Humanos é pra “proteger bandido”, ser “bonzinho com vagabundo” é só uma evidência de como a batalha simbólica vem sendo perdida há muito tempo.

        Até dentro das polícias – você deve saber disso pra chamar quem você naõ conhece de “desinformado” – até dentro das polícias é muito mais fácil de falar hoje do que nos anos 80 em Estado de Direito, Devido Proceso, Garantias, uso proporcional da força, etc. No entanto, em qualquer roda de conversa, churrasquinho, etc, com pessoas “comuns”, isso é cada vez mais difícil. Por que, depois de tantas décadas? Por alguma “eficiência” na comunicação política é que não é…

        Suas fontes de informação devem ser realmente muito boas pra acreditar que a esquerda está “mandando bem pra caramba”, e desentender um comentário claro como foi o anterior.

        Não é nada à toa que o Boçalnaro neste momento empata com o Lula em intenções de voto no Estado; tendo mais voltos que ele exatamente na zona sul, onde tem mais coxinhas, e na zona oeste, onde tem mais miliciano.

         

        1. Bem informado mas
          Oh bem informado, você só esqueceu de informar que a esquerda não manda nada. Os responsáveis pela barafunda da execrável segurança pública carioca, desde praticamente depois do Brizola, é o pessoalzinho de bem da direita.

          1. Oh!

            Você tem todo direito de achar que dois governos Brizola e um de Benedita da Silva não tenham sido “de esquerda”. Seja feliz, e torça bastante para a “verdadeira” esquerda representada pelo PSOL, PSTU, PCB, PCO arrumarem alguma coisa.

            Eu lhe “informo” que não vão arrumar nada. Primeiro, porque não sabem falar; segundo, porque não sabem ouvir. Criiam mais ruido do que ajudam a esclarecer. Insisto no caso dos DHs. Não é nada à toa que tanta gente repita que DHs é coisa de quem quer “defender vagabundo” ou ser “bonzinho com bandido”. Isso não é somente obra e graça dos demagogos de direita, não; tem a colaboração direta dos que fazem gol contra toda hora.

            É só lembrar da ultima campanha de Marcelo Freixo para a Prefeitura do Rio, enfrentando um dos candidatos mais vulneráveis que a direita poderia apresentar. Resultado: tropeçou na propria lingua dezenas de vezes, e em uma campanha inteira não avançou nada para desmistificar a falta de compreensão sobre os DHs.

            Ninguém jamais foi tão alvejado quanto Brizola. E até hoje é responsabilizado por muitos como “causador” da violência no Rio, quando, segundo seus detratores, “impediu a policia de subir morro”… Só os “Tijolaços” nos jornais não foram suficientes para deixar claro para a maioria que ele impediu foi que a polícia ROUBASSE o morro e os moradores, em ações sem conhecimento do comando e sequer registro de ocorrência.

            Tempo passou, e nada mudou em materia de comunicação. Ao contrário, até piorou! Nem os míseros Tijolaços existem mais. Na chamada bloguesfera fala-se para iguais, enquanto as redes sociais só amplificam os conteúdos da máquida de propaganda reacionária.

            Portanto, cidadão, gostando ou não, eu lhe “informo” mais uma vez, pra não ficar dúvida: não vão arrumar nada!

          2. Cu de gato e Fla-Flu

            Prezado Lucinei,

            Sem dúvida, a política o Rio de Janeiro é um verdadeiro cu de gato.

            Durante os últimos 25 anos os prefeitos da cidade foram todos de direita, assim como os governadores do estado, durante os últimos 15 anos.

            Mas, é claro, é tudo culpa das esquerdas que não conseguem eleger nem prefeitos nem governadores por aquelas bandas. Principalmente, tudo culpa do PT com suas coligações pela governabilidade. Bobagem o aumento do IDH, a queda nos índices de criminalidade e o aumento da renda dos trabalhadores no estado durante os governos federais petistas. Isto também não faz a menor diferença.

            No quintal da rede globo, está mais do que provado que tudo o que acontece de errado no estado é culpa das esquerdas, sempre bastante desunidas que é para não fazer feio.

            Agora, estaria diagnosticada mais uma culpa das esquerdas: o fato dela não saber explicar direito para a população que diabo é esse tal de direito humano. 

            Basta de facciosismo e gol contra cidadão.

            Por falar nisso, aquele outro professor, sempre rápido no gatilho para meter o pau na incompetência semiótica das esquerdas pós-golpe anda meio sumido do GGN, porque será?

            Ao final dessa réplica, reconheço minha ignorância quanto aos verdadeiros bastidores, as mumunhas e atritos entre as esquerdas de seu estado, que sei apenas serem muitos. Não tenho dúvida de que erros foram cometidos por todos por conta dessas bolas foras.

            Porém, enquanto continuar esse Fla x Flu entre as esquerdas cariocas, só quem vai lucrar com isso será a direita velha de guerra. 

            Então, meu caro, não é preciso ser nenhum carioca da gema ou militante orgânico das esquerdas locais para entender a necessidade de passar por cima das diferênças de superfície e dos ressentimentos profundos para que seja possível virar essa mesa.

            Aquele abraço!

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