Rui Daher
Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor
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“Martírio”, um documentário para a História, por Rui Daher

Guarani Kaiowá

“Martírio”, um documentário para a História, por Rui Daher

Correm em folhas e telas cotidianas, assim como ferrenhamente nas redes sociais, autocríticas sobre a perda de um poder pela esquerda, que nunca o teve. E se assim pensou ter é porque nunca imaginou a profundidade de sua subordinação diante de um capitalismo em processo acelerado de involução social. Mas são jovens os que querem rever os caminhos para a esquerda e, se ele houver, é mesmo deles que o aggiornamento deverá vir. Sirvam-se, então, desse “Martírio”. Poderá ajudá-los. Recomendo a entrevista do diretor aqui postada. O texto abaixo foi também publicado em minha coluna de CartaCapital.

Assistam ao documentário “Martírio”. Estreou em São Paulo na última quinta-feira, 13/04. Ainda que o título possa induzir, não se trata de um blockbuster de terror. Mas aterroriza. Durante duas horas e quarenta minutos, o indigenista e cineasta Vincent Carelli filma o drama dos Guarani Kaiowá, no Mato Grosso do Sul, aviltados em seus trabalhos, saúde e cultura, tentando se defender de um sistema econômico, este sim selvagem, bancado por canalhices públicas e privadas.

Para realizar “Martírio”, ele e sua equipe pesquisaram mais de 100 anos da história da região, suas população e forma de colonização. Fosse entre 1864 e 1870, período da Guerra do Paraguai, estaríamos discutindo sobre área alheia.

Vitoriosa a Tríplice Aliança (Brasil, Argentina e Uruguai), coube-nos 90 mil quilômetros quadrados do país vencido, hoje 25% do território do Mato Grosso do Sul. A guerra custou aos paraguaios a perda de quase 40% de sua área total.

Sem tal reconstituição é impossível discutir os direitos dos povos indígenas da região. A não ser por malandragem ruralista.

Pesquisem em sequência: Marechal Cândido Rondon (1865-1958), herói ou vaselina? Serviço de Proteção aos Índios (SPI), criado em 1910, registros oficiais que elucidam os direitos hoje reclamados pelos Guarani Kaiowá. Cinco milhões de hectares arrendados aos intendentes que guerrearam no Paraguai, aonde foram parar? Getúlio Vargas e a “Marcha para o Oeste”, em 1938, abertura para colonização sem controle da grilagem e demarcação. Avanço do agronegócio dos anos 1960/70 em diante. Aumento no valor dos preços das terras.

Queriam o quê? Os índios apenas pedindo apito?

“Ah, não tenho mais saco para ladainhas de minorias”. Pena. Caso suas capacidades de se indignar e comover sejam rasas como um pires, o documentário ao menos servirá para comprovar a máxima do ruralista paranaense e ministro da Justiça Osmar Serraglio, múmia em coluna de 04/04, ao dizer que terra não enche a barriga de ninguém, daí ser desnecessário demarcar as indígenas.

Nessas aldeias, passa-se fome. Pode haver aí uma divergência entre políticos ruralistas. Em suas colunas sobre “agronegociatas” na Folha de São Paulo, Ronaldo Caiado insiste em defender a livre venda de terras a estrangeiros que, compradas, logo serão demarcadas, jagunços armados as defenderão, e panças se servirão delas até o fartar.

‘“Martírio” é sobre o nosso povo. Tanto faz se minorias ou maiorias. Direitos iguais. É tudo gente, como queria o genial antropólogo e tantas coisas mais, Darcy Ribeiro.

No Brasil, a questão indígena se resolve com Estado. Na Federação de Corporações, ela não se resolve. Querem ver?

Fui procurar no Google alguém mais que a discutisse. E quem encontrei? Eu mesmo. Em 25 de abril de 2014, nesta CartaCapital, escrevi “Sem pressa para a questão indígena”. A múmia de minha coluna foi outro ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, do governo Dilma Rousseff. Dizia sobre as demarcações: “Não é uma questão de tempo, é uma questão de cuidado”.

Ao que eu respondia: “Entendo. Loja de cristais mantida por dívida histórica, apropriações indébitas oficializadas em cartórios, barafundas da expansão agropecuária, sem que parte da sociedade e as três instâncias de governo atentassem ao disposto em Lei de 1973, artigo 231 da Constituição de 1988 e Decreto-Lei de 1996. Que eu saiba, estamos em 2014. E sem pressa”.

Reparem bem, há três anos, período de governo petista, se permitiu uma moratória que, hoje, golpe dado, resultou na PEC 215, que pode invalidar os 55.600 hectares a serem demarcados no Mato Grosso do Sul.

O documentário permite-nos ver, à época dos mais graves conflitos entre índios e fazendeiros na região, a ex-ministra da Agricultura, Kátia Abreu, então presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), discursar e defender produtores que “só pediam paz”. Sim, a paz dos corpos enterrados em cemitérios indígenas.

Senhores que não têm saco para ladainhas minoritárias, alerto: índios são pobres, assentados agrícolas são pobres, favelados são pobres, negros são pobres, mulheres recebem menores salários, o Brasil é um país pobre. Essa a maioria. Minoria somos nós. 

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9 Comentários

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  1. Índigenas no Brasil e mais um crime esquecido na história

    Amigo Rui,

    Seu artigo, além de denunciar um crime continuado contra a humanidade, tristemente, nos aponta que somos um país de calhordas acomodados em uma narrativa falsa voltada a aplacar memórias e consciências de hipócritas e covardes.

    Não somos muito diferentes de portugueses, espanhóis, ingleses, franceses, holandeses, norte-americanos. Todos esses cometerem e alguns cometem atrocidades contra a humanidade e, todos, sem exceção dominam as narrativas. Compreensível, a versão que prevalece é a versão do vencedor. Injustificável, a história não contada ou manipulada facilita que as atrocidades, a subjugação dos povos e a exploração dos mais fracos se repitam. O simples relato de tais situações que ocorrem neste exato instante, provavelmente, não caberia no espaço dado a um comentário e sequer alguém teria paciência para ir do início ao fim da lista. A diferença entre eles e nós é que na maioria daqueles países há conhecimento disseminado dos atos de barbárie que cometeram. Mesmo que a maioria das pessoas não lhes dê importância e não vejam conexão entre si e os atos de seus antepassados ou ainda que busquem razões variadas que os relativizem às circunstâncias em que foram cometidos ou são cometidos, os fatos estão lá, documentados, catalogados, publicizados ou tornados acessíveis à consulta pública.

    Por aqui vemos a história negada, escondida ou revista sob o interesse dos agentes e promotores de sua consecução, perpetradores de crimes que nos envergonham com brasileiros e como seres humanos. A ação brasileira na Guerra do Paraguai é um exemplo, a escravidão e outro e o massacre do povo indígena é outro. “Martírio” e outras obras de denúncia chocam e comovem enquanto contribuem para o acervo de documentos não oficais e para tentar mudar o padrão.

    Como referência para a enormidade do crime praticado contra o povo indígena fica uma “conta de padaria”, mas que serve para dar um pequeno indício da sua dimensão. Se tomarmos a estimativa oficial que informa uma população brasileira de 2.000.000 de indígenas e se assumirmos uma taxa de crescimento dessa população de apenas 0,5% ao ano, teríamos, hoje, cerca de 26,4 milhões de pessoas. O IBGE aponta haver somente 817 mil brasileiros indígenas, claramente uma população residual, sendo que 315 mil vivem nas cidades e 502 mil em reservas ou dispersos em comunidades pela zona rural.

    Neste exato instante está instalada e em curso na Comissão de Direitos Humanos, convocada pelo Senador João Capiberibe, com a finalidade expressa de debater sobre as “Agressões aos direitos dos povos indígenas durante a ditadura militar (1964-1985) relatados no livro: Os fuzis e as flechas – História de sangue e resistência indígena na ditadura”. Também, abre a discussão sobre os aspectos amplos dessa questão indo desde a denúncia de casos recentes de abusos, até as reivindicações dos povos indígenas e a CPI da Funai e do Incra, convocada para destruir por completo qualquer futura possibilidade de demarcação das terras indígenas. Neste governo isso já está garantido. Ontem, o Ministro da Justiça declarou que não irá autorizar qualquer nova demarcação de terras considerando que já há 13% do território nacional destinado a apenas 0,4% da população, como se demarcar terras indígenas não representasse a defesa ao maior ambiente, da Floresta Amazônica e do Pantanal, onde se concentram as áreas demarcada e à contenção do desmatamento e da destruição ambiental causada pelo avanço descontrolada da fronteira agrícola.

    Conter o avanço da agricultura e da pecuária sobre ecossistemas, cuja importância estratégica é vital aos interesses nacionais, não implica em trade off entre desenvolvimento econômico do setor agrícola e conservação ambiental. Há no Brasil milhões de hectares de terras agriculturáveis disponíveis sem que se precise expandir a fronteira agrícola em direção às terras indígenas ou as terras que demandam por proteção ambiental. É, portanto, totalmente falso o argumento de que tais limites afetam o potencial de crescimento econômico e inibem o desenvolvimento nacional. Tratamos aqui apenas de cobiça, egoísmo, irresponsabilidade social e ignorância.

    Rui, obrigado. São pessoas como você peleiam contra as mazelas que nos assombram e perseguem que mantêm viva a esperança de que, eventualmente, o Brasil venha a harmonizar sua importância econômica e territorial com uma sociedade mais humana e democrática onde tenhamos um olhar cuidadoso sobre os oprimidos, os aflitos e os desassistidos.

    1. Caro Brasiliensis,

      Eu que agradeço a riqueza e a honestidade estatística que vêm com o seu comentário. O Brasil, assim, continuará fadado à covardia. Há aqui um comentário que, apenas para atacar um partido político antipático ao comentarista, invalida todo o massacre e as injustiças que aconteceram no MS e outras regiões, com os índios que estão em Parelheiros e no Jaraguá, em São Paulo. Junto à minha resposta ao Fernando tem uma observação que gostaria que lesse.

      Abraços.

      1. um adendo e um pedido

        Caro Rui,

        seguindo o título:

        1 – o adendo

        Concordo, com sua posição ipsis litteris. Creio, firmemente, que assistimos a um movimento de imbecilidade generalizada. O que está em jogo não é o destino do PT ou mesmo de Lula. O que está no âmago da questão é um projeto de país. É o embate entre modelos de sociedade conflitantes, entre se construir uma sociedade inclusiva ou exclusiva. Não há como ignorar os erros do PT e a forma equivocada com que se acomodou ao poder, sequer creio que o retorno de Lula seria a melhor saída. Todavia, não consigo ver outra alternativa viável a curto prazo. Empurrando-me para o outro extremo, a ação coordenada para destruir o Lula e acabar com o PT é a única linha condutora que une a todos os envolvidos na formulação do golpe e na sua inexplicável sustentação até agora. Todos com diferentes motivações, mas, nenhuma eivada de sinal de inteligência. Magistrados, funcionários públicos e outros barnabés, acompanhados por empregados do setor privado, profissionais liberais, executivos e patrões (exceto os do topo da pirâmide rentista) se uniram na autodestruição. Jogaram fora o bebê junto com a água do banho. É um comportamente que só se explica por uma idiossincrasia cega, fixada em lutar contra seus próprios interesses. Vá saber por que… 

        Tão certo quanto há um dia após o outro vamos assistir a um surto de arrependimento e negação. Eu vi isso nos anos oitenta e acredito que você também. Um monte de filhotes da ditadura, dizendo que eram “MDB” deste o tempo do jardim de infância, gritando por democracia e diretas já. Vamos ver isso, em breve. Desta vez acho que não demora tanto. Mas, discorrer sobre isso é chover no molhado. 

        2 – o pedido (de carta forma conectado ao adendo)

        Gostaria que você não me chamasse mais por Brasiliensis, porque, além de não ser sobrenome, não diz realmente quem sou. Deixe-me explicar. Há tempos indago sobre minhas origens familiares. Então, outro dia, fui a um médium espírita para falar com meu pai e saber melhor das origens do nome da família. Este psicografou uma mensagem onde o Velho me disse que, também, não sabia, mas, que iria conversar com meu avô tão logo possível e me responderia. Voltei no dia seguinte e estava lá, a minha espera, um cable psicográfico (acho que ainda não tem whatsapp ou e-mail no além): ” Vovô não sabe PT Bisavô não lembra PT. Dica PTPT Consulte manual taxonomia PT. Nos vemos breve PT Abs PT “. Preocupei-me com a parte final, mas, saquei a do Velho. Papai mandou-me em uma busca para além das raízes familiares, mandou-me atrás da minha essência. Perfeito. Nunca me deu uma resposta direta quando vivo, por que o faria agora, depois de se escafeder quando se lo llevó la calaca?  Mas, fui ao manual e lá encontrei a resposta.

        Enfim, sou, obviamente, do filo chordata, tenho coluna vertebral, vergada pela vida, mais flexível do que gostaria, mas está lá. Classe, mamíferos? Há muito tempo não mamo em teta alguma, a última secou há décadas atrás quando Banco Central acabou com a maioria dos bancos de desenvolvimento estaduais. Mas, como vários conhecidos continuam mamando, concluo que pertenço a classe, só não exerço os predicados. Logo, classe: mamíferos. Quando cheguei na ordem veio a dúvida, herbívoro ou carnívoro?   Ás vezes, como carne, cada vez menos por conta do orçamento e da operação da PF, ambos fracos. Seria eu carnívoro? Difícil, não tenho pés ungulados, mas carnívoros estão sempre por cima da carne seca e isso está longe de ser o meu caso. Decidi, então, pelo hábito alimentar preponderante. Como capim pela raiz desde que me conheço por gente, a exemplo da maioria dos meus semelhantes e conterrâneos. Logo, classe: herbívoros, sem sombra de dúvida. Achar a família deu um pouco mais de trabalho e exigiu alguma pesquisa de campo. Mas, finalmente, após observar a tipologia e os hábitos de indivíduos a mim semelhantes e comparando-os com o descrito em textos taxonômicos, achei um grupo no qual que me encaixava à perfeição, os beócios. Os beócios vivem em grupos, mas não cooperam entre si, exceto mediante recompensa mais do que proporcional. Demandam por muito, mas se contentam com pouco, exceto quando outros indivíduos do mesmo grupo social aparentam ter mais. Dado um cérebro atavicamente atrofiado, são limitados em intelecto, facilmente controlados e altamente manipuláveis. Logo, família: Boeotae. O resto foi fácil, gênero Boeotorum, ou seja, pertencente à família dos beócios e espécie brasiliensis, encontrado no Brasil. É similar aos outros ramos familiares encontrados em todas as regiões do globo, como os Boeotorum argenteus, Boeotorum paraguaia, Boeotorum germanicus, Boeotorum gallicus, etc.

        Assim chegamos a mim, Boeotus Beotorum Brasilensis. Béocio, de uma família beócia e que habita um país de beócios.  Portanto, de ora em diante, pode me chamar assim, Beócio. A seu dispor.

        Um bom fim-de-semana.

         

         

         

         

  2. Advertência: Martírio faz mal à saúde

    Fui ver Martírio sábado 15, no Shopping Ffrei Caneca. Ao todo, 6 pessoas na platéia. Terminou meia-noite em ponto. Descemos os 6 pelo elevador até o estacionamento. Duas senhoras, uma dela conhecida que até agora tento lembrar quem seja, personalidade do mundo intelectual. Os seis olhando pro chão, consternados, envergonhados, constrangidos com o que haviam acabado de presenciar. No caminho, a senhora que me escapa o nome diz para a amiga mais ou menos: “…no final de contas, o único que falou o que deveria foi o Ivan Valente.” Ao que a amiga retrucou, sintetizando o governo “…é, era uma no cravo e a outra na ferradura”. 

    O documentário expõe, de forma escancarada, vergonhosa e constrangedora até onde foi a inoperância e inércia dos governos Lula, e pior ainda, Dilma, na questão indígena. As caras patéticas do Zé Eduardo Cardozo, o pusilânime,  e da pobre ministra da Casa Civil Gleisi Hoffmann, apatetados diante da audiência pública no Congresso, sitiados por uma gangue formada por Abelardo Lupion, André Puccinelli, Heinze, e por aí vai. Os parlamentares da bancada ruralista fizeram uma verdadeira blitzkrieg pra cima do governo. 

    Fui ler as críticas sobre o documentário, diziam que era apartidário. Nem a pau. O diretor deu voz unicamente ao Ivan Valente, em nenhum momento dos 160 minutos foi ouvir o mais longevo presidente da Funai, Márcio Meira (2007-2012), antropólogo do Museu Emílio Goeldi, de Belém, que conheci pessoalmente em Santarém, em 2005, e com quem conversei longamente, quando ainda estava no MINC (estava lá por ocasião do Projeto Pixinguinha, pela primeira vez na cidade). Ninguém do governo. Marcio Meira foi responsável pela desintrusão da Raposa Serra do Sol, e era um antropólogo ocupando a presidência da Funai, não era pouco, não mereceu ser ouvido. 

    Mais, ao citar o por duas vezes o nome do Bunlai como o dono da Usina São Fernando, em Dourados, o diretor quer vincular com o que, exatamente? 

    A cena da invasão do Congresso pelos indígenas foi precedida pela locução do diretor Vincent Carelli: ” …por absoluta falta de interlocução com o governo…”. Doeu fundo na alma, porque uma verdade inarredável, o governo Dilma não teve interlocução não só com os indígenas, mas com ninguém do mundo empresarial, parlamentar, etc. Não teve interlocução com ninguém, a menos que se chame de interlocução suas conversas com o Mercadante e o Zé. 

    Para não dizer que o governo não foi ouvido, existe sim, uma participação do digníssimo Procurador Geral da República do……..governo FHC, o Aristides Junqueira, que fez caras e bocas de indignado, e …só!

    As cenas do governo petista acuado pelos ruralistas humilha, constrange e envergonha porque foi um governo que abdicou do exercício legítimo do monopólio da força e da violência, de que tratam as ciências sociais e políticas, que competem unicamente ao Estado, ao deixar que as milícias contratadas pelos fazendeitros e travestidas de empresas de segurança patrimonial agissem livremente, tocando o terror nas aldeias indígenas. As milícias não só não foram reprimidas como continuam agindo livremente. O Estado divide o exercício da força e da violência. 

    Quando conversei com o Marcio Meira, em 2005, ele me perguntou sobre o imenso patrimônio cultural de Óbidos (PA). Ao escutar o relato, de abandono, retrucou: “…é, falta lá um choque de Estado”. Foi o que sempre faltou para resolver – resolver – a questão indígena, um violento e definitivo choque de Estado. 

    Fui dormir tarde, alta madrugada, entre raivoso, indignado e frustrado. 

     

     

     

    1. Imperdoável para um documentário

      As datas são informadas vagamente pelo narrador, o diretor do documentário, para aquelas cenas de há 30 anos. As cenas das audiências públicas no Congresso, recentes, bem como as demais, nenhum registro. São importantes, são imprescindíveis, afinal trata-se de um documentário, não uma obra de ficção. Inaceitável. Claro, óbvio que não desmerece o magnífico registro, mas incomoda. 

      1. Fernando, caro,

        Antes uma pequena observação que serve também ao comentário abaixo, do amigo Brasiliensis. O texto sobre “Martírio”, originalmente publicado na terça-feira em CartaCapital, foi compartilhado quase 3 ml vezes no FB. Não é meu recorde. Já cheguei aos 12 mil. Não precisaria, pois republicá-lo aqui. Com uma diferença: os comentários capazes de realçar, acrescentar e enriquecer minhas opiniões. Tanto que sempre que possível, no Blog, respondo a todos os comentários, mesmo os pouco inteligentes, partidários e até sectários.

        Quanto ao apartidarismo do Carelli, pura bobagem. Quem assim escreveu não assistiu a entrevista do diretor, aqui postada junto com o texto.

        A falta das datas é imperdoável em obra tão importante.

        Agora, a conclusão mais séria, capaz de explicar muito sobre o motivo de estarmos vivendo em Estado de exceção, é a forma covarde, reacionária, fechada com a direita, tomada pelos governos do PT, não somente em relação à questão indígena, motivo para eu ter ido buscar algo que escrevi três anos atrás.

        Abração. 

  3. martirio….

    O Padre José de Anchieta, que hoje é santo, pegou emprestado uma maloca para sua paróquia. Depois mais outra e outra, um pedacinho de terra aqui outro ali, uma beiradinha do Tamanduatei, outra até o Anhembi, futuro Tiete. E deu nesta cidade onde tantos que moram encima de cemitérios indigenas pregam pela devolução de terras a estes povos. Mostrem sua grandeza, sua abnegação frente aos direitos dos indios. Não precisam ir ao Pará ou Mato Grosso, não. Eles estão espremidos na subida do Pico do Jaraguá, onde depois de muita pressão, o socialista Haddad cedeu 1 hectare de terra. Qualquer caipira sabe o que é 1 hectare. Quanta generosidade petista?! Ou no outro extremo da cidade no esquecido bairro de Parelheiros, de pretos, pobres, brancos, indios ou qualquer outro cidadão brasileiro. Indios doentes, desabrigados, pobres, tolhidos dos seus direitos, das suas terras, da sua cultura, abandonados. Estes vocês não vêem. Estes não são problemas seus. Estes não elevam o seu censo de generosidade, de preocupação com minorias, com o equilibrio das grandes forças naturais. Nem ONG’s Internacionais divulgam pelo planeta. Não é o mercado a ser atingido. Não é o território que querem controlar com a desculpa de desenvolverem. Não é a ideologia politica que interessa incomodar. Até porque irmãs siamesas neste filão de bondades filantrópicas  Então, se vocês estão tão preocupados com índios, deixem de ser ttão hipócritas e cinicos e comecem por aqueles que são seus vizinhos, pedindo esmola nos faróis ou na frente da Estação de Trens da Lapa. Mas não espere vê-los em docimentários. O pessoalzinho “papo cabeça”, Sakanotos da vida costumam ignorá-los.(P.S. Se a questão discorrer para ” Trabalho Escravo “, e o vilão preferencial será novamente a agropecuária brasileira, antes de tantas demonstrações de solidariedade, sugiro também um passeio pelo Brás, Bom Retiro, José Paulino ou obras do governo. Aqueles milhares de bolivianos, peruanos e haitianos que você nunca enxerga, estão enfiados em algum buraco, nestes locais, trabalhando 16 horas por dia). abs.  

    1. Zé Sérgio,

      Incrível! Você descobriu que a pobreza no Brasil não é excllusiva dos índios. Seu comentário, como sempre de foco antipetista, vale por um tratado sociológico.

      Aproveite para se informar melhor com o comentário do Brasiliensis. Talvez não precise mais do que o seguinte trecho:

      “Como referência para a enormidade do crime praticado contra o povo indígena fica uma “conta de padaria”, mas que serve para dar um pequeno indício da sua dimensão. Se tomarmos a estimativa oficial que informa uma população brasileira de 2.000.000 de indígenas e se assumirmos uma taxa de crescimento dessa população de apenas 0,5% ao ano, teríamos, hoje, cerca de 26,4 milhões de pessoas. O IBGE aponta haver somente 817 mil brasileiros indígenas, claramente uma população residual, sendo que 315 mil vivem nas cidades e 502 mil em reservas ou dispersos em comunidades pela zona rural”.

      Abraços.

      1. zé….

        Caro sr. Rui, conta rápida, então cerca de 40% dos indígenas estão em área urbana. É muita gente. Por que nunca são revelados em reportagens ou documentários? Outra coisa que quero deixar claro é que nunca tive problema com o PT ou com a esquerda. Só que temos uma Patrulha Ideológica que pregou e continua pregando isto como solução para o país e não a Democracia. A hipocrisia dos “Donos da Verdade e da Honestidade” caiu por terra.Anticapitalismo socializante mancomunado com o poder e o sinheiro, envergonharam até Chomsky. Dizer mais o que?  O que importa é que perdidos 30 anos continuamos com os filhos dos Coronéis mandando no país ao lado dos pais, eleições obrigatórias em urnas eleltrônicas, agora ainda mais ditatoriais com biometria. Num país com Poder Polítco e Público cada dia mais ditatorial. Em país que não pode dar educação às crianças, mesmo depois de 30 anos de uma tal Constituição Cidadã, passaremos de 250 milhões de reais por pleito para 500 milhões de reais. E isto é certo e liquido. E não precisou de grandes revoluções nacionais. O país que nós podemos em coisas absurdamente simples e que não se alteram, como ônibus com ar condicionado, arborização de ruas, eletrificação subterrânea, ciclovias em rodovias e outros milhares de  exemplos que elevarão nosso padrão de vida e mostrarão que elevamos nosso padrão de cidadania e democracia. Acusar problemas sem acusar soluções para ambos os lados só manterá o país neste ciclo vicioso a cada 30 anos. 1964 voltou em 2016. Só não enxerga quem não quer. abs.    

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