Milhões de trabalhadores devem ir às ruas em defesa do serviço público de qualidade

Dirigentes de Federações e Confederações acreditam que milhões de servidores e servidoras irão às ruas, com apoio da população, dia 18 de março, defender um serviço público de qualidade para todos

ROBERTO PARIZOTTI

por Rosely Rocha

Diante dos ataques que Jair Bolsonaro e seu ministro da Economia, o banqueiro Paulo Guedes, vêm fazendo ao serviço público do país, acusando os servidores e servidoras de “parasitas”, e das tentativas de colocar a população contra esses trabalhadores, no intuito de promover um processo de privatização sem precedentes na história do país, os servidores públicos sairão às ruas, em apoio à greve geral convocada pela CUT e demais centrais, no dia 18 de março. Será o Dia Nacional em Defesa do Serviço Público, dos Servidores, Contra a Privatização e o Desmonte do Estado.

A adesão à greve deverá ser uma das maiores já registradas no país, acreditam os dirigentes de Federações e Confederações filiadas à CUT.

O presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Heleno Araújo, está otimista com a adesão da categoria. Segundo ele, devem participar do movimento cerca de quatro milhões de professores e profissionais da educação.

Heleno reforça a necessidade do apoio da população na luta em defesa do ensino público gratuito e de qualidade, diante dos ataques do governo federal.

“Na atual conjuntura já era para a população e os servidores estarem nas ruas protestando. É um absurdo a postura de Bolsonaro e de Guedes de entregar a Petrobras, a Casa da Moeda e, outras estatais e ainda desmontar toda a estrutura da educação do país”, afirma o dirigente.

Para ele, o desmonte do serviço público de qualidade para a população já está em andamento. Um exemplo é a Proposta de Emenda Constitucional (PEC), que prevê a retirada da obrigatoriedade de municípios e estados investirem 25% do orçamento na educação e na saúde.

“Dizer que quer dar flexibilidade ao orçamento para os municípios investirem onde acham que é mais necessário, é dar um enorme prejuízo à educação e à saúde de toda a população”, diz o presidente da CNTE.

Heleno Araújo alerta ainda para o impasse que vive o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), que pode ser extinto no final do ano.

Segundo a Agência Brasil, em janeiro deste ano, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, disse que o governo não concordava com a proposta em discussão que tramita pela Câmara Federal e prometeu encaminhar um texto para o Congresso, o que, até o momento, não ocorreu.

Na última terça-feira (18), um pedido de vista coletivo adiou para março (pós Carnaval), a votação do relatório de deputada Professora Dorinha (DEM-TO) na comissão especial que analisa a proposta de Emenda à Constituição (PEC) 15/15, que trata do Fundeb.

Sem o Fundeb,  50% das escolas públicas municipais vão fechar. Por isso, é importante, não só os trabalhadores e as trabalhadoras da educação, mas toda a comunidade escolar e a população estarem conosco nas ruas no dia 18 de março

– Heleno Araújo

Outra categoria que deverá aderir maciçamente ao Dia Nacional em Defesa do Serviço Público, dos Servidores, Contra a Privatização e o Desmonte do Estado, são os trabalhadores dos Correios.

De acordo, com José Rivaldo da Silva, secretário-geral da Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios e Telégrafos e Similares (Fentect), a categoria deverá estar mobilizada para o dia 18, mesmo com a possibilidade de uma greve dos trabalhadores dos Correios ser deflagrada já no início do mês.

“A mobilização deverá ser forte, diante dos ataques e da retirada de direitos que vem sendo feita por Bolsonaro e o presidente da empresa, general Floriano Peixoto, contra os trabalhadores dos Correios, que tem também como missão um serviço social prestado à população brasileira”, afirma Rivaldo.

O dia 18 de março será uma resposta à altura aos ataques e desaforos do governo para com os servidores públicos, acredita Sérgio Ronaldo da Silva, secretário-geral da Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef).

O dirigente tem como base a plenária nacional da categoria, no último dia 13 de fevereiro, em que representantes de 25 estados participaram e deliberaram por unanimidade que o dia 18 de março será de greve geral do setor público.

“Os sindicatos saíram da plenária com a missão de construir a greve para dar uma resposta aos desaforos desse ministro falastrão [Paulo Guedes] que quer tirar os direitos do funcionalismo e destruir as estatais. Já passou da hora de termos uma greve à altura.

O secretário-geral do Condsef , no entanto, lembra que é preciso que os servidores tenham também a missão de dialogar com a população para demonstrar que o desmonte do serviço público afeta direitamente os mais pobres.

A fila do INSS não é à toa. É o resultado da falta de funcionários e concursos públicos. Há pessoas aguardando há dois anos a concessão da aposentadoria. Quem utiliza o SUS, a saúde e a educação pública são os mais carentes. É o povão que paga na pele os desmandos deste governo

– Sérgio Ronaldo da Silva

Para o dirigente é preciso desmitificar as inverdades da mídia tradicional, que apóia este governo, contra o serviço público.

“Este movimento não é apenas do servidor público, é do serviço público de qualidade prestado à população”, afirma Sérgio Ronaldo.

A Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal  (Confetam/CUT) que representa 1, 5 milhão de servidores municipais em nível nacional, reunindo 849 sindicatos, 18 federações, em 18 estados, também soma-se à luta por um trabalho decente e pelo serviço público de qualidade.

A presidenta da Confetam/CUT, Vilani Oliveira, diz que a categoria já está preparando material para esclarecer a população sobre a importância dos serviços públicos, dos concursos e da transparência na gestão de um governo.

“As pessoas começam a perceber que as políticas públicas nacionais estão sendo reduzidas pelo Estado. Isto tem ajudado a indignação e a revolta não só dos servidores, como da população. Por isso eu tenho a expectativa que vamos ‘fazer bonito’ porque a categoria deverá aderir em massa ao movimento do dia 18 de março”, afirma Vilani.

Redação

4 Comentários

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  1. Milhões de trabalhadores devem ir às ruas: Isto é mesmo crível? Gostaria de poder acreditar que sim, embora a realidade pareça ser bem outra. Nós vivemos em um país em que enquanto as elites mandam e desmandam a seu bel-prazer e a classe média (de uma forma geral) apóia todos os movimentos e procedimentos reacionários do governo (por um insano ódio de classe, proveniente da sua impotência para ascender sócio-econômicamente em um país em que ela está fadada a sonhar eternamente em ser aquilo que nunca será: uma elite), a grande massa da população pobre do país vive em uma alienação e em uma indiferença política mortíferas quanto à sua própria realidade de vida quotidiana, simplesmente deixando as coisas correrem (porque “apenas” sofrer as imposições e humilhações da realidade de uma vida em que pelo que se luta é meramente pela sobrevivência diária, pelo pão e pelo leite, sem que haja um mínimo de consciência concreta da sua situação própria como indivíduo inserido em uma realidade comum de classe, sem que haja consciência da relação indissociável entre pobreza e riqueza, permite exatamente este tipo de paradoxo que é eleger politicamente alguém que durante toda a campanha eleitoral afirmou e reafirmou posições contrárias aos interesses e anseios populares e mais do que isso, expôs claramente posturas preconceituosas e discriminativas contra os extratos mais vulneráveis socialmente; permite o paradoxo que é acompanhar passivamente a violação
    e a degradação de si próprio pelas elites políticas e econômicas do país). Por outro lado, a parte da classe média que se manteve imune e que resiste ao ódio geral da sua classe, simplesmente não existe politicamente, não possui qualquer poder de mobilização e de articulação política real com os outros extratos, social e político, aos quais poderia se juntar (as camadas pobres da população e as lideranças políticas reativas), restando para si como campo de ação “política”, as críticas em blogues, as notas de repúdio, os protestos morais, etc. Todos ineficazes. Essa própria manifestação do funcionalismo público nacional, o que possui verdadeiramente de mobilização e movimentação políticas conta o governo? Eu pergunto isto porque somente agora, com as recentes declarações do ministro do governo, este mesmo funcionalismo público parece ter tido a sua consciência despertada, mas em realidade qual é está consciência? A consciência política de partícipes cívicos do país ou a consciência de classe profissional do estado, desejosa de reconhecimento e de prestígio social pelo governo, por qualquer governo? E eu pergunto isto porque diante das reformas trabalhista, previdenciária, das políticas do governo sobre as empresas públicas e estatais, qual foi (ou é) a mobilização do funcionalismo público nacional? Onde existiu? Nem sequer uma ameaça de greve geral foi proposta. Não olvidemos que o governo que aí está foi eleito com os votos de muitos servidores públicos (não somente juízes, desembargadores, e ocupantes de altos cargos administrativos, que demonstraram muito bem o seu apreço pelo país, mas por aqueles cujos âmbitos de existência social geral e de existência como categoria profissional do Estado deveria lhes impor o desejo de uma política nacional de orientação democrática, pública) que reclamavam do “inchaço” da máquina pública (inchaço que não foi senão o aparelhamento e desenvolvimento das funções econômicas, sociais e culturais públicas do Estado, após o período de desmonte nos governos FHC ; inchaço graças ao qual boa parte desses mesmos servidores puderam ingressar nas funções públicas); de que o Estado brasileiro é um cabide de empregos; de que o serviço público é ineficiente e condescendente com os preguiçosos (evidentemente está última reclamação de maneira alguma poderia se dirigir às eles, pois eles são os virtuosos). Assim, qual o real interesse desta manifestação do funcionalismo nacional? E mais do que isso, qual a sua real disposição para uma luta política contra o governo?

  2. Apoio do funcionalismo público? Duvido. Esse governo contou e conta ainda, por absoluta aversão e preconceito ao PT, com o apoio esmagador dessa categoria. Usam, sempre, a desculpa da corrupção. Para tais pessoas, lamentavelmente, o atual governo está no caminho certo e que o pior dos males a ser combatido é o PT e suas políticas “assistencialistas e de atraso”. Fazer o quê. Parafraseando umm dos personagens do Jô Soares: “ELES SE ODEIAM”.

  3. Que m****, viu, dona CUT? A maior central sindical do país trata a questão dos trabalhadores por meio de agenda. Parar um ou dois dias não dá em nada, a experiência recente mostrou isso.
    Fora a grande hipocrisia nacional, aliás, mais uma: estudar pra concurso. Odeio o Estado, mas o serviço público tem aspectos mais favoráveis que o privado.
    Serviço público de qualidade é algo que se trata como pauta diária!

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