Na UFMG, evento celebra os 40 anos do 3º Encontro Nacional dos Estudantes

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Foto: Acervo Projeto República

Jornal GGN – No próximo dia 10 de junho, o Diretório Acadêmico da Faculdade de Medicina da UFMG, em Belo Horizonte, irá celebrar os 40 anos da luta contra a repressão da ditadura ao 3º Encontro Nacional dos Estudantes.

Em junho de 1977, tropas de choque da Polícia Militar atuaram para impedir que os estudantes realizassem o encontro na Universidade Federal de Minas Gerais, cercando o local do evento e prendendo pessoas que pretendiam participar do ENE. Cerca de 400 estudantes foram detidos pela repressão da ditadura.
 
Além do evento na UFMG, outras atividades para celebrar a data, como uma reunião especial na Assembleia Legislativa mineira na próxima quinta (1º) e também uma audiência pública da Comissão de Direitos Humanos, com homenagem aos indiciados na Lei de Segurança Nacional, na próxima terça-feira (6), na Câmara de Belo Horizonte. 

 
Leia mais abaixo:

40 ANOS DO 3ºENE

No dia 03 de junho de 1977, centenas de estudantes de todo o Brasil tentaram realizar um encontro em Belo Horizonte, para convocar o congresso nacional de reconstrução da UNE, que havia sido extinta pela ditadura. Desde a noite anterior ao dia do encontro, um grupo de estudantes se dirigiu ao DA Medicina da UFMG, para uma vigília, com a intenção de assegurar fisicamente o local, contra a repressão. Não adiantou. Ainda na madrugada do dia 03, a repressão começou a interceptar veículos e ônibus, que se dirigiam para Belo Horizonte, quando dezenas pessoas que iriam participar do encontro foram presas. Antes de começar o dia, tropas de choque da PM mineira cercaram o local do evento. Enquanto isso policiais civis e militares moviam uma verdadeira caçada aos dirigentes das entidades estudantis ou a qualquer pessoa que ousava protestar contra a violência da repressão. Mais de mil pessoas foram presas naquele dia. O encontro não aconteceu, mas despertados pela extrema violência contra seus filhos, netos, irmãos e outros parentes, a classe média mineira rompeu a sua letargia e saiu às ruas para defender seus familiares e para protestar, pela primeira vez, contra a ditadura. Esse foi um dos episódios que acordaram o país e fizeram mover a roda dos históricos acontecimentos que levaram à queda da Ditadura.

No dia 10 de junho, os participantes e estudantes de hoje celebram aquele dia de lutas, quando uma aparente derrota abriu caminho para grandes vitórias.

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Celebração dos 40 anos do 3º Encontro Nacional de Estudantes – 10 de junho, a partir de 18 horas, no Diretório Acadêmico da Faculdade de Medicina da UFMG (Av. Professor Alfredo Balena, 190 – Belo Horizonte – MG).

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Outono de 1977. Belo Horizonte. Minas Gerais. Ação violenta e coordenada das forças de repressão da ditadura coíbe a realização do 3º Encontro Nacional de Estudantes, cujo objetivo era pavimentar o caminho de reconstrução da proscrita União Nacional dos Estudantes, a UNE.

Sediado no Diretório Acadêmico da Faculdade de Medicina da UFMG, o evento reuniu cerca de 400 universitários de todo o país. Na tarde e na noite de 3 de junho, barreiras policiais montadas nos acessos à capital paravam ônibus vindos de outras cidades e estados, identificavam e detinham passageiros suspeitos de integrar o movimento estudantil.

Nas ruas, um aparato gigantesco em uniformes de campanha distribuía pancada, atirava bombas e atiçava cães contra a população, revelando o pavor que um encontro juvenil era capaz de provocar no governo dos generais.

Um compacto cordão militar fechou o cerco à Faculdade, na Avenida Alfredo Balena, desde as primeiras horas da manhã do dia 4. Ninguém entrava e dali ninguém sairia livre. O impasse se arrastou por horas. À exigência de que os estudantes se entregassem, mãos na cabeça, a turma fincou pé. No meio da tarde, o comando rasga o preceito da autonomia universitária e a tropa invade o Campus da Saúde.  

No largo que fronteia o D.A., vizinho de jatobás, ipês, araucárias, fícus e paus-rei da extensa área que já pertenceu, no século passado, ao Parque Municipal, um líder estudantil recomendou: “Se eles começarem a bater, cantem.”

Abraçados, em pequenos grupos e espremidos no meio de um corredor fardado, os estudantes deixam o D.A. e são conduzidos, em coletivos urbanos, ao Parque de Exposições da Gameleira, triados, interrogados, mais de meia centena enquadrada na Lei de Segurança Nacional. Do lado de fora, muitos familiares, militantes e populares montavam vigília pela segurança dos presos, enfim libertados quando emergia a manhã.

Hábeis estrategistas já viram vitórias nas derrotas. Essa foi uma delas. Quatrocentos estudantes encarcerados nos currais da Gameleira, um encontro frustrado, uma cidade sitiada. No entanto, nascia ali, com certidão pública, a lenta, gradual e segura agonia da ditadura, amplificada nos anos seguintes pela adesão crescente do povo brasileiro à luta pela liberdade.

40 anos depois, os protagonistas desse episódio memorável voltam ao palco dos acontecimentos para celebrar os princípios que deram vida ao 3º ENE e que ainda hoje animam a construção de um mundo que seja justo e libertário.

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Outras atividades:

Homenagens já agendadas ao 3º ENE:

  • 01/06/2017: Reunião Especial – Assembleia Legislativa de Minas Gerais – Plenário Juscelino Kubitschek (Rua Rodrigues Caldas, 30 – Santo Agostinho – Belo Horizonte) – 20 horas

  • 06/06/2017: Audiência Pública da Comissão de Direitos Humanos com diplomação de homenagem aos indiciados na Lei de Segurança Nacional por sua participação no 3º Encontro Nacional de Estudantes – Câmara Municipal de Belo Horizonte – Plenário Amynthas de Barros (Avenida dos Andradas, 3100 – Santa Efigênia, Belo Horizonte) – 19 horas

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Redação

2 Comentários

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  1. 40 anos já!

    Eu era da diretoria da UMES, União Municipal dos Estudantes Secundaristas de BH. Paralelamente ao encontro dos universitários para recriar a UNE, iríamos fazer fazer o nosso, para recriar a UBES. Eu fui da comissão de segurança do evento, pois sabíamos que haveria repressão. Era necessário que alguns de nós ficassem de fora para organizar as manifestações de rua e a mobilização da sociedade em protesto à repressão. Depois de dispersadas à força as manifestações, nos reunimos clandestinamente no subsolo da Igreja do Carmo, graças ao padre Van Balen, para prepararmos a resistência e a libertação dos companheiros presos. Acrescento que além desses que foram sitiados e presos quando estavam de vigília na Faculdade de Medicina, mais ou menos outros 400 foram detidos nas estradas, tentando chegar a BH de outros estados e cidades de MG.

  2. 3º ENE, eu estava na Medicina

    Era vice-presidente do Dieratório Acadêmica da Faculdade de Filosoia, Ciências e Letras/FAFICH, e ligado à corrente estudantil Liberdade, uma das organizadoras do encontro e linha de frente do Diretório Central dos Estudantes/DCE da Federal. Nosso objetivo era concentrar a atenção das polícias sobre nós, no DA de Medicina, para permitir a organização do encontro, e de suas lideranças, em outro local. Não havia dúvida de que as polícias iriam nos cercar e impedir a realização do encontro naquele local.

    Durante dois meses, percorrermos os DCES e DAs do interior de Minas, mobilizando-os, convocando-os e organizando debates políticos que demonstravam a importância de termos de volta nossas entidades estudantis, desmanteladas pela ditadura. Éramos seguidos onde quer que chegássemos, e fotografados. E gravados. Muita biografia poderá ser escrita, cheia de apud e sic, e ilustrada, usando esses documentos da repressão. Tanta atenção sobre nós mostrava que “eles” estavam preparando alguma coisa contra o ME (Movimento Estudantil), esperando apenas a ocasião.

    Ao decidirmos pelo DA da Medicina, além dos bons companheiros que tinhamos lá na época, necessitávamos de um local que fosse central à cidade. O que não era o caso do DCE da Federal, na lateral da Praça da Liberdade, ou o da Católica, no cruzamento da Avenida Contorno. Ambos, locais urbanos, mas relativamente fáceis de serem cercados e fechados, proibindo o acesso da mída e da população. Sabíamos que somente a população, e o nosso registro em fotorreportagens, nos manteria relativamente a salvo, pois veriam nossa prisão e dariam por nossa falta caso “sumíssemos”, como era comum na época (Ditadura).

    Havia algo de messiânico e de sacrifício pessoal em nossa atitude, como era comum nas juventude politizada de então. Ao longo da noite, vimos a repressão estabelecer seus cordões de isolamento em torno do DA Medicina, que também era cercado por um bosque de ficcus. Na primeira linha, polícia e cachorro; na segunda linha, tropa de choque; na terceira linha, cavalaria; na quarta linha, os homens do DOPS e da Polícia Civil. E os quartéis, de prontidão.

    Depois de presos, quando chegamos na Gameleira – um dos desastres da construção civil no Brasil – já estávamos identificados e divididos em grupos. Toda informação que queriam, “eles” já tinham. A decepção deles foi não encontrar na Medicina todas as lideranças que esperavam. Nossa tática de enfrentamento foi um sucesso: chamariz na Medicina, e encontros reais fora daquele ambiente que havia “caído” bem antes do ato (nossos cartazes, panfletos e jornais chamavam para o 3º ENE dando dia, local e hora da reunião).  Éramos, então, confrontados com nossas fotos nos eventos preparatórios. Com o que tínhamos defendido na ocasião.

    Estávamos fichados, identificados e preparados para sermos queimados na fogueira da repressão. Mas aí…., aí a sociedade civil acordou e foi prás ruas berrar o que ainda hoje queremos: Diretas, Já.

     

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