Não à prisão de jovens detidos por infiltrado Balta Nunes, por F&N DH São Paulo

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Por F&N SP – DH, Memória, Verdade e Justiça

Nota de repúdio pela criminalização dos 18 jovens em ação coordenada pelo capitão infiltrado do Exército Willian Pina Botelho, “Balta Nunes” no CCSP

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Nós, do grupo Filh@s e Net@s – SP – Direitos Humanos, Memória, Verdade e Justiça, vimos por meio desta manifestar nosso absoluto repúdio à criminalização dos 18 jovens apreendidos em ação coordenada pelo Capitão Infiltrado do Exército, Willian Pina Botelho, mais conhecido como “Baltazar Nunes”, ou “Balta”.

No dia 04 de setembro de 2016, em meio à grande alteração social que havia se imposto mediante o impeachment da Presidenta Dilma Rousseff (31 de agosto) ofuscados e desvanecidos em parte pela fumaça da passagem da tocha olímpica pelo Brasil, fomos surpreendidos em SP pela prisão arbitrária de 21 jovens que estavam reunidos no Centro Cultural São Paulo, conhecido como Vergueiro, e que se dirigiriam à Av. Paulista para participar da manifestação de cunho ideológico do “FORA TEMER!” programada por movimentos sociais e demais organizações em repúdio ao golpe.


Muitos não conhecem o Centro Cultural São Paulo, onde durante toda a semana os jovens, como um bando de pássaros, nesta cidade de cimento se sentem livres para voar em seus sonhos. Frequentam a Biblioteca em grupos para fazerem suas pesquisas; marcam encontros com amig@s e coleg@s para estudarem ou mesmo decidirem qual atividade farão. Dançam, cantam, ouvem música. Enfim, sentem que é um espaço libertário e soltam seus sentimentos e pensamentos, abrindo os corações. Difícil imaginar que ali se encontra a serpente, que se misturando com eles, se fazendo como um deles, vai induzindo, provocando situações, palavras e pensamentos que poderão ser as armas da acusação que se estão forjando para destruir as utopias, as esperanças, os sonhos, o dar-se e confiar uns nos outros. Seu veneno é inoculado vagarosamente, como em um conto kafkaniano em que sua identidade perde o sentido, seus sentimentos são traídos. Assim se perde a adolescência e a juventude, assim se constrói uma maturidade medrosa, insegura, cheia de sofrimentos e amarguras.

Por que da detenção desses jovens?

Estariam sendo usados para servirem de exemplo aos demais jovens com a aplicação do terrorismo de Estado, procurando criar na juventude o medo, a insegurança e a covardia? Estratégia essa utilizada em vários países do mundo e no Brasil pós 1964. Para isso mais uma vez utilizaram um antigo e experimentado método: a infiltração policial, desta vez feita por um capitão do exército brasileiro dizendo se chamar Baltazar, “Balta para os íntimos”, apoiado pelo então Secretário de Segurança Pública de São Paulo Alexandre de Morais. Exército e Justiça de mãos dadas para cometer ato ilegal. Se puxarmos um pouco pela memória poderemos nos lembrar e fazer uma analogia com o infiltrado da década de 70 conhecido como Cabo Anselmo, responsável pela entrega e decorrente assassinato pela repressão do Estado de mais de 100 militantes da época.

Nada muda, os métodos continuam os mesmos. E este é um dos motivos que nós Filh@s & Net@s de SP estamos vindo a público denunciar esse fato. Lutamos “Para que nunca se esqueça, Para que não mais aconteça” e vemos que a sociedade se esquece, porque não houve justiça e julgamentos destes métodos permitidos pelos órgãos da repressão na Ditadura, e por isso continua acontecendo, como flagrantemente se constatou nesse caso.

Para o terror ser concretizado e ser sentido por todos os manifestantes de nosso país a Rede Globo deu cobertura total ao fato sempre utilizando-se de meia verdade, aterrorizando pais, parentes, vizinhos, colegas de escola e de trabalho.

O tratamento dado ao grupo detido se mostrou diferenciado desde o início até pelo fato de terem sido levados ao DEIC (Departamento Estadual de Investigação ao Crime Organizado, da Polícia Civil) e não a uma delegacia, e terem prisão decretada. Os jovens foram cercados enquanto se agrupavam em frente ao Centro Cultural São Paulo, por policiais portando armas letais. Helicópteros sobrevoavam o local e todos foram detidos (dentre eles três menores de idade que posteriormente foram conduzidos para a Fundação Casa), por estarem portando máscara de gás, gaze e vinagre, material necessário para se proteger dos violentos ataques com gás de pimenta que vinha veemente sendo utilizando contra manifestantes nos últimos atos. Contudo, foram acusados pelos policiais de também portarem outros objetos.

Os jovens ficaram incomunicáveis e tiveram seus direitos básicos negados. Por mais de oito horas não puderam entrar em contato com os pais. Também foi colhido depoimento dos adolescentes, sem advogados presentes, e os fizeram assinar em meio à pressão dos policiais que praticaram o terror com eles. O mesmo para os maiores de idade, sendo que advogados e familiares estiveram por horas esperando que lhes fosse permitida a entrada.

Após intensa pressão de políticos, familiares e outras entidades, os jovens foram liberados no dia seguinte, mas respondendo a um inquérito policial por associação criminosa e corrupção de menores. Nesse momento de solidariedade foi que o grupo pode perceber que um dos integrantes poderia ser um infiltrado, pois apesar de estar no local e ter sido detido, não fora preso. Dias depois as dúvidas foram confirmadas mediante a identificação do capitão do Exército William Pina Botelho que, conforme relatos, já se aproximava de jovens e movimentos sociais há cerca de um (01) ano, com o codinome fictício de “Balta Nunes”, utilizando as redes sociais e inclusive de aplicativos de paquera.

O que surpreende é o tamanho do cinismo das Forças Armadas em conluio com o Poder Judiciário, pois o então capitão do Exército Wilson Pina Botelho não respondeu criminalmente à prática dos supostos delitos que ajudou a enredar, coordenar e estimular junto com os 18 jovens do Centro Cultural de São Paulo. Apesar de um inquérito ter sido instaurado contra ele na Justiça Militar, o mesmo foi arquivado e Wilson Pina Botelho foi promovido a Major pelas Forças Armadas. Algo inconcebível e inaceitável!

Os jovens, por outro lado, foram indiciados e esse inquérito policial se tornou um processo criminal no qual respondem da mesma maneira por associação criminosa e corrupção de menores, o que corresponde, caso venham a ser condenados, a vários anos de prisão.

O processo tramita na 3ª Vara Criminal do Fórum da Barra Funda sob condução da Juíza Cecília Pinheiro da Fonseca que levou adiante o processo utilizando-se de suposições baseadas apenas nas palavras dos policiais, versando sobre os “possíveis” atos que “seriam” cometidos pelos manifestantes “vestidos de preto” e “portando máscaras”, caso “tivessem” ido à manifestação. Teratológica foi sua decisão que é repudiada pelos advogados dos jovens como “absurda” e que “abre um precedente muito perigoso de criminalização dos movimentos sociais”. Denuncia que a conduta dos jovens na denúncia criminal “narra, individualizada e detalhadamente, a conduta dos acusados, demonstrando, inclusive, seu possível modus operandi” sem eles ao menos terem participado da manifestação.

O dia 22 de setembro está agendado como a data do julgamento deles, o julgamento das mentiras, da encenação, da montagem para destruir sonhos e utopias, o que repudiamos veementemente. Não podemos permitir que sejam condenados! 

Convocamos para o ato de apoio junto aos familiares e manifestantes que ocorrerá concomitantemente a seus julgamentos, no dia 22 de setembro às 14 horas, no Fórum Criminal da Barra Funda, de São Paulo.

Entendemos que os 18 representam toda a juventude que ocupa as escolas e as ruas lutando por liberdade, democracia, direito de pensar e expressar. Eles reconhecem o recente Golpe que houve no Brasil. São o sorriso do presente e a possibilidade de uma sociedade mais digna amanhã.

Diga NÃO À PRISÃO DOS 18!!!⁠⁠⁠⁠

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

4 Comentários

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  1. É assim que as forças armadas

    É assim que as forças armadas brasileiras cumprem seus deveres constitucionais ?  Por que os militares não colocam soldados infiltrados no tráfico de drogas ? Ah sim, para não correrem o risco de topar com  alguns camaradas ou para evitar constrangimentos com a Casa Grande.  

  2. Jovens

    Com certeza serão absolvidos desse absurdo, é o que esperamos e torcemos juto aos amigos e pais.

    Mas a vida dessa moçada não será mais a mesma.

    Foram bem cedo marcados pela covardia dos serviçais da elite parasita, dos capangas da casa-grande

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