Nascido em 16 de agosto. João Massena, presente!

“Hoje é dia de celebrar o centenário de um pernambucano arretado que não aceitava o não como resposta e que acreditava na mudança e num país melhor para todos.”

do Movimento Vozes do Silêncio

Nascido em 16 de agosto. João Massena, presente!

“Hoje é dia de celebrar o centenário de um pernambucano arretado que não aceitava o não como resposta e que acreditava na mudança e num país melhor para todos.”

Viva João Massena

por Edu Prestes

Em 16 de agosto de 1919 no interior de Pernambuco nascia João Massena meu avô. Desde cedo percebeu sua condição social e de sua família e aos 10 anos de idade já não tinha nem pai nem mãe. Veio para o Rio de Janeiro ainda adolescente na companhia de um primo mais velho. Com 13 anos já trabalhava na antiga fábrica de tecidos Nova América e também passou a frequentar as reuniões sindicais e ter contato com as ideias marxistas. Foi preso pela primeira vez ainda menor de idade quando participava de ações de panfletagem na porta da fábrica. Aos 20 poucos anos, na década de 40 após idas e vindas na detenção foi enviado para a Ilha Prisão de Fernando de Noronha e teve contato com vários companheiros do partido comunista de todo Brasil.

Foi eleito vereador em 1947 pelo estado da Guanabara e logo teve seu mandato cassado com o início da guerra fria, a extinção do partido comunista e perseguição de seus integrantes por parte do governo. Vida clandestina, correria de casa em casa de aparelho em aparelho, assim foram nascendo seus filhos, um em cada canto do país.

Na década de 1950 o próprio partido coloca a prova a capacidade de articulação política de Massena e por ser homem do povo, faz pouco caso de sua trajetória dentro do partido e lhe envia para o chão da fábrica para trabalhar como metalúrgico. Massena, sem a ajuda do partido se articula politicamente dentro do sindicato dos metalúrgicos, ganha força política e em 1962 é eleito deputado estadual pelo Rio de Janeiro. É novamente cassado após o golpe civil/militar de 1964.

No início de 1971 é preso e violentamente torturado na Ilha da Flores em São Gonçalo – RJ, sai 2 anos depois, muito debilitado e vai fazer um tratamento de saúde na antiga União Soviética, é quando se encontra pela última vez com meu pai que estava em Moscou em seu autoexílio estudando para ser químico.

Em 1974, de volta ao Brasil, Massena vai a um encontro na cidade de São Paulo e não retorna. Dias depois, minha avó vai a seu encontro na capital paulista, mas também não obtém sucesso, e percebe ali que algo havia acontecido. Massena naquela época tinha 54 anos e era um articulador político do PCB lutando pela abertura democrática em nosso país.

Hoje sabemos que João Massena foi sequestrado no início de abril por agentes do Dops e foi levado para a casa da morte em Petrópolis. Ali teria sido torturado, assassinado e seu corpo jamais foi entregue à família. Foi mais uma vítima da operação Radar que tinha como objetivo eliminar a “velha guarda” do partido comunista, evitando que numa possível abertura política essas pessoas ocupassem os espaços de poder.

João Massena foi um sujeito de luta, teimou em lutar por liberdade e por entender que a desigualdade nesse país era gerada por uma pequena elite econômica. Sempre colocou sua luta e o partido como prioridade, disse inclusive isso no dia de seu casamento com a minha avó: “sabe que sou um comunista e para mim o partido vem em primeiro lugar”.

Hoje, se estivesse vivo Massena completaria 100 anos de vida, 100 anos de luta e de histórias para contar, 100 anos de resistência e de crença na força da luta do povo, de homens e mulheres comuns que têm direito a uma vida digna como todo o cidadão deveria ter. Hoje é dia de celebrar o centenário de um pernambucano arretado que não aceitava o não como resposta e que acreditava na mudança e num país melhor para todos. Carrego com muito orgulho a memória de meu avô Massena e guardo todo o arsenal de histórias que me contam para que as próximas gerações possam também lembrar com carinho desse nordestino arretado. Hoje mais do que nunca Massena vive em nossos sonhos e atitudes diárias, o Estado assassino comandado por militares desapareceu com o seu corpo, mas a memória vai resistir e lembrar que um Estado covarde, some com corpos, mas jamais sumirá com a história e memória de João Massena.

VIVA JOÃO MASSENA, VIVA O 16 de Agosto.

Vigília pelas Vítimas de Violência do Estado

Conhece alguma vítima de violência do Estado (morta, desaparecida, presa ilegalmente, torturada) que faz aniversário hoje?  A página do evento Ato Vigília pelas Vítimas de Violência do Estado recebe relatos de quem quiser se fazer ouvir. Estas histórias precisam ser contadas, não podem ser silenciadas, e a ajuda de todos fará com que se amplifiquem.

30 de agosto é o dia escolhido pela ONU (Organização das Nações Unidas) para representar as vítimas de desaparecimento forçado, ou seja, aquelas que desapareceram após serem presas ou retidas ilegalmente por forças de segurança.

No Brasil, agosto é também o mês que simboliza a luta pela anistia política. A Lei de Anistia é de 29 de agosto de 1979, vai completar 40 anos. Temos aí 40 anos de luta por uma anistia política dada de maneira restrita, parcial, inconclusa e ainda aplicada às avessas.

O ato será uma grande vigília para lembrar daqueles que foram brutalmente tirados do convívio de suas famílias, por meio de fotos e de suas histórias, e dar voz a quem teve que se manter em silêncio por tantos anos para sobreviver à perda e à injustiça.

Vá ao Ato! Conte essas histórias! E leve flores. Carregue-as como símbolo de uma cultura de amor e de muitas lutas memoráveis pela democracia.

Flores também são vozes do silêncio.

Para que não se esqueça, para que nunca mais se repita!

Conte sua história aqui.

Redação

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