Nascidos em 02 e 21 de agosto. Walkíria Afonso Costa e Idalisio Soares Aranha Filho, presentes!

Nascidos no mesmo mês e no mesmo ano, 1947, cada um em um ponto do interior das Minas Gerais. Encontraram-se em Belo Horizonte no final dos anos 60 e se uniram no amor, na música e na coragem.

Fotos da adolescência de Walkiria, onde podemos vê-la às margens do Rio São Francisco em Pirapora/ ela cavalgando/ ela atirando com arma de cano longo (nosso pai era caçador e nos ensinou a atirar muito cedo) e por último ela tocando acordeon para as colegas de escola dançarem quadrilha.

do Movimento Vozes do Silêncio

Nascidos em 02 e 21 de agosto. Walkíria Afonso Costa e Idalisio Soares Aranha Filho, presentes!

Nascidos no mesmo mês e no mesmo ano, 1947, cada um em um ponto do interior das Minas Gerais. Encontraram-se em Belo Horizonte no final dos anos 60 e se uniram no amor, na música e na coragem. Não há uma foto sequer dos dois juntos. Essa foi uma das medidas de proteção que ambos adotaram, em seus pouco mais de 20 anos de idade.

A irmã de Idalisio, Antônia Vitória, nos escreveu hoje, data em que ele completaria 72 anos, e deu o seguinte depoimento:

“Sou irmã de IDALISIO SOARES ARANHA FILHO, assassinado na guerrilha do Araguaia com 25 anos. A dor nunca passa, é como uma ferida aberta que não fecha. Há momentos em que ela sossega um pouco, mas ela está sempre no meu peito para me lembrar da saudade e do vazio que ele deixou; e, acima de tudo, para me fazer continuar sua luta e jamais deixar de denunciar a barbaridade da sua morte. Hoje, dia 21 de agosto, dia do seu aniversário onde ele faria 72 anos, a dor aperta um pouco mais. Sei que se aqui ele estivesse tocaria seu violão e cantaríamos muito. Mas bem baixinho eu canto e repito: todos nós, familiares e amigos, te amamos muito. Jamais te esqueceremos. Viva Idalisio Soares Aranha Filho!”

Valéria, irmã de Walkíria, também nos enviou seu relato, que segue abaixo. É mais um texto emocionante, ao qual ela anexou fotos e um poema que Walkíria escreveu antes de se decidir ir para o Araguaia.

A última a ser pega e assassinada pela DITADURA MILITAR no ARAGUAIA: WALKÍRIA AFONSO COSTA

Por Valéria Costa Couto

Menina meiga e inteligente que só tirava 100 no Boletim Escolar, com o seu acordeon tocava músicas clássicas, populares e folclóricas em toda festa de família, de escolas ou nas visitas às favelas de Belo Horizonte. Era WALKÍRIA alegrando a todos, não só com suas perfeitas execuções musicais, como também com seus poemas e teatros (comédias e/ou apresentações de cunho social). Era inconformada com as injustiças sociais.

Estudante de Pedagogia da UFMG, criadora e vice-presidente do Diretório Acadêmico (hoje o D.A. FAE/UFMG leva o seu nome), quando em 1971, já filiada ao PC do B, decide mudar os rumos de sua atuação política, indo viver junto aos camponeses da região do Araguaia.

Em 1972, a população local foi surpreendida por ataques do Exército, Marinha e Aeronáutica, detonando a chamada Guerrilha do Araguaia. Foram torturados e mortos muitos populares e todo o grupo dos 69 jovens do PC do B. Após o último ataque das Forças Armadas, no Natal de 1973, Walkíria se refugia na mata onde permanece sozinha por 10 meses. Em outubro, quando pedia comida em uma casa, foi traída pelo suposto amigo camponês que a entregou ao Exército em troca de algum dinheiro. Foi levada para a Base Militar de Xambioá.

“O Comandante mandou servir vinho e uísque aos oficiais. Ela estava pálida, magra, mancava de uma perna, tinha o corpo coberto de picadas de mosquitos, muita febre e seu mal cheiro podia ser sentido de longe. Só pedia água… Abriram um buraco de mais ou menos um metro de profundidade. E ali, Walkíria foi executada, à beira da cova, com 3 tiros no pescoço.” (Depoimento do ex-soldado Josean Soares)

Walkíria foi a última a ser pega e covardemente assassinada, aos 27 anos de idade, presa dentro da Base Militar de Xambioá. Era 25 outubro de 1974.

A SENTENÇA DA CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS-
24/11/10, condenou o Brasil por desaparecimento forçado como violação múltipla e continuada de Direitos Humanos e obrigou a União à localização e entrega dos corpos às famílias.

ONDE ESTÁ MINHA IRMÃ?

Poema a Vandré por walkíria.jpg

Vigília pelas Vítimas de Violência do Estado

Conhece alguma vítima de violência do Estado (morta, desaparecida, presa ilegalmente, torturada) que faz aniversário hoje?  A página do evento Ato Vigília pelas Vítimas de Violência do Estado recebe relatos de quem quiser se fazer ouvir. Estas histórias precisam ser contadas, não podem ser silenciadas, e a ajuda de todos fará com que se amplifiquem.

30 de agosto é o dia escolhido pela ONU (Organização das Nações Unidas) para representar as vítimas de desaparecimento forçado, ou seja, aquelas que desapareceram após serem presas ou retidas ilegalmente por forças de segurança.

No Brasil, agosto é também o mês que simboliza a luta pela anistia política. A Lei de Anistia é de 29 de agosto de 1979, vai completar 40 anos. Temos aí 40 anos de luta por uma anistia política dada de maneira restrita, parcial, inconclusa e ainda aplicada às avessas.

O ato será uma grande vigília para lembrar daqueles que foram brutalmente tirados do convívio de suas famílias, por meio de fotos e de suas histórias, e dar voz a quem teve que se manter em silêncio por tantos anos para sobreviver à perda e à injustiça.

Vá ao Ato! Conte essas histórias! E leve flores. Carregue-as como símbolo de uma cultura de amor e de muitas lutas memoráveis pela democracia.

Flores também são vozes do silêncio.

Para que não se esqueça, para que nunca mais se repita!

Conte sua história aqui.

Redação

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