No dia de hoje… Lúcia Maria de Souza, presente!

Lúcia Maria adotou o codinome Sônia e mudou-se para a região do Araguaia, indo viver no sítio Chega com Jeito, próximo a Brejo Grande. Com seu modo carinhoso, que tanto a caracterizava, conquistou a amizade dos companheiros e moradores da região.

por Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos

No dia de hoje… Lúcia Maria de Souza, presente!

Em 22 de junho de 1944, em São Gonçalo, no Rio de Janeiro, nasceu a corajosa Lúcia Maria de Souza, filha de Jovina e José Augusto. Tornou-se militante do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e, mais tarde, foi uma das guerrilheiras mais respeitadas e queridas pelos moradores da região do Araguaia.

Lúcia cresceu em um abrigo, a União das Operárias de Jesus. Vinda de família pobre, começou a trabalhar desde muito jovem em uma fábrica da Coca-Cola. Com isso, pôde financiou os estudos e, apesar das graves dificuldades financeiras, ingressou na Escola de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro.

Quando se tornou militante do PCdoB, fe parte da Secretaria de Agitação e Propaganda, do Comitê Universitário do Partido. Foi responsável pela impressão e distribuição do jornal Classe Operária e pela edição do jornal A Luta. Na época da militância na universidade, conheceu a amiga Jana Moroni, que foi sua companheira de guerrilha no Araguaia.

Em 1970, cursava o 4º ano de medicina e fazia estágio no Hospital Pedro Ernesto, no Rio de Janeiro, quando decidiu aderir à Guerrilha.

Lúcia Maria adotou o codinome Sônia e mudou-se para a região do Araguaia, indo viver no sítio Chega com Jeito, próximo a Brejo Grande. Com seu modo carinhoso, que tanto a caracterizava, conquistou a amizade dos companheiros e moradores da região. Ela se tornou a parteira da comunidade, ganhando grande estima entre os moradores. Esforçava-se para se adaptar às novas condições e se destacava no trabalho físico de derrubada de mata, no uso do facão, na capacidade de transportar grandes pesos. Sua inteligência e curiosidade, levava-a a estudar até tarde da noite, sob a luz do lampião, tanto os compêndios de medicina, como os clássicos marxistas. Durante a guerrilha, apaixonou-se por Líbero Giancarlo Castiglia, guerrilheiro italiano, com quem passou a viver.

Lúcia Maria permanece viva nas memórias dos moradores do Brejo Grande. Durante as expedições de buscas por desaparecidos políticos no Araguaia, muitas pessoas têm histórias da Sônia para contar.

As circunstâncias da sua morte também são narradas pelas pessoas da região, por vezes de forma contraditória e por vezes complementando o conteúdo dos documentos oficiais do Exército.

O que se sabe é o seguinte: Lúcia Maria era membro do Destacamento A – Helenira Resende. Em 24 de outubro de 1973, acompanhada por um adolescente que aderira à guerrilha, foi encontrar companheiros na Grota da Borracheira (ou Grota da Água Fria), passando por uma trilha em que se suspeitava haver soldados emboscados. Lúcia deixou suas botas próximo ao caminho e foi até o rio. Na volta, não encontrou os calçados. Desconfiou que pudesse ter sido brincadeira de alguma pessoa conhecida, mas foi surpreendida por oficiais do Exército, dentre eles Sebastião Rodrigues de Moura (conhecido como Major Curió), que atiraram nela. O menino que a acompanhava fugiu enquanto Lúcia tentou resistir. Seus algozes se aproximaram dela ferida no chão e lhe perguntaram o nome, ao que Sônia respondeu “guerrilheira não tem nome, tem causa” e “eu luto por liberdade”, sendo metralhada em seguida. O – à época -Capitão Curió e outro oficial saíram feridos do conflito com Lúcia, que tentou se defender da emboscada inutilmente dada a absurda disparidade de forças. Seu corpo teria sido deixado ao relento.

A morte de Lúcia Maria de Souza é considerada um dos episódios mais emblemáticos da Guerrilha do Araguaia. É em homenagem à sua coragem, perseverança e amor ao outro que precisamos lembrar dela em 22 de junho.

– Lúcia Maria de Souza?
– Presente!

– Sônia?
– Presente!

– Liberdade?
– …

“Para que não se esqueça, para que nunca mais se repita.”

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INFORME:

Os textos “No dia de hoje… para que não se esqueça, para que nunca mais se repita” são de responsabilidade das pessoas que administram a página da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, sob a presidência da procuradora regional da República, Eugênia Augusta Gonzaga.
Baseados em fontes como Wikipedia e Relatórios finais de Comissões da Verdade, esses textos compõem um conjunto de publicações feitas diariamente entre 10.06 e 24.06.2019, na página do evento “Vozes do Silêncio contra a Violência de Estado”, como forma de divulgação e preparação para o ato.
Neste texto de 22.06, colaborou Teresa Labrounie.

Redação

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