O enorme erro da Rede Hirota Food, por Matê da Luz

O enorme erro da Rede Hirota Food

por Matê da Luz

2017 segue caracterizado com um ano bizarro. Dentre as exposições e posicionamentos mais esquisitos e retrógrados, aos meus olhos, estão aqueles que se vangloriam de excluir, em qualquer âmbito ou aspecto. Como é que pode, em pleno século XXI, esta ser uma política considerável? 

“Mas querida, os políticos excluíram o Brasil de seus planos, onde apenas impera o próprio bolso e bom viver” – sim, mas onde é que estão as balizas internas, aquelas que dão conta de cada um de nós quando o contexto surta e fica assim, em pane? Não consigo mais entender ou aceitar a justificativa de que as pessoas agem de tal forma porque o Brasil isso, porque o Brasil aquilo – insisto em questionar onde é que estamos com a cabeça quando nos deixamos dominar sem filtro por essa onda de desastres em pensamento-ação que anda escorrendo país afora; onde está nossa força pra não nos submetermos e irmos à luta, mesmo que seja de forma simples, cotidiana? 

Exemplo desta semana: a rede de supermercados HIrota Food imprime e distribui uma cartilha com barbáries “tendo como base o eixo cultural HIrota: fé, família, escola e trabalho”. Até aí, vamos lá, tudo bem. O que há de errado em falar em família, fé, escola e trabalho, não é mesmo? Também creio que estes sejam pilares importantes, desde que cada um possa escolher a forma de exercer e exercitar os seus. Daí que no interior da peça, o desastre aparece: “Deus insitituiu o casamento e estabeleceu critérios sólidos para seu funcionamento […] primeiro, o casamento é heterossexual. O casamento é a união entre um homem e uma mulher, entre um macho e uma fêmea. O casamento homoafetivo está na contramão do propósito divino […]” e ainda “O sexo é uma bênção que deve ser usufruída apenas no contexto sacrossanto do matrimônio”.

Olha, não nem sei por onde começar. São tantas as perguntas que pairam na minha cabeça mas a principal delas é: não tinha uma alma na equipe inteira pra alertar que seria impressionantemente ruim o resultado dessa publicação? Porque, oras, o dono do supermercado ser um fascista homofóbico, vá lá, cada um tem o direito de estar onde bem entende na reta da evolução, não é mesmo? Mas publicar isso como eixo cultural de uma empresa, quer dizer, comprometer centenas de funcionários com este discurso bizarro e retrógrado assim, sem questionamentos internos? Entendo que o país esteja em crise, mas ninguém previa o estrago que a publicação causaria? 

Ou pior, como comentou amiga minha, será que somos nós, os abismados, que estamos achando tudo isso muito anormal enquanto os que pensam dessa forma estão simplesmente ganhando espaço, se sentindo livres e sequer sentirão uma coceirinha no bolso, porque assim como o Hirota, muitas famílias pensam isso e estão a aguardar o ato heróico de uma empresa grande assumindo, de uma forma ou de outra, que o mundo está muito louco mesmo com essa gente que beija pessoas do mesmo sexo. Medo, medo, medo. Respiro. Ainda com medo. 

Minha mãe mora num prédio que fica literalmente em cima de uma das unidades do Hirota e, quando conversei com ela sobre o ocorrido, ela disse que “não tem como mudar a rotina, porque o outro mercado é longe e ela não tem mais idade pra isso”. Espero, de coração, que ela reveja seu conceito de participação e contribuição econômica e social e, mais ainda, espero que a gente não se esqueça dessas e de outras que vem aparecendo por aí. Ser livre há de ser igual para todos, a regrinha infantil que dá conta de que seu limite acaba onde começa o meu deixa isso tão, mas tão claro, que não sei de onde alguém tirou que imprimir uma opinião regressa e miúda como essa fosse ser “apenas expressão de suas opiniões”. 

Que o boicote prometido nas redes soaicis seja cada vez mais físico, amém. 

 

Mariana A. Nassif

6 Comentários

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  1. Enorme erro é o seu vir aqui

    Enorme erro é o seu vir aqui xingar o dono da empresa de “fascista homofóbico”, apenas por ele ter-se valido de sua empresa para opinar sobre o conceito de família, segundo o que diz as Escrituras, cuja interpretação feita sobre esse tema no folheto é consenso entre 99,9% dos cristãos deste país. SE a religião que vc professa e defende publicamente aqui através de diversos artigos, venera um ser que metade do ano é homem e outra metade é mulher, o problema é seu, mas não queira censurar os que têm o direito de expressar uma opinião diferente da sua por convição religiosa, ainda que associada à imagem de uma pessoa jurídica, e por sua conta e risco de não agradar a todos.

    1. Parabéns à Matê pelo ótimo texto

      E talvez o João Alexandre não tenha percebido que toda a mídia (G1, Exame, Veja SP, Estadão, etc) divulgou a estória ontem à noite e sempre em um tom negativo. Pelo visto o João Alexandre imagina que os jornalistas dessas atérias não são cristãos, né?

      1. Depende

        Primeiro depende de quem pode ser considerado como cristão de fato, pois há muitos que dizem cristãos, mas sequer creem na ressurreição do corpo de Jesus Cristo.De outro lado, o mundo, ora representado por “toda a mídia” fabricante e apoiadora de figuras como Pablo Vitar e cia, nunca ajuda a propagar valores cristãos genuínos, muito pelo contrário, sempre fez oposição à fé cristã. Como está escrito:

        Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. 1 João 2:15

        Do mundo são, por isso falam do mundo, e o mundo os ouve. 1 João 4:5

        Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu, mas porque não sois do mundo, antes eu vos escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos odeia. João 15:19

        Estava no mundo, e o mundo foi feito por ele, e o mundo não o conheceu. João 1:10

        Porque todo o que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo, a nossa fé. 1 João 5:4

        Dei-lhes a tua palavra, e o mundo os odiou, porque não são do mundo, assim como eu não sou do mundo. João 17:14

        1. kkkk

          Esses “cristãos” acham que estão realmente estão fazendo grande contribuição jogando pedras nos outros. Gostam de bancar os fiscais de c* e são grandes pregadores da “moral e bons costumes”. Estão dando o exemplo? Como é você no dia a dia? Respeita sua mulher (e as outras)? Respeita as leis de trânsito? Ama o próximo como a tí mesmo?

          Não sejamos hipócritas ao tratar da vida do outro ok?

          E antes que alguém venha com a mesma crítica de sempre: sou hétero (se fosse gay não teria problema), não votei na Dilma, não sou de esquerda, não apoio o PT.

          Parabéns à autora! Ótimo texto!

          Passar bem!

          1. Kkkk?o

            Bom senhor Gilberto, gostaria de retribuir as perguntas:

            O senhor tem dado exemplo? Como voce e no dia a dia? Respeita a sua mulher e as outras? Respeita as leis de transito? Ama o proximo como a ti mesmo?

            Se suas respostas forem sim, que bom! Acredito que deveriam realmente ser positivas pois se cobra, deve dar o exemplo.

            caso o contrario, quem anda bancando o fiscal aqui seria o senhor nao?

            Qual é o problema de simplesmente verbalizar a crenca e expor aquilo que acredita.

            O autor desde artigo nao fez isso ao questionar e julgar – se preferir utilizar uma palavra mais sutil como opiniar, tudo bem tambem – o posicionamento da empresa?

            Se existe o direito e a ideia de boicote, vão em frente mas, por favor, quando chegar nosso direito de fazermos o mesmo espero que sejamos sensatos e maduros ao analisar!

            Chega de vitimização!!!

  2. Enorme erro?

    Quanta pretensão desta MINORIA, querer decidir o que a MAIORIA da população deve crer e defender… foi tão grande o erro da rede Hirota que, apesar da grande barulheira da minoria, continua com a maior parte das avaliações positivas em sua página do Facebook. Minoria significa menor parte, caso não tenham se atentado a isso.

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