Wilson Ferreira
Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.
[email protected]

O gênio da América e do Brasil profundos não quer mais voltar para a garrafa, por Wilson Ferreira

por Wilson Ferreira

O atirador de Las Vegas; o vigia que ateou fogo em crianças numa creche em Minas Gerais; o ex-vereador que se passava como policial federal e produtor da TV Globo para extorquir e estuprar e, diz, ainda pretende ser presidente do Brasil para “acabar com a corrupção”. Lá nos EUA como aqui no Brasil o gênio foi tirado da garrafa para eleger um presidente e desestabilizar governos. A grande mídia cobre esses casos como eventos isolados, inexplicáveis, como “fatos diversos” da irracionalidade humana reforçado pelos indefectíveis “especialistas-informação-de-pauta” de plantão. Mas tanto lá como aqui são confirmações de que os pensamentos são coisas: formas-pensamento autônomas que dão ao “mal estar da civilização” (através da grande mídia em seus momentos de conflagração político-ideológica, oposição e guerra para desestabilização política)  uma narrativa, lógica e com sentido. Para o gênio sincromístico sair da garrafa e nunca mais querer voltar.

“Os pensamentos são coisas”
Antigo aforismo oriental

 

Eventos trágicos como o do atirador de Las Vegas, Stephen Paddock, que matou 58 e feriu quase 500; ou a inexplicável tragédia na qual um vigia de uma creche no norte de Minas Gerais jogou álcool nas criança e nele mesmo e ateou fogo para matar 10 crianças e deixar mais 23 feridos, sempre causam consternação e revolta pela crueldade inexplicável. 

Porém, apesar da barbárie que sugere atos de pessoas enlouquecidas, foram ações aparentemente premeditadas de maneira fria e calculada. 

Mas fica a percepção da irracionalidade, do inexplicável, da brutalidade aleatória onde, para tentar buscar alguma racionalização, a grande mídia coloca diante das câmeras os tradicionais especialistas-informação-de-pauta como psiquiatras, psicólogos, delegados e médicos forenses. 

Isso quando não entram em cena teóricos da conspiração falando de algum projeto secreto de controle mental governamental (como o MK Ultra, p. Ex.) no qual um indivíduo preparado através de drogas ou traumas psíquicos teria a personalidade propositalmente fragmentada para comandos serem ativados por determinados sons, palavras ou ações.

Stephen Paddock, o atirador de Las Vegas

Armas e Fetiche

No caso norte-americano, é no mínimo espantoso o tom de “freak out” (apresentadores e comentaristas consternados e abalados) da grande mídia num país no qual a indústria do entretenimento fetichiza armas: as bebidas alcoólicas e cigarros podem ser extirpadas de filmes e séries (ou colocadas somente na boca dos vilões), mas as armas continuam em cena pela força do lobby da indústria armamentista.

Num país no qual a arma é um fenômeno eminentemente estético (a percepção de segurança e liberdade) – quanto mais velho o ator (ou o norte-americano comum), mais armas deve possuir para provar que ainda tem “munição” e de que a impotência se foi! Quanto mais velho, maior o arsenal bélico – sobre isso clique aqui.

O fascínio pelas armas nos EUA pode ser um fenômeno cultural – acredita-se que torna o país mais seguro, além da arma representar, no imaginário do norte-americano médio, a defesa do cidadão contra um possível governo totalitário. Porém, a indústria do entretenimento é o horizonte de eventos dessa cultura. 

Assim como nos buracos negros, o horizonte de evento é o ponto de não-retorno no qual “os pensamentos viram coisas”: não conseguindo superar a velocidade escape, produtos de entretenimento tornam-se formas semi-autônomas através das energias psíquicas que atribuímos a eles. Estamos no campo da hipótese sincromística – através de um contínuo midiático atmosférico capaz de criar forma-pensamento no mundo ficcional (mas não ilusório) que em dadas circunstâncias (o vácuo mental de indivíduos que acreditam serem suas próprias ideais) podem entrar em contato com o mundo real (assassinatos seriais) – sobre isso veja os links no final da postagem.

 

Falso policial federal com crachá da Globo

No Brasil, dois eventos marcaram o noticiário recente, distantes no tempo e no gênero de notícia: o primeiro, uma trágica hard news; e o outro, um chamado “fato diverso” do noticiário policial, porém não menos sintomático. Exemplos dessa hipótese sincromística, dessa vez na densa atmosfera política e social na qual o Brasil está mergulhado. 

A suposta “doença mental com delírio persecutório” do vigia Damião dos Santos que cometeu o bárbaro crime em Minas Gerais foi coberta pela mídia corporativa como um episódio isolado, em algum lugar atrasado e pobre no interior do País. Mas nesse episódio podemos encontrar elementos sintomáticos com outro episódio que foi deslocado para a editoria das notícias policiais na imprensa.

Em São Paulo um homem se fazia passar por policial federal para estuprar e roubar mulheres no bairro nobre do Jardins, em São Paulo. Adson Muniz Santos, ex-vereador da cidade de Jussiape (Bahia) também apresentava um falso crachá de produtor da TV Globo.

O criminoso dizia ter “influência política” para resolver problemas das vítimas. Preso, diante das câmeras e na porta do camburão, fez uma mini coletiva para a imprensa cercado de microfones: “meu foco é chegar à presidência para acabar com a corrupção e por fim a tantas mortes no País…”, disse sério – diante da mídia, repetiu prontamente o script martelado diariamente pela TV e rádio.

É sintomático as duas personagens que performava para sentir-se poderoso e acima de qualquer suspeita: policial federal e produtor da TV Globo – todo sentido após anos da dobradinha judiciário-grande mídia para desestabilizar os governos lulo-petistas.

O falso policial federal e produtor da Globo quer ser presidente para “acabar com a corrupção”

“Fatos diversos” sem contexto

O tratamento isolado como “fato diverso” dado pela grande mídia (sem dar o devido contexto) encobre que, desde o momento em que a meganhagem judiciária tomou diariamente conta das telas (forças tarefas federais, procuradores e delegados com ares graves e poderosos em coletivas, policiais federais armados até os dentes com touca ninja negra e com seus indefectíveis personagens saindo às ruas para conduções coercitivas – o “japonês da federal”, o hipster, o sarado, a “gata” loira etc.), o fenômeno foi acompanhado pela proliferação de pequenos escroques, criminosos e golpistas que parecem emular esse fascínio por poder, armas e coerção.

Por exemplo, no interior de SP bandidos criaram uma Operação Lava Jato fake se fazendo passar por juízes e procuradores para extorquir empresários com telefonemas ameaçando sobre supostas investigações que poderiam ser paradas caso fossem pagas propinas aos criminosos – clique aqui.

No início desse ano um falso policial federal com jaleco, carteira e distintivo foi preso em flagrante extorquindo vendedores ambulantes em São Paulo. Abordado por policiais militares ainda tentou dar uma “carteirada” para tentar intimidá-los – clique aqui

Um homem de 41 anos foi preso pelos crimes de extorsão e estupro. Morador em condomínio em Itu/SP era chamado pelos vizinhos de “doutor” – andava com fardas e dizia ser militar e que, recentemente, teria passado num concurso para juiz federal e aguardava ser chamado. Passando-se por policial federal dizia fazer “parte de um esquema” para dobrar os investimentos das vítimas – clique aqui.

Basta uma rápida pesquisa no Google, para perceber o rápido crescimento, nos últimos anos, de “fatos diversos” no noticiário sobre golpes de falsos policiais federais ou juízes.

 

Wilson Ferreira

Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.

5 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Não me convenceu

    Loucos e pessoas sãs cometeram crimes, que creio ser  independente da corrente política deles, pois há pessoas da esquerda e direita com problemas mentais.

    E podemos verificar se se os políticos no poder, que tem uma corrente política dominante, fomentaram ou deveriam ter feito mais pra que os crimes citados não ocorressem, como exigir teste psicólogo pra porte e proibir dispositivo que transforme uma semi-automática em automática nos EUA.

    Aqui, se midia, policiais, delegados, MPs e juizes priorizassem a justiça para os piores problemas comprovados. Teríamos uma justiça muito melhor.

    1. Mas a direita está esperando por eles…

      Essas “loucuras” ou “crimes” independem, de fato, de corrente política. Esses atiradores, escroques, chantagistas, estupradores e golpistas não são de “direita”. Mas o seu ódio instintivo contra a civilização são, sim, instrumentalizados pela Direita para engrossar a atmosfera de terra arrasada.

      Esses “loucos” e assassinos podem até ser de esquerda e direita. Mas pode ter certeza, a Direita está esperando por eles para pulverizar a esfera pública de discussões e colocar gente como os toscos da MBL que precisam dessa atmosfera pesada para serem ouvidos. 

      A grande mídia parece que viu isso e agora tenta trazer o gênio pra dentro da garrafa. Muito tarde!

      1. Juntar pessoas perturbadas é extremamente simples.

        Lá por volta de 1974 apareceu na UFRGS uma espécie de louco que contava suas histórias de viagens a outras dimensões e bizarrices do mesmo tipo, ele juntava nas suas palestras uma série de pessoas que pelo próprio comportamento se notavam sinais de paranoia ou outras distorções sérias de personalidade, durante uma das palestras do mesmo alguém perguntou para uma sala com umas cinquenta pessoas quem já tinham tido experiências do tipo, a grande maioria levantou o braço. Daí por diante não sei mais o que ocorreu com o grupo pois quem me contava e que jamais tivera qualquer tipo de experiência paranormal, se assustou com a plateia e deixou de ter curiosidade sobre o assunto, mas pela falta de divulgação posterior parece que tanto o sujeito como a sua comunidade sumiram ou começaram um tratamento psiquiátrico.

        O que chamo a atenção que grupos de pessoas dementes já era fácil de se juntar no período pré-internet, mas o suporte para a continuidade de atividades do tipo se tornou muito mais simples. A pouco assisti um hangout de um Terraplanista semianalfabeto que possui um número considerável de seguidores, pois ele desenvolveu as suas próprias teorias que são refutadas pelos cientistas cooptados por forças também estranhas!

        A demência é um fato comum, a possibilidade de juntar dementes também sempre foi comum, porém a potencialização no agrupamento que meios como o YouTube fornecem a estes grupos é algo que deveria ser estudado com cuidado.

        A academia achando que tudo isto é somente uma bizarrice não se preocupa com isto, porém como a paranoia ou outras doenças que podem se transformar coletivas não é um privilégio de semianalfabetos podendo atingir pessoas com boa capacitação profissional, exemplo clássico, um dos maiores matemáticos do século XX, John Nash, era o que minha avó chamaria louco de atar, pois sua internação foi definida quando começou a pensar em pôr dinheiro fora! Ou seja, personalidades totalmente psicóticas podem exercer papeis em que agregam milhares de seguidores para fazer não sei lá o que.

      2. Em cheio. Em outras palavras:

        Em cheio. Em outras palavras: criar o problema para oferecer a solução.

        Também me parece que não souberam dosar a pílula e agora tornou-se tarde demais.

        No lugar da solução estabeleceram, acho que sem saber porque são todos burros, o caos.

        Uma sociedade insana e caótica. Foi isso que trouxeram.

         

  2. fora de pauta  ..mas do seu

    fora de pauta  ..mas do seu interesse

    LEIAM esta noticia  ..abram vossas mentes e ampliem a compreensão sobre os interesses alienígenas que nos afetam. http://www.tijolaco.com.br/blog/china-e-russia-abolem-o-dolar-em-seu-comercio-e-fim-de-breton-woods/ ..duas potencias militares, territoriais, minerais e populacionais.O BRASIL, pra estes, seria a POTENCIA ALIMENTAR (que concorre no mundo com EUA e Austrália)Some-se a isso o pagamento ao FMI feito por LULA, ele que nos libertou das garras INSANAS do liberalismo entreguista e subserviente ..mais as perspectivas em nos tornarmos, com a pré sal, um acumulador VORAZ de divisas ..E o que temos ??!!..a formula e NECESSIDADE URGENTE dos Americanos em tomarem, nem que na marra, a democracia e a política brasileira como refém.Daí que, não duvidem, a associação desta Nação com nossos militares e o Poder NABABESCO da Justiça Brasileira, mais a IGNORÂNCIA, preconceito e desinformação da ELITE BRASILEIRA, foram uma associação indispensável pra que o GOLPE à nossa democracia aqui ocorresse. 

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador