O medo de arriscar vem causando profunda infelicidade, por Marcos de Aguiar Villas-Bôas

O medo de arriscar vem causando profunda infelicidade 

por Marcos de Aguiar Villas-Bôas

Em tempos passados, havia muito mais riscos. As pessoas estavam habituadas a passeios em meio à natureza, sujeitando-se, por exemplo, a encontrar animais selvagens. Não que os riscos, como de uma bala perdida, não existam hoje, mas a tecnologia, com todas as suas vantagens, trouxe a possibilidade de obter mais proteção e, como de costume, fica-se viciado nisso, leva-se ao extremo o que não precisaria causar mais desvantagens do que vantagens.

A avidez por segurança, por proteção, o medo de se arriscar, de que algo ruim aconteça, de que as rédeas sejam perdidas, está gerando uma sociedade medrosa, aversa ao risco, à mudança, ao novo.

Um conhecido me dizia outro dia que gostaria muito de ir com a família passar um tempo no exterior, aprender novas línguas, novas culturas, expandir a consciência obtendo outras perspectivas sobre as coisas, porém não faz isso porque seria muito arriscado ir sem um trabalho bem remunerado. Segundo ele, tem duas filhas, muitos gastos. Ele pensa nos riscos, no dinheiro, no trabalho, mesmo tendo diferentes imóveis e grande saldo na conta bancária. Financeiramente, ele e a esposa poderiam tranquilamente passar uns 5 anos viajando com as filhas sem trabalhar, mas na cabeça só ficam as necessidades de posses, as compras, a segurança financeira etc.

A maior parte das pessoas vive entediada. Elas escolheram suas profissões com base no que os pais queriam, pensando no que os amigos iam dizer, analisando o que seria melhor financeiramente e esqueceram simplesmente de sentir o que poderiam fazer de melhor, o que lhes traria, de fato, a plenitude. Agora, não conseguem mudar. “Já estudei tanto.” “Já trabalhei tanto.” “Começar agora tudo de novo?”

Não se trata de carreira, ora, mas sim de sua vida, de sua felicidade, de sua paz de espírito. Ainda que a mudança não chegue ao que se chama de certo, será mais uma experiência que tirará a pessoa do marasmo, do tédio. Se ela estiver sentindo que esse é o caminho, dificilmente ele será tido depois por errado.

Correr riscos é algo muito facilitado pela fé sentida e raciocinada. Aquele que desperta, que cria relações mais estreitas com os guias espirituais passa a sentir com mais clareza os caminhos a serem trilhados. A intuição passa a ser uma fonte saudável de informações e a consciência desperta é livre, sabedora de que não perderá sua paz em nenhuma circunstância. 

Os indivíduos têm transformado meios, como dinheiro, profissão, carreira, família etc. em fins. Tudo isso é meio para crescer em consciência, para estar fazendo o seu melhor, para encontrar aquilo que se programou fazer na Terra. Quem não está vivendo em pleno regozijo, satisfeito com seus feitos a cada dia, provavelmente não está no seu melhor e deveria se arriscar, mudar.

Segundo Osho, em o Livro dos Homens, p. 273:

“Viver perigosamente significa viver. Se não viver perigosamente, o homem não vive. O viver prospera apenas no perigo. O viver nunca prospera na segurança, e sim apenas na insegurança.

Se o homem começa a se sentir seguro, torna-se um poço estagnado. Em seguida, sua energia não se desloca mais. Depois fica com medo, porque nunca se sabe como se faz para ir para o desconhecido. E por que correr o risco?”

Sob imposições dos meios de comunicação e do seu superficial entorno, as pessoas vêm buscando conforto, e não experiências, e não vida. Elas apenas sobrevivem nas suas redomas confortáveis, mas tediosas, estagnantes, e, quando desencarnarem, terão talvez túmulos confortáveis; mas, e a aprendizagem? E aquilo que vieram fazer na encarnação? E aqueles desafios que deveriam ser enfrentados? Ficarão para a próxima encarnação. 

Muitos espíritos vêm e voltam diversas vezes e quase nada realizam, pois eles buscam segurança, descanso, conforto. Arriscar é perigoso demais. “E se eu não tiver como sustentar minha família?” A culpa é sempre dos outros, e não de ele ser um adulto medroso, inseguro. 

A vida se torna uma buscar por repetir estados de segurança financeira e familiar, pois a falta de dinheiro e de pessoas a sua volta é amedrontadora. 

Não se fala aqui de viver desistindo das coisas por se entediar muito rapidamente ou viver fugindo de responsabilidades sob o argumento de que se é versátil, um aventureiro. É preciso ser um guerreiro, audaz, disposto ao risco, mas sem se tornar um kamikazi irresponsável. Deve-se encontrar um caminho de lucidez dentro do paradoxo. 

O espírito Erê Yariri explica, no Diálogo com os Espíritos n. 183, que não se deve buscar o equilíbrio tal qual ele é pensado na Terra, como uma coluna do meio, pois a mistura do preto com o branco se torma cinza:

http://youtu.be/D44IVb8a9tQ

Deve-se buscar desatar os supostos nós dos paradoxos com visões cada vez mais lúcidas, ou seja, qunto mais luz, quanto mais amor se coloca em tudo, mais adequados ao propósito encarnatório serão os resultados. É necessário encontrar saídas que comunguem, por exemplo, a estabilidade financeira à imprescindibilidade de se obter novos aprendizados, de se caminhar para aquilo que se sente. 

Se alguém sente há muito tempo que deve fazer algo, não deveria demorar tanto para fazê-lo. Mesmo que gaste toda a aua reserva bancária, que venda seus imóveis, não se deve ir contra aquilo que se sente. Não se trata de passar fome, de jogar absolutamente tudo para cima, pois muitos que estão passando por essas crises estão longe disso. 

Os apegos às posses, desejos e paixões cegam as pessoas e lhes fazem crer que tudo o que fazem é para proteção de quem amam, sendo o amor aí visto, muitas vezes, também como posse. Em vez de amar de modo livre, puro e incondicional, transforma-se essa ideia de puro amor que move o cosmo em um amor de apego, de “meu marido”, “minha esposa”, “para a vida toda”, gerando expectativas que não podem ser cumpridas e que provocam em diversos casos muita dor, sofrimento e desvio do programa encarnarório. 

Os paradigmas socioculturais vigentes subverteram a lógica espiritual. Entende-se como obviedades da vida ideias que são futilidades e apegos segundo os olhos espirituais, dificultando o entendimento entre pessoas que estão se aproximando do Eu superior, do olhar do espírito, e pessoas que ainda estão presas ao ego, ao material. 

Não adianta exigir algo que alguém não pode dar. O caminho, às vezes, é manter certa distância e tentar contribuir para que aqueles presos ao ego consigam se desprender um pouquinho e, com novos lampejos de consciência, passem a enxerger um mundo que parecerá completamente novo. 

O despertar exige coragem, exige quebra, pois é um ropimento de paradigmas. Despertar a consciência leva a ver, muitas vezes, que o que se tinha por certo é mais falso do que uma nota de 15 reais, e isso gera medo também. Poucos estão dispostos a descobrir que viveram 20, 30, 50, 70 anos presos a ilusões e limitações falsas, a necessidades inexistentes, a prisões criadas pelas suas próprias mentes. 

Se souberem, contudo, que, ao passarem essa fase de transição, vem um eterno período de paz e felicidade natural, talvez estejam dispostos a arriscar. Para que saibam disso, provavelmente o melhor modo de convencer é não tentar fazer isso. Impor gera bloqueio. O exemplo gera interesse, curiosidade, vontade de imitar. 

Que mais pessoas possam despertar e, pelas suas obras, outros a sua volta decidam seguir os seus exemplos, ainda que por caminhos próprios, pois cada um é seu próprio mestre. Parece que assim será a transmutação das energias neste século XXI, que levará o planeta para uma nova fase. 

 

Marcos de Aguiar Villas-Bôas é espiritualista universalista, reikiano usui, reikiano xamânico, estudante de psicanálise, praticante de meditação e amante do todo e de todos. Deixou a sociedade de um dos maiores escritórios de advocacia do país, sediado em São Paulo/SP, para seguir seu sonho de realizar pesquisas em Harvard e em outras universidades estrangeiras, mas, após atingir muitos dos seus objetivos materiais, percebeu, por meio da Yoga, de estudos e práticas espiritualistas sem restrições religiosas, que seus sonhos e suas missões iam muito além da vaidade acadêmica. Hoje busca despertar a consciência, o mestre dentro de si, e ajudar os outros a fazer o mesmo. 

Redação

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  1. Felicidade
     

    “É no caminho para a  felicidade que se encontra a resposta para o que se veio fazer nesta terra”

    (Richard Bach)

    Sobre a felicidade

     

    Tendo-a encontrado, que se  agradeça e conserve, porque a felicidade reside no contentamento.

     

    Sobre largar tudo e viajar para “conhecer o mundo”

     

    “Sem passar da porta de casa, é possível saber o que acontece no mundo… Quanto mais longe se busca o saber, menos se aprende.”(Lao Tzu)  Sobre sair da rotina para ser feliz 

    “A felicidade está na rotina” ( provérbio chinês)

    Quem troca tudo por uma aventura inconsequente age como o mais irresponsável dos jogadores.

    Que arrisque a si ou o que é seu, é válido até.

    Que arrisque família e perspectiva de vida é manutenção de insegurança e insatisfações contínuas.

    Em resultado às recomendações do livro dos homens do osho sobre “viver perigosamente” , temos a insegurança social, as crises financeiras, o medo do homem infundido pelo seu semelhante, as guerras, a fome,  as drogas, as doenças, a criminalidade urbana, o desabrigo,  os refugiados do mundo, os sem-teto, os perseguidos políticos… Tudo gente que saiu da segurança e da rotina. Amigo, o próprio sistema já se encarrega de nos tirar da rotina, do tédio e de nos proporcionar profunda infelicidade se não estivermos alertas.Não se estabelece ou se mantém uma sociedade estável sujeitando-a a constantes riscos. 

     

     

     

          

  2. o verdadeiro risco

    ” Os fatos deveriam moldar suas crenças, nunca o contrário”

    O unico risco verdadeiro é acordar a cada manhã disposto a colocar suas crenças e convicções em xeque. Disposto a moldar suas crenças em conformidade com os fatos.

     

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