Outro inverno de 20 anos?, por Johnny Gonçalves

por Johnny Gonçalves

Estive lá e vi com meus próprios olhos. A manifestação do dia 4 de setembo na Paulista foi muito mais abrangente que o PT ou o “Volta, Dilma!”.

Pedia-se eleições, democracia, fim do golpe. O carro de som reforçava (sem necessidade) o caráter pacífico do ato, para que a multidão não aceitasse as provocações da polícia – esta, sim, motivo de temor. Durante mais de três horas, as ruas foram inundadas por um mar estudantes, trabalhadores, aposentados, professores, intelectuais, excluídos, brasileiros de todos os tipos. Enquanto manifestantes chegavam à Henrique Schaumann, ainda tinha gente saindo da concentração no MASP. Foram mais de 100 mil só em São Paulo, um movimento que já tomou as ruas do Brasil e tende a crescer.

Não adianta demonizar, enganar as pessoas. Criminalizar protestos pacíficos é coisa de ditadura. Nos anos de chumbo fizeram o mesmo: chamaram de baderneiros, subversivos, baixaram o porrete. Levaram à resistência armada e usaram-na para justificar seus abusos. A Globo reforçava a narrativa anti-comunista em tempos de Guerra Fria, anestesiava os simplórios e incendiava o espírito dos fascistas, enquanto matavam e torturavam nos porões do DOI-CODI. Isso deve se repetir agora com roupagem moderninha e níveis preocupantes de alarme, mas não viveremos novamente um inverno de 20 anos.
A PM atirou bombas e balas de borracha somente após o final do ato, no Largo da Batata já quase esvaziado, um espetáculo truculento preparado para a TV, uma dobradinha da velha mídia com o governo autoritário de Alckmin. Vi policiais com sangue nos olhos, mas também notei aqueles que visivelmente se envergonhavam, trabalhadores como a maioria dos manifestantes, pais de família sob ordens de um comando político abjeto. O repórter mentiroso da Globonews estava lá, de plantão, quando eu já chegava em casa, para distorcer a realidade e ludibriar corações e mentes. Quem vê os protestos pela TV e pelos grandes jornais não tem a menor ideia do que está ocorrendo. Durante o ato cívico gigante, absolutamente pacífico (repito), nenhuma chamada na telinha, nenhuma chance de compreender a dimensão histórica do que houve.

Não vai funcionar. A mentira pode até colar por um tempo curto, mas será desmascarada. Hoje, quem busca entender esta crise dispõe de informação em diversas fontes. Por meio dos Jornalistas Livres e da Mídia Ninja, vimos a PM de Alckmin atirando bombas e espancando sem necessidade, enquanto uns poucos maluquetes quebravam lojas impunemente, nas suas barbas. Já vimos olhos perfurados, velhos e crianças sob ataque desmesurado. E muito além de qualquer noticiário, depois da perda de direitos sociais, queda dos salários, compressão das aposentadorias, degradação dos serviços públicos e abafamento da corrupção, creio que a própria realidade de cada um funcionará como um pavio aceso. Milhões de pavios na vida real.

Temer não deve se sustentar no poder, mesmo que enverede pelo autoritarismo, como parece querer em sua aliança com os governadores golpistas. Tentará fazer o serviço sujo encomendado pelos tucanos, pela banca, pela elite branca à qual pertenço, cuja menção provoca arrepios. Será um arremedo de serviço, uma obra meia-boca e felizmente incompleta, de um governo ilegítimo e acuado. O mantra do ajuste fiscal e da reforma previdenciária não vai pegar, é questão de tempo. Por que os mesmos sempre têm que pagar o pato? Vivemos outros tempos, a tragédia que se repete como farsa incendiará o Brasil (no bom sentido). O bicho vai pegar e será pela via das multidões cada vez mais conscientes do estrago que este processo farsesco causou e ainda pretende causar.

Redação

6 Comentários

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  1. Quando vejo um papalvo

    Quando vejo um papalvo repetir “Nossa Bandeira jamais será vermelha” diante de manifestações de alta voltagem política, é que percebo a fragilidade dos alicerces golpistas. Não têm pensamento, seus cérebros só servem para armar arapucas, nas quais são especialistas de alta tecnologia. Não servem para desenvolver idéias positivas e fundamentadas. Já uma derrota em batalha de idéis poderá ser encoberta pela mídia, assim como a truculência medieval das repressões. O Brasil vai sofrer muito. Miamar de antigamente poderá vir a ser um modelo ideal para uma ditadura aprofundada, o que sugere isolamento. E se os EUA apoiarem abertamente este regime que promete ser tenebroso, correrá o risco de uma desaprovação mundial importante, já que a imprensa familiar brasileira pode desencadear um golpe de estado, mas não pode sustentar por eternamente mentiras políticas primitivas em um país da dimensão do Brasil. 

  2. Greve Geral

    É preciso interromper a implantação do sistema fascista.

    Greve Geral para derrubar essa tirania e reconstruir um novo Estado Democrático de Direito.

  3. Quem mandou apagar as luzes

    Quem mandou apagar as luzes da passagem da Paulista para a Rebouças? Um ato de terrorismo fácil de desmascarar, se quiserem…

  4. Inverno de 20 anos? sejamos realistas

    O regime militar durou 21 anos porque era uma ditadura escancarada, não eleita. A ditadura civil ora iniciada, revestida de um simulacro de legalidade, será uma era glacial de no mínimo 40 anos. 

  5. Até 2018, depois esperam a volta dos tucanos

    Ando tão triste com que vem ocorrendo com o Brasil. Sera possivel que esse grupo no poder junto com a midia vai conseguir enganar os brasileiros por muito tempo ainda ? Não acredito nisso. O pacto é obvio é para ir até 2018. E daqui até la, Temer vai tentar se sustentar no poder de todas as maneiras que puder. E esta claro que Alckmin é candidatissmo às proximas eleições presidenciais e parece que de alguma forma passou um pacto com Temer. Sei que ha Serra no meio do caminho, mas para esse consorcio, o que importa é ter um tucano dirigindo o Pais.

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