Passe Livre não é contra nem a favor do impeachment

Da Agência Brasil

Impeachment não está no centro das preocupações do Passe Livre, diz militante

Por Daniel Mello

Movimento Passe Livre protesta em SP contra aumento de tarifas do transporte (Rovena Rosa/Agência Brasil)Rovena Rosa/Agência Brasil O Movimento Passe Livre (MPL) deu início às mobilizações que, em junho de 2013, levaram milhares de pessoas às ruas em São Paulo e a passeatas em todo o país. Defensor do transporte público gratuito, o movimento organizou protestos contra o reajuste das tarifas de ônibus, trens e metrô na capital paulista. Os reflexos daquele momento podem ser percebidos ainda hoje, diz o filósofo e professor de gestão de políticas públicas da Universidade de São Paulo (USP), Pablo Ortellado, que coordena pesquisas sobre as manifestações de rua. “A partir de 2013, com a dimensão que ganhou, a mobilização de rua se volta para o repertório político”, afirma, em entrevista à Agência Brasil.

Apesar das diferenças ideológicas, Ortellado vê influências do Passe Livre nas organizações que promovem atos pelo impeachment da presidenta Dilma Rousseff. O Vem Pra Rua usa como nome um dos gritos usados pelo MPL nas manifestações de 2013, enquanto o Movimento Brasil Livre (MBL) tem “uma sigla que se confunde com o MPL de propósito”, acrescenta o professor.

“Apanhamos do PT e do PSDB”

O Passe Livre não tem, no entanto, agido para apoiar o impeachment, nem para contestá-lo nas ruas. “O momento faz parecer que há uma briga entre a esquerda e a direita quando, na verdade, parece para a gente que já apanhou de governos tanto do PT quanto do PSDB, é uma coisa de gente igual brigando”, diz uma das integrantes do movimento, Laura Viana (22 anos), a partir das discussões feitas internamente pelo MPL sobre a atual conjuntura política. Ao se opor ao aumento do preço das passagens, o movimento tenta pressionar tanto a administração petista, o prefeito Fernando Haddad, para que administre os contratos das empresas de ônibus, quanto a tucana, do governador Geraldo Alckmin, responsável pelas companhias que fazem o transporte sobre trilhos.

“Tendo impeachment ou não, o Estado vai bater nos movimentos sociais como sempre”, afirma a estudante de artes plásticas. O que realmente chama a atenção do MPL é o papel central que as forças policiais estão tendo no desenrolar dos fatos políticos recentes, muitos conectados com as investigações de corrupção na Petrobras.

“O que gente vê de muito preocupante no momento é esse processo de judicialização da política, a força que a polícia vem ganhando. Essa coisa de a Polícia Federal estar aparecendo como heroica. Isso é muito preocupante para a gente, como movimento social, que vem sendo criminalizado desde sempre. É uma coisa que a gente conversa inclusive com outros movimentos sociais”, acrescenta a militante.

O protagonismo das forças de segurança está ligado, na avaliação de Laura, ao processo de descrença nas instituições políticas tradicionais. “Parece que com esse processo de perda de fé na classe política, agora quem está ganhando espaço, principalmente na mídia, é a polícia. Não é uma coisa escancarada do tipo vai ter uma nova ditadura militar. Mas a gente vê que é uma instituição que ganha muita força entre a população”.

Para ela, a questão do impeachment não está, entretanto, no centro das preocupações do movimento. “Essa população que era maioria, que foi pra rua em junho e que tem ido para a rua com a gente nos atos contra o aumento [das tarifas]. Essa maioria ainda não saiu de casa. A gente vê que são pessoas que não estão se sentindo representadas por nenhum dos lados da polarização. É com essas pessoas que estamos desde sempre”, afirma a ativista. “Sabemos que vão ser tipos diferentes de governo [caso aconteça o impedimemto]. Mas a gente sabe também que a nossa organização tem que permanecer lutando da forma que já faz, que é manter a luta com quem está embaixo”.

Impostos

O MPL tem posição contrária à da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que vem defendendo o corte de impostos. A entidade tem apoiado os atos pela saída da presidenta, a partir da campanha que pede a redução da carga tributária e que tem como símbolo um pato amarelo. “A gente sabe que esse tipo de imposto, se for cortado da população mais rica, vai cair sobre a população mais pobre. Então, isso é sempre muito preocupante”, alerta Laura.

Uma das principais propostas do movimento é a tributação específica da parcela mais rica da população, como forma de garantir o transporte gratuito universal – o passe livre. “O que a gente sempre cobra do Estado é que os ricos paguem mais, porque eles já ganham em cima do nosso trabalho, não é justo que a gente tenha que pagar ainda mais”, ressalta a militante.

Sobre a influência que o MPL exerceu sobre outras organizações políticas, Laura afirma que isso faz parte da história dos movimentos sociais no Brasil. ”Assim como nós aprendemos muito com outros movimentos, muitos movimentos aprenderam com a gente. Tanto a esquerda sentiu que precisava mudar os próprios métodos, como o pessoal pró-impeachment, mais de direita, sentiu também”.

“O MPL não inventou a roda com manifestação de rua. Vários movimentos sociais já faziam esse tipo de manifestação. Em 2013, foi a coisa certa no momento certo”, completa Laura. A análise é semelhante à do professor Pablo Ortellado. Para o especialista, os atos de junho de 2013 foram o ápice de uma movimentação que começou no início dos anos 2000, de retorno das mobilizações de rua, que perderam força após a década de 80.

“O Brasil foi muito mobilizado no fim dos anos 70, início dos anos 80. A gente teve muitas mobilizações de rua. E esses movimentos que estavam na base dessas mobilizações terminaram se institucionalizando por meio do Partido dos Trabalhadores. O processo de institucionalização foi também uma gradual desmobilização das ruas, em um processo pelo qual se colocou ênfase dos meios institucionais”, diz Ortellado.

Na opinião do professor, os eventos daquele ano foram, no entanto, completamente excepcionais. “2013 acontece a cada 50 ou 100 anos. São aqueles grandes terremotos políticos que rompem o país”, acrescenta, ao comparar com o processo vivido pela França em maio de 1968, quando o país europeu passou por uma onda de greves, manifestações estudantis e revoltas populares.

Legado de 2013

Além de conseguir impedir o aumento das tarifas do transporte público em São Paulo e no Rio de Janeiro, os movimentos se expandiram, segundo Pablo Ortellado, para ideais menos imediatos, porém com forte ressonância social. “Junho de 2013 foi uma experiência concreta para uma parcela expressiva da população que foi às ruas se manifestar, basicamente por duas coisas: direitos sociais e crítica ao sistema de representação. Esse duplo legado que tem sido explorado por diversos grupos”, acrescenta o professor ao comentar como a expansão dos protestos contra a tarifa levou ao surgimento de reivindicações contra a corrupção e por melhoria dos serviços públicos.

“Essa ideia de que o sistema está corrompido, de que os lastros que ligam a representação com a cidadania brasileira se romperam. Então, o sistema está crescendo em ilegitimidade. Esse outro legado de junho de 2013 que foi explorado pelos grupos à direita”, destaca Ortellado ao falar sobre como o Passe Livre influenciou as recentes movimentações contra o governo.

Por outro lado, o MPL também está, de acordo com o professor, diretamente ligado ao movimento dos estudantes da rede pública que ocuparam escolas em todo o estado de São Paulo no ano passado. A mobilização levou à suspensão da reorganização escolar, que levaria ao fechamento de mais de 90 estabelecimentos de ensino. “As primeiras mobilizações dos secundaristas foram fortemente estimuladas por ativistas do MPL. Têm ligação direta, são trabalho de base do MPL”.

Redação

40 Comentários

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  1. Haja alienacao…

    ““Tendo impeachment ou não, o Estado vai bater nos movimentos sociais como sempre”, afirma a estudante de artes plásticas”…

  2. Comentário.

    O ovo da serpente que deu coragem à direita mais raivosa vem dizer sobre um passado que não foi. Ao diabo com junho daquele ano. Da leitura conveniente do MPL àqueles que viram com bons olhos o “apartidarismo aglutinador”, um sub-anarquismo, só sobraram ódio à esquerda, o cheiro de golpe no ar. Também pudera. É como perguntar ao papagaio se gosta de feijoada; a pauta magra não sobra espaço pra ser a favor ou contra o impítim. Trata-se de uma má pergunta para quem não vai tratar do assunto. A pauta de passe livre só aglutina pois impossível. Delírios coletivos à direita e “à esquerda”. Movimento social é MST, por exemplo; MPL é um nada. Por qual motivo se dá voz ao vácuo?

  3. não dá mesmo

    Diretório académico total! Incrivi!

    Essa turma acha que a discussão é impeachment? É apenas o meio para dar um golpe. Quando forem enquadrados como terroristas, apanhar vai ser o menor dos problemas. Esperem sentados que essa lei horrenda que passou vai ficar igual ou com igual interpretação. 

     

  4. O Haddad quiz subsidiar as

    O Haddad quiz subsidiar as passagens em São Paulo. A contrapartida seria a revisão do IPTU. Foi bombardeado de todos os lados.

    Nunca vi este tal de MPL apoiar a proposta do prefeito.

     

  5. Idiotas perfeitos. Já, já

    Idiotas perfeitos. Já, já ,vão pagar passagens sem subsídios como acontece agora na Argentina no governo Macri. Ou são quinta coluna.

     

  6. Conseguem não perceber que

    Conseguem não perceber que por si só um golpe dessa natureza significará imenso retrocesso social… é, PSTU e Luciana Genro não estão sós.

  7. Muito pelo contrário. E

    Muito pelo contrário. E vice-versa. 

    Eita juventude decidida essa de hoje. No meu tempo ninguém ficava em cima do muro, conforme bem expressava o poeta: 

    ……Vem vamos embora, que esperar não é saber/

    Quem sabe faz a hora; não espera acontecer.

    Nem parece as inspirações hodiodernas, tipo: “Tá tranquilo, Tá favorável……..”

    1. A lógica é essa JB. Nem

      A lógica é essa JB. Nem contra, nem a favor, muito pelo contrário! Como dizia o filósofo: “em matéria de principalmente não há como não resta a menor dúvida”.

  8. Muito pelo contrário, que

    Muito pelo contrário, que dizer que estão em cima do muro.

    No fundo são tucanos, com vergonha de se auto intitularem coxinhas.

  9. Bando de imbecis.
    Caso o

    Bando de imbecis.

    Caso o impeachment vingue, vão pegar um aumento brutal de tarifas nas costas, só para deixarem de ser omissos.

  10. Deveriam chamar um filosofo
    Pra achar a raiz da ingratidão desses xaropes. Tudo oportunista.
    Quero ver eles arrastarem multidões por 0,30 sem o apoio das massas.
    Parece até o PSTU….

  11. Deixa eu avisar a criançada

    Deixa eu avisar a criançada do Passe Livre que o golpe já está em curso [1] e numa provável ditadura [2] vocês ficarão sem o todynho. O titio ditador que tomar o poder vai cortar o todynho da garotada o MPL e, de quebra, vai nomear um interventor no MPL, uma tal de KIM Jaspion.

    Ah, e só lembrando que após o golpe o auto-nomeado “Imperador do Brazil Cunha I, o Único” vai acabar com a festa da garotada do Passe Livre. Ele dirá: ” _ Passe Livre?, ora vai pra Cuba.”

    Por último. Hoje na situação que o país se encontra não há neutralidade. Não adianta alegar “sou neutro” não apoio nem A nem B. Hoje, no Brasil, ou se está a favor ou contra o impeachment. E dizer “lavo minhas mãos” significa “dar as mãos aos golpistas”.

    Mas esperar o quê do Passe Livre?

    [1] sim, ESTE impeachement é golpe

    [2] sim, um golpe só sobreviverá se houver um outro golpe posterior transformando o país numa ditadura, pois há de ser muito ingênuo que os apeados do poder no primeiro golpe vão aceitar assim de boa.

  12. Foram eles

    Foram eles que começaram o movimento da direita, em 2013. Passe livre, Coletivo Eixo Quebrado, Black Blocs, todos pagos pela CIA.

    1. Então…

      Pois é, Locatelli, não é contra nem a favor, muito pelo contrario! kkkk Não se comprometer é dose! Em matéria de principalmente não há como não resta a menor dúvida! Olha que frase incrível!

  13. Sendero Nebuloso

    Toda vez que “viajam” e leio sobre o happening de 2013, obra inequívoca da gentileza dispensada pela polícia do Geraldo Chuchu Dei, ao mais do mesmo anual oferecido pelo MPL, transformando-o naquele famoso e fugaz rolezinho de colegiais pelas ruas do Brasil, sobre o MPL e aparece a figura do tal professor Ortellado “da USP”, vem à memória de pronto, sem explicações, coincidências ou qualquer coisa que pudesse conscientemente terem em comum, mesmo quanto a filosofia, a figura de Abimael Guzmán, logicamente como farsa pois impossível de repetir-se, ainda mais por Abimael de tétrico ter passado a patético, enquanto Ortellado, hilário no tema.

    Infelizmente o MPL foi o chocador do ovo da serpente, ressuscitada nas ruas, de vez em quando até dando showzinho porno-político-golpista-paraguaio no púlpito do Largo de São Francisco, além de estraga-festas e cultuadora da viralatice, que tirou dos demais brasileiros a oportunidade de curtirem com auto estima o prazer de anfitriões, à realização dos dois maiores eventos esportivos mundiais, a Copa do Mundo de Futebol 2014 e a Olimpíada do Rio 2106. Crimes de Lesa Pátria, pelos irreversíveis prejuízos não tangíveis causados aos brasileiros.

  14. Se eles acham que sem

    Se eles acham que sem democracia vão poder ir pra rua por R$0,20 ou por mais do que isso, vão se arrepender amargamente. E nós também. O sarrafo, as balas de borracha e o spray de pimenta vão cair m cima, e vai ser prisão pra todo lado.

    A burrice de certos setores da sociedade brasileira é de tal ordem, que acho mesmo que só liquidando tudo e começando de novo. Talvez nem assim, afinal os filhotes dos corruptos e aproveitadores estão aí mesmo, para honrar o pedigree.

  15. Se existia alguma dúvida…

    Agora não tenho mais dúvidas. Na melhorzinha das hipóteses são alienados tipo quinta coluna. Brizola diria que eles estão costeando o alambrado.

  16. Massa de manobra manipulada

    Massa de manobra manipulada pelos EUA. Mereceram cada borrachada que levaram. Eu diria que merecerão cada nova borrachada que ainda estaria por vir, mas se o golpe der certo ninguém nunca mais vai ouvir falar em MPL. “Missão cumprida!”

  17. Só o MPL presta

    Percebam, todos os movimentos sociais que se posicionam contra o golpe são alienados e, pelo jeito, gostam de apanhar de governos do PT: Stédile, Boulos, Wagner Freitas, ninguém se salva. Só o MPL, um grêmio estudantil recém-formado, tem autoridade para conduzir a chama do futuro. Se Hitler garantisse passe livre universal (só o estudantil não vale nem pra começo de conversa), o MPL beijaria a suástica. Heil MPL !!!

  18. Só o MPL presta

    Percebam, todos os movimentos sociais que se posicionam contra o golpe são alienados e, pelo jeito, gostam de apanhar de governos do PT: Stédile, Boulos, Wagner Freitas, ninguém se salva. Só o MPL, um grêmio estudantil recém-formado, tem autoridade para conduzir a chama do futuro. Se Hitler garantisse passe livre universal (só o estudantil não vale nem pra começo de conversa), o MPL beijaria a suástica. Heil MPL !!!

  19. Só vindo para deixar meus

    Só vindo para deixar meus parabéns aos iluminados do MPL.

    Hoje o que os senhores irresponsavelmente começaram avançou ainda mais.

  20. MPL = Vendidos

    Canalhas de fraldas.

    Desconfio que aí rolou verba e apoio americano pra esses imbecis.

    Todo esse “movimento” e a postura declarada, me parecem coisa de quem se vendeu e traiu o seu próprio país.

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